sábado, 21 de março de 2020



21 DE MARÇO DE 2020
MARTHA MEDEIROS

Dar as mãos

A Filarmônica de Berlim liberou sua plataforma digital (digitalconcerthall.com). O usuário pode se registrar com o código BERLINPHIL e ter acesso gratuito a todos os concertos e documentários por um período de 30 dias (o test drive normal é de sete dias, foi ampliado para 30). Em tempos de confinamento, uma gentil oferta da casa.

Muitos jornais liberaram o acesso de seus conteúdos online a não assinantes, a fim de que as informações sobre o coronavírus alcancem o maior número de pessoas.

Em condomínios, há bilhetes de vizinhos nos espelhos do elevador e nas paredes dos corredores: eles se oferecem para ir a farmácias e a mercados para o idoso da porta ao lado.

Além disso, voluntários se predispõem a serem "anjos da guarda" no WhatsApp. Descobrem o contato de alguém com mais de 60 anos que more sozinho e mandam mensagens diárias, perguntando se ele está dormindo bem, se tem algum sintoma, se deseja conversar. Um antídoto afetivo contra o isolamento.

Italianos cantam nas janelas, criando um coro improvisado e garantindo diversão comunitária. Um tenor profissional fez uma apresentação em sua varanda, num andar alto: ópera a céu aberto. Um professor de ginástica foi sozinho para o playground interno do edifício, cercado por apartamentos, e conduziu uma sessão de exercícios para quem o observava de dentro de suas salas.

Há muitas maneiras de dar a mão sem precisar tocá-la fisicamente. Beijos e abraços foram cancelados, mas a solidariedade emergiu, e essa é a boa notícia em meio ao espanto da nova condição mundial. Solidariedade que precisa ser mantida quando as contaminações reduzirem e as sequelas econômicas aparecerem para nos cumprimentar.

Que oportunidade de ouro para sermos mais coletivos e menos individualistas.

Até aqui, era cada um por si, era só o lucro que interessava, era a transferência de responsabilidade que mandava no jogo: "os políticos que cuidem da nação", "os outros que se virem sem mim". Não há mais "os outros", somos um imenso "nós". Eu, tu e eles no mesmo barco. Sem união, a gente vai esticar esse drama por mais tempo do que o necessário.

O que você pode fazer, além de lavar bem as mãos e manter-se em casa? Ler livros. Leitura é hábito privado, não requer um espaço público. Conversar mais com os filhos. Ver filmes. Estudar idiomas. Arrumar os armários. Fazer mais sexo (dizem que ajuda na imunização; se for fake news, não me conte). Tentar se desapegar das redes sociais para não pirar. Tirar proveito da sua introspecção.

Vai passar. E quando passar, que a gente saia dessa melhor do que entrou. Regra básica para qualquer período de transição.

MARTHA MEDEIROS

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