16 DE MARÇO DE 2020
CLÁUDIA LAITANO
Torcedores
Amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos. Todo mundo cada vez mais interessado em falar sobre política e em manifestar publicamente suas afinidades ideológicas da forma mais enfática possível. Isso mostra que a democracia nunca funcionou tão bem. Certo ou errado?
Para o cientista político americano Eitan Hersh, que acaba de lançar o livro Politics is for Power, o fato de o engajamento ter se tornado uma espécie de hobby intelectual de pessoas que se consideram bem informadas é uma péssima notícia. Tempo e energia que vêm sendo desperdiçados em bate-bocas inúteis nas redes sociais ou em brigas de família, supostamente em nome de grandes ideias e princípios, não apenas não estão melhorando a chamada "velha política", sustenta Hersh, como provavelmente estão contribuindo para deteriorar ainda mais o debate público. Viramos todos torcedores.
A diferença entre o torcedor de futebol e o fanático político é que o primeiro sabe que torcer pelo seu time funciona como uma espécie de catarse emocional. O sujeito sofre, grita, xinga, comemora, sem esquecer que toda aquela excitação coletiva não vai realmente mudar a ordem das coisas - ou sequer alterar o resultado do jogo. Futebol é espetáculo, e torcer se torna um fim em si mesmo.
Já quem consome e compartilha notícias de política, verdadeiras ou falsas, com a paixão de quem acompanha um reality show imagina estar se comportando como um cidadão responsável e racional, quando na verdade está mobilizando um tipo de emoção muito parecida com a do torcedor que vai ao estádio assistir a um espetáculo. E, quanto mais a política se transforma em circo, mais os políticos agem como palhaços para agradar a sua plateia.
Já quem consome e compartilha notícias de política, verdadeiras ou falsas, com a paixão de quem acompanha um reality show imagina estar se comportando como um cidadão responsável e racional, quando na verdade está mobilizando um tipo de emoção muito parecida com a do torcedor que vai ao estádio assistir a um espetáculo. E, quanto mais a política se transforma em circo, mais os políticos agem como palhaços para agradar a sua plateia.
Hersh acredita que a política "às ganhas" é feita por quem defende os interesses da sua comunidade ou grupo social colocando a mão na massa, ou seja, agindo e disputando fatias reais de poder no mundo bastante real dos problemas concretos. Trabalhar por um candidato, uma ideia ou uma causa implica estruturar o pensamento, traçar estratégias, negociar, ceder e principalmente ouvir. Enfim, exige esforço. Já para ver um palhaço botando fogo no circo basta sentar no sofá e assistir. Com raiva ou - vai entender - satisfeito.
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