17 DE MARÇO DE 2020
PERIMETRAL
O vírus da tristeza
A situação é difícil - e também é triste - porque vai contra a natureza humana: somos animais de grupo. Viver em uma cidade é justamente compartilhar espaços, interesses, sensações, atividades. E fazer tudo isso, mais do que saudável, sempre foi inevitável em qualquer sociedade.
Só que agora a coisa mudou. Isso acontece de vez em quando: em raras circunstâncias, como em guerras ou epidemias, o ser humano precisa renunciar à própria natureza grupal para se recolher, se retirar, e assim cumprir estratégias mais solitárias para superar as turbulências.
No caso do coronavírus, que assusta o mundo de ponta a ponta, os reflexos dessa melancólica - mas necessária - tática para evitar contaminações ganham, a cada dia, mais vigor em Porto Alegre. São lojas se esvaziando, escolas fechando, bares silenciando, amigos se afastando: a cidade perde entusiasmo e vibração porque, paciência, precisa mesmo perder.
Já ficou claro. Quanto antes as pessoas interromperem - ou, no mínimo, reduzirem - o contato social, maiores serão as chances de dissipar essa tensão. Os países que conseguiram frear o avanço do vírus, como Singapura ou Taiwan, fizeram assim. Os que demoraram para fazer, você sabe: veja o horror que assola a Itália.
É difícil viver desse jeito, é triste, é contra a essência coletiva do ser humano. Mas é exatamente para preservar o coletivo (se eu pegar o vírus, por exemplo, talvez nem apareçam os sintomas, mas posso transmiti-lo para alguém do grupo de risco) que a prudência e a consciência são fundamentais.
A cidade precisa ficar mais vazia. Precisa, infelizmente, ficar mais triste.
A cara da rua
Decidi comprar uma patinete porque facilita o dia a dia. Venho de trem lá de Sapucaia, mas aqui,
dentro de Porto Alegre, só me desloco assim. Toco saxofone pelo Centro, na Borges, na Praça da
Alfândega e, às vezes, no fim da tarde, vou para a Orla do Guaíba. As pessoas andam estressadas,
e um bom som anima, alivia a dor. Tem coisa mais relaxante do que música e pôr do sol?
ANDERSON ALVES, O KENNY SAX
Na Avenida Borges de Medeiros
PAULO GERMANO
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