16 DE MARÇO DE 2020
CAROLINA BAHIA
"Brasil acima de tudo" só na teoria
Enquanto autoridades de países da Europa determinam isolamento social, quarentena e fechamento de bares, escolas e fronteiras devido aos efeitos causados pelo coronavírus, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro apoiou a ida de milhares de pessoas às ruas que foram protestar contra o Congresso e a favor do governo. Chegou a participar de um deles, no Eixo Monumental, em Brasília, e até encostou no público que o aguardava em frente ao Palácio do Planalto. Devido ao período de incubação do novo coronavírus, Bolsonaro, que teve contato com infectados durante viagem aos Estados Unidos, terá de refazer o exame, cujo primeiro resultado deu negativo.
Nem o avanço da covid-19 na América Latina, o iminente colapso no sistema brasileiro de saúde e o perigo da doença em pessoas com o sistema imunológico fragilizado foram capazes de sensibilizar o chefe da nação.
Durante pronunciamento em cadeia nacional na quinta-feira, pediu aos organizadores que repensassem os atos "espontâneos e legítimos" marcados para o dia 15, já que um "tremendo recado" havia sido dado para os parlamentares e chefes de outros poderes. Na prática, o presidente quis, com seu discurso, terceirizar a responsabilidade da convocação das manifestações: ontem, em uma série de tuítes com vídeos das aglomerações, Bolsonaro demonstrou que queria mesmo seus apoiadores nas ruas, contrariando orientações do Ministério da Saúde.
Para quem ainda não entendeu a gravidade do problema que o Brasil está prestes a enfrentar, basta observar a preocupação de médicos e de autoridades e técnicos da pasta liderada pelo ministro Luiz Henrique Mandetta. Foi graças à articulação do próprio ministro da Saúde e de sua força-tarefa que o Congresso resolveu liberar R$ 5 bilhões em emendas do relator-geral do orçamento para o custeio de equipamentos e UTIs usados no tratamento de pessoas com a covid-19.
Os bilhões disponibilizados não serão suficientes para conter a crise, e os prejuízos econômicos, reconhece o ministro da Economia, Paulo Guedes, estarão refletidos no próximo PIB brasileiro - mais um ano de estagnação, projetam especialistas.
Na contramão de praticamente todos os governantes do mundo, Bolsonaro continua optando pela irresponsabilidade e pela briga política, provando a seus críticos que vive em uma bolha, descolado de qualquer realidade do país que governa. O "Brasil acima de tudo", de novo, ficou apenas na teoria.
CAROLINA BAHIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário