terça-feira, 24 de março de 2020


24 DE MARÇO DE 2020
DAVID COIMBRA

O número mágico para vencer o coronavírus

Nós estamos certos na tática e errados na estratégia neste combate ao coronavírus. A tática (correta) é o isolamento físico das pessoas, a tentativa de evitar aglomerações humanas. É sempre essa a primeira medida tomada em casos de doenças contagiosas em qualquer período da história do mundo. Trata-se de uma ação (ou inação) realmente importante.

Mas apenas paliativa.

A solução definitiva seria encontrar a vacina que previne ou a droga que cure. Não havendo nem uma nem outra, como agora, é preciso pensar nas características de cada comunidade que enfrenta o mal para definir como derrotá-lo.

É esse o ponto.

Gosto daquele gráfico que ilustra a natureza da luta contra o coronavírus, a curva da capacidade do sistema de saúde versus a curva da velocidade de contágio do vírus. É bastante didático, demonstra que ali está tudo que importa.

Pois bem. Nós estamos agindo fortemente na curva da velocidade do contágio, tentando diminuí-la através do confinamento, o que é bom, mas agindo debilmente na curva da capacidade do sistema de saúde, o que é ruim.

No âmbito federal, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem provado seu conhecimento e sua competência durante a crise, mas o inepto Bolsonaro insiste em atrapalhá-lo. A última patacoada desse despreparado presidente, baixando à meia-noite uma medida para permitir a suspensão por quatro meses do pagamento de salários, causou mais pânico ao trabalhador do que a possibilidade de contágio pelo coronavírus. O ideal, então, é tentar se concentrar no nosso arrabalde, o Rio Grande do Sul.

Segundo o boletim oficial do governo, por volta do dia 6 de abril, o Estado terá 4.340 casos de coronavírus, considerando o cenário extremo. A maioria dessas pessoas, porém, estará assintomática. O mesmo relatório indica o número dos que ocuparão leitos de UTI, pensando sempre no pior, que é a melhor maneira de planejar: 217 pacientes. O Rio Grande do Sul tem cerca de 1,8 mil leitos de UTI, mas eles, obviamente, já estão ocupados, porque as pessoas continuam tendo outras doenças que não o coronavírus. Assim, o número mágico é esse: 217. O Estado tem de preparar mais 217 leitos de UTI até o dia 5 de abril.

Falei ontem com o governador Eduardo Leite. Ele concordou com meu raciocínio e informou que a meta é estabelecer mais 216 leitos nos próximos dias. Claro que não é o que basta. Há outros recursos humanos e materiais a levantar. Mas confio que Eduardo Leite dará conta dessa tarefa. Ele já demonstrou possuir uma das maiores qualidades que um político deve ter: é um aglutinador.

Se Eduardo Leite, em parceria com o prefeito Marchezan, usar a liderança que o voto lhe concedeu e mobilizar a sociedade, se convocar empresários, líderes comunitários, pessoas influentes do Estado para que essa meta seja alcançada, se a sociedade gaúcha se organizar e se unir, nós conseguiremos fazer nesta crise terrível o que fazemos no futebol: seremos vencedores. Seremos campeões. Nossas façanhas, enfim, servirão de modelo a toda terra.

DAVID COIMBRA

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