28 de dezembro de 2016 | N° 18726
DAVID COIMBRA
A vizinha nua
Eu tinha uma vizinha pelada. Já devo ter contado isso, mas, sendo evento de tamanha importância, faz-se necessário repetir. Afinal, ter uma vizinha pelada é o sonho de todos os homens. Mas não é só por isso que lembro dessa história. É porque um evento lateral dela é central para VOCÊ, amado leitor.
Bem. Vamos lá. A minha pelada, se é que posso chamá-la assim, era uma pelada clássica: fazia strip-tease em frente ao espelho, com a janela aberta.
Não foi minha única pelada. Uma vizinha do meu amigo Amilton Cavalo cultivava o aprazível hábito de lavar roupa só de calcinha, no tanque da área de serviço. A área de serviço dava para o poço de luz do prédio e a janela do quarto do Amilton se abria para esse poço de luz. O Amilton nos chamava, e nós ficávamos olhando pelas frestas da veneziana, em grande agitação.
Tínhamos, todos, cerca de 12 anos de idade, numa época em que não existia internet e as “revistas de sacanagem” eram raridades que vinham da Suécia, o país do sexo livre. A vizinha era loirinha e baixinha e bonitinha. Devia ter uns 18 ou 19 anos. Um dia, alguém, acho até que o Amilton, nos disse, com grande gravidade:
– Fiquei sabendo que ela não é mais virgem. Arregalamos os olhos: – Não! – Tô dizendo...
Ela se tornou uma imperatriz do sexo, para nós. Quando passava, sempre acompanhada dos caras mais velhos, nós fazíamos silêncio reverente.
Para nós, saber que uma mulher fazia sexo era algo perturbador. Um dia, um guri disse que minha mãe não era mais virgem e dei um pau nele. Desrespeito. Todo mundo sabe que todas as mães são virgens.
Na época, achávamos que havia malícia naquilo de a loira lavar roupa só de calcinha. Hoje acho que havia só calor.
Mas essa era a vizinha do Amilton. A minha vizinha, essa sim, exsudava sensualidade.
Era uma morena da cor do melaço, longilínea, mas de altura mediana. Devia ter entre 25 e 35 anos. Eu morava no terceiro andar; ela, no segundo, no edifício ao lado. Da janela do meu quarto, avistava a janela do quarto dela.
Uma noite, estava concentrado, escrevendo a história lateral da qual falarei em seguida, e, entre um parágrafo e outro, parei um pouco para pensar, olhei pela janela e a vi. Ainda estava vestida, mas não muito. Dançava em frente ao espelho, ondulava como uma serpente encantada pela flauta de um hindu. Cheguei a tomar um susto. Estiquei o pescoço. Abri mais os olhos. Quando ela tirou a camisa e deixou os seios sólidos saltarem para o ar livre, blop, blop, também saltei.
Com medo de que me visse observando-a, tentei me esconder atrás do computador. Meu gesto foi tão brusco, que derrubou a taça de tinto que bebia enquanto escrevia a tal história lateral. Não me preocupei com o vinho que molhara os papéis e a mesa e o chão. Deixei para lá e me concentrei na vizinha – Camões diria que um valor mais alto se alevantava.
Ela continuava dançando. Dançou e dançou e alisou-se e contorceu-se, até se pôr nua como um bicho livre na natureza.
E então, assim que a última peça de roupa, a mínima calcinha, foi rojada no parquê frio, ela ficou ereta e ofegante, com os braços ao longo do corpo. Em seguida, caminhou para a janela e a fechou. O show havia terminado.
No dia seguinte... Bem, o que aconteceu no dia seguinte, inclusive a história lateral, contarei no dia seguinte. Amanhã.
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