28 DE MARÇO DE 2020
DUAS VISÕES
Reflexões à beira do caos
Idealmente, se o isolamento de cada pessoa fosse possível, a pandemia se transformaria imediatamente em um mosaico de surtos localizados que, tratados, se resolveriam em poucas semanas, essencialmente pela própria capacidade imunológica dos afetados. O impacto humano seria mínimo, o impacto social e econômico também.
No outro extremo, o não isolamento leva à ampliação geométrica do número de pessoas contaminadas, que, em pouco tempo alcança a população como um todo. Duzentos milhões de brasileiros contaminados geram 20 milhões de pessoas hospitalizadas (10%) e 4 a 8 milhões de óbitos diretos (2% a 4%). O impacto econômico se torna gigantesco, o impacto humano e organizacional é comparável a uma grande guerra e, com certeza será sucedido por uma profunda reorganização política e social.
O isolamento estrito, no nível que for possível, é certamente a única opção e foi finalmente compreendido por todos. Temos exemplos claros de como a demora nesse reconhecimento leva ao caos.
Estamos vivendo exemplos claros dos ensinamentos dos mestres de todos os tempos e linhagens desde o Buda. A impermanência é visível e atinge todas as manifestações das nossas vidas. Todas as tradições espirituais apontam para a verdade da natureza profunda em nós, lúcida e luminosa, que não flutua, que não é afetada pelo tempo, está além das identidades e de vida e morte. Nossa fonte verdadeira paira além do conteúdo das aparências. A desconexão com essa natureza é a fonte verdadeira da nossa aflição. Dessa desconexão surgem as bolhas de realidade, a destruição ambiental, a disparidade social, étnica e econômica, a violência, a drogadição. Surge a política do ódio e exclusão. Quando o que pensamos como progresso afeta a própria vida, este é o tempo em que o futuro dos jovens se torna nebuloso, sombrio, impreciso.
Estamos aprendendo a meditar e a pensar em conjunto. A vida está a se reinventar.
O paradigma econômico se revela incapaz de lidar com as circunstâncias. Com as atividades econômicas se reduzindo, os entes financeiros se transformam em pedintes. As pessoas, os governos, as organizações lúcidas e empresas compassivas abandonam as prioridades antigas e as substituem por solidariedade, criatividade, compaixão e visão ampla.
Ainda que as escolas e universidades tenham se fechado, e os templos, seguimos aprendendo como nunca, e ficamos mais inteligentes. Essa energia logo se transferirá para a construção de uma civilização sustentável e equilibrada. Nada será como antes.
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