domingo, 11 de dezembro de 2016

O Impa oferece uma aula de má aritmética

Rubens Valente/Folhapress
Mendonça Filho (DEM-PE), em entrevista na Câmara dos Deputados
Mendonça Filho (DEM-PE), em entrevista na Câmara dos Deputados
Diante dos resultados desastrosos da educação brasileira, o ministro Mendonça Filho reconheceu que se vive uma "tragédia" e ensinou: "Não basta só investir mais, tem que investir com qualidade". Até aí tudo bem, mas seria o caso de ele estudar um caso em que, tendo investido em qualidade, o governo desmontou um sucesso. (Em tempo: não foi o governo dele, mas o da doutora Dilma.)

Em 2015 o país soube da emocionante história das trigêmeas Fábia, Fabiele e Fabíola Loterio, de 15 anos, que viviam em Santa Leopoldina, município de 12 mil habitantes da zona rural do Espírito Santo. Morando numa casa sem internet, inscreveram-se na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas e duas empataram no primeiro lugar entre os concorrentes capixabas, levando medalhas de ouro. A terceira ficou em segundo com a prata.
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A garotada da cidade fez um pedágio e arrecadou dinheiro para custear a viagem das três ao Rio, onde receberiam suas medalhas no Teatro Municipal. Foi a primeira vez que entraram num avião.

A cereja desse bolo era o acesso de todos os medalhistas ao Programa de Iniciação Científica. Dez vezes por ano elas iam a Vitória, onde durante um dia assistiam a aulas dadas por professores da Federal do Espírito Santo.

Havia um detalhe meio girafa nessa iniciativa. Ela nascera de uma ideia da Sociedade Brasileira de Matemática, mas tanto a Olimpíada como o PIC foram anexados ao Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, um dos centros de excelência da academia brasileira. O que uma coisa tinha a ver com a outra nunca se soube. Em 2016, o orçamento da Olimpíada (R$ 53 milhões) ultrapassou de muito o do Impa (R$ 36,5 milhões). O rabo ficou maior que o cachorro.

Num passe de mágica, os educatecas sumiram com a alma do PIC, substituindo-o por um programa de incentivo a professores. Pode ser a melhor ideia do mundo, mas não tem nada a ver com o objetivo inicial do PIC. Uma das explicações diz que o programa era caro (R$ 12 milhões), e a ida dos medalhistas às universidades foi substituída por aulas em escolas locais. Além disso, criou-se um sistema de ensino a distância. Esse PIC 2.0 custa R$ 9 milhões.

Neste ano as trigêmeas de Santa Leopoldina, hoje matriculadas num instituto federal, não tiveram aulas presenciais e o gatilho da internet não ficou à altura do programa anterior. Mesmo assim, na Olimpíada deste ano Fabiele ganhou mais um ouro, Fabíola teve prata e Fábia, bronze. Sem o PIC, a Olimpíada de Matemática é apenas um evento, tão ao gosto da marquetagem.

Toda essa história chega a um grande final quando a coordenação do programa informa que no ano que vem, com a verba de R$ 9 milhões, o PIC 1.0 será restabelecido (sem o custeio do transporte, típica malvadeza de burocrata), convivendo com o 2.0.

Daqui a alguns meses o Instituto de Matemática informará como R$ 12 milhões caberão em R$ 9 milhões. Caso único em que o todo será menor que a soma das partes.

PISCOU
Durante a crise dos mísseis russos colocados em Cuba, o mundo esteve com um pé na Terceira Guerra Mundial, e quando Moscou deu meia-volta diante do bloqueio naval imposto pelo presidente John Kennedy, o secretário de Estado Dean Rusk disse: –Eles piscaram.
Por seis votos a três, o Supremo piscou.

DE PIRRO@EDU
Senador Renan. Sou o rei Pirro e ganhei uma grande batalha contra os romanos em 279 a.C. Depois, ferrei-me. Sua vitória deu-me inveja. Fiquei a pensar no que o Supremo Tribunal Federal fará com o senhor quando chegar a hora do julgamento de seus processos. Seu amigo solidário, Pirro, rei de Épiro e da Macedônia.

EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e mora ao lado da Borracharia São Jorge, de seu amigo Geraldão. Ele acha que Geraldão vai em cana se passar um dia inteiro recusando-se a assinar uma documento trazido por um oficial de Justiça.

BODE
O piso de 65 anos como idade mínima para a aposentadoria das mulheres, equiparando-as aos homens, é um bode. Está lá para sair da sala.
Quando o ministro Henrique Meirelles afirmou que "nada é inegociável" no projeto, não quis dizer que tudo é negociável, mas a idade das mulheres foi posta lá para ser cavalheirescamente retirada.

REGISTRO
O presidente Michel Temer não militou na articulação da anistia do caixa dois.
Discutia a possibilidade de vetá-la, caso chegasse à sua mesa.

EUA X CHINA
Donald Trump ainda não tomou posse e já deu duas encrencadas com a China. Pelo andar da carruagem, as relações entre os dois países vão azedar. Fora da Ásia, milhões de pessoas que seguem o caso do Brexit não sabem coisas simples sobre a China. Exemplo: a cidade de Guangzhou é aquela que os livros de História chamavam de Cantão. Os antecessores do presidente francês François Hollande foram Nicolas Sarkozy e Jacques Chirac. E os antecessores de Xi Jinping? (Hu Jintao e Jiang Zemin.)

A China é a segunda maior economia do mundo e o maior parceiro comercial do Brasil. Por parecer impenetrável, olha-se para ela como se fosse a Lua. A encrenca de Trump veio para ficar, por isso vale uma sugestão. É o livro "Sobre a China" do ex-secretário de Estado Henry Kissinger, articulador da reaproximação de Washington com Pequim.

Sua primeira parte, sobre a maneira de pensar dos chineses, é chata. A segunda, sobre suas negociações com o Império do Meio, é uma aula. No epílogo, publicado em 2012, ele cautelosamente sugere que a China e os Estados Unidos estavam construindo uma rivalidade semelhante à que separou a Inglaterra da Alemanha na primeira década do século passado. (Em 1914 começou a Primeira Guerra Mundial.) Kissinger não faz previsões catastrofistas, apenas aponta fatos, com notável grau de erudição.

VERDE BANGU
Um gaiato acredita que vai ganhar algum dinheiro vendendo camisetas verdes na orla do Rio durante o verão. Será o Vert Bangu.
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O marechal Floriano e o doutor Renan

Muita gente não gosta de Floriano Peixoto, o "Marechal de Ferro". Em 1892 um senador-almirante e políticos sediciosos desafiaram-no. Ele avisara: "Vão discutindo, que eu vou mandando prender". Encheu a cadeia, e o advogado Rui Barbosa bateu às portas do Supremo Tribunal Federal para soltá-los. Floriano avisou: "Se os juízes concederem habeas corpus aos políticos, eu não sei quem amanhã lhes dará o habeas corpus de que, por sua vez, necessitarão".

Patrioticamente, como diria Renan Calheiros, o Supremo negou o habeas corpus por dez votos a um. Renan, como Floriano, é alagoano e prevaleceu sem comandar um único soldado fardado. 

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