16 DE MARÇO DE 2020
INFORME ESPECIAL
Empatia, o efeito colateral do coronavírus
Vídeos publicados em redes sociais, no final de janeiro, mostravam moradores de Wuhan, na China, cantando e gritando palavras de incentivo, uns para os outros, a partir das janelas de seus prédios. A cidade que foi o centro irradiador do coronavírus, naquele momento, tentava conter a disseminação da enfermidade e as pessoas eram obrigadas ficar em casa. Era um esforço individual e coletivo para elevar o ânimo da população confinada, assediada pela ameaça microscópica. Uma lição de resiliência.
Cenas semelhantes agora foram vistas em várias cidades da Itália, país europeu mais afetado pelo vírus. Em Salerno, dezenas de pessoas aparecem em diferentes sacadas e janelas entoando o hino nacional. De arrepiar. Em Turim, foi a música Macarena que alegrou uma vizinhança, que cantava e dançava nos balcões. Roma, Nápoles, Agrigento, Florença, Siena, Nuoro e outras viveram experiências parecidas. Diante da adversidade da quarentena, o ser humano se mostra mais uma vez um animal social - apesar do forçado distanciamento social -, capaz de demonstrar solidariedade e apoiar um ao outro. Trancados, cantam e tocam instrumentos pela esperança. Na Espanha, a marca do fim de semana, também em janelas e sacadas, foram as palmas da população para os trabalhadores da saúde.
É difícil saber, neste momento, o quanto o coronavírus se espalhará pelo Brasil e se, em algumas cidades, seus habitantes terão de evitar de ir às ruas e se isolar. O vírus circula pelo país e não tem preferência ideológica na hora de infectar alguém. Ninguém deseja uma situação semelhante à da Itália. Mais vidas estariam em perigo e o sistema de saúde pública seria estressado ao extremo, criando cenas assustadoras. Mas, em uma sociedade dividida e polarizada como a brasileira, ao menos faria bem assistir por aqui gestos de empatia e união diante de um inimigo real e comum. Um analgésico para o ódio.
O domingo mostrou que o exemplo no Brasil não virá de cima, de quem deveria ter a maior das responsabilidades. Que venha então de baixo, da maioria silenciosa.
CAIO CIGANA - INTERINO
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