quarta-feira, 25 de março de 2020



25 DE MARÇO DE 2020
DAVID COIMBRA

O que descobri a seu respeito

Eu não fazia ideia de que vocês eram tão... assim... infecciosos. Estou chocado. Foi a crise do coronavírus que me levou a questionar quantos outros minúsculos animaizinhos vocês carregam por aí. Então, descobri que há 10 vezes mais micróbios no SEU corpo, leitor, do que a quantidade de suas células. Ou seja: você hospeda nada menos do que 100 mil trilhões de micróbios. Já pensou? Cem mil trilhões de bichos vão com você para a cama todas as noites. Sabe que número é esse? O seguinte: 1.000.000.000.000.000.000.

Se todos esses SEUS micróbios forem reunidos e postos num prato de balança, você descobrirá que eles pesam UM QUILO! Para ver como você nem está tão gordo.

Imagino que você deva estar correndo para o banho agora mesmo, diante dessas informações. Faça isso. É uma boa ideia. Mas sei que, ainda assim, você continuará infestado de microrganismos e os transmitirá com apertos de mão e espirros e com as milhares de gotículas que expele ao falar.

Sendo assim, tomei uma decisão: não apertarei mais mãos. Mesmo depois de terminada a quarentena, cumprimentarei a todos com reverências de cabeça, ao estilo japonês.

A propósito, dê uma olhada no Japão: lá não há confinamento rigoroso, como em outros lugares. E a epidemia está razoavelmente controlada. Por quê? Porque eles não apertam mãos! Os japoneses não se tocam. Se um japonês está atrás de você e quer lhe chamar a atenção por algum motivo, para avisar que você deixou sua carteira cair no chão, por exemplo, esse japonês jamais lhe dará um tapinha no ombro. Não. Ele apressará o passo, se postará diante dos seus olhos redondos de ocidental e dirá, educadamente, pedindo desculpas pelo incômodo, que sua carteira, com todos aqueles dólares dentro, caiu.

O japonês é o povo mais civilizado do mundo.

Há duas formas inequívocas de avaliar o nível de civilização de um povo: observe a qualidade das suas calçadas e dos seus banheiros. Calçadas retas, onde se pode caminhar com segurança, e banheiros amplos e limpos mostram muito a respeito de um país. O Japão, e também a Coreia do Sul, são ótimos em banheiros. Visitei, na Coreia do Sul, aquele que leva o coruscante título de "O Banheiro Público Mais Limpo do Mundo". Há flores naquele banheiro, e os passarinhos gorjeiam por lá.

Quanto ao Japão, já contei várias vezes a história do vaso sanitário japonês. Ou, como diria o repórter Carlos Wagner, a patente japonesa. Pois essa patente, imaculadamente alva, tem um painel de controles acoplado. Neste painel há vários botões, um deles que aciona um jato de água quente com pontaria extremamente precisa, que promove a higiene íntima do usuário e até certo contentamento envergonhado. Experimentei a patente japonesa, aprovei-a com entusiasmo e desde então sonho em instalar uma aqui em casa, mas ainda não chegamos ao nível de refinamento cultural do japonês.

Mesmo assim, dentro das minhas limitações ocidentais procurarei imitar os japoneses e, a partir de agora, não aperto mais a mão de ninguém, não insista. Fiquem vocês com seus microrganismos e me deixem com os meus. Certas trocas, melhor evitar.

DAVID COIMBRA

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