16 de dezembro de 2016 | N° 18716
CLÁUDIA LAITANO
Conhece-te a ti mesmo
2016 foi o Ano Internacional do Espanto. Ninguém acreditava que os britânicos votariam pelo Brexit, que os americanos elegeriam Trump ou que os brasileiros iriam às ruas para pedir a volta da ditadura militar (nisso até agora eu não acredito).
Para entender melhor essa aparente crise das identidades nacionais, o instituto de pesquisas britânico Ipsos Mori (ipsos-mori.com) decidiu investigar o quanto as pessoas realmente sabem a respeito dos lugares onde vivem. Realizada em 40 países, as perguntas da enquete variavam de impressões subjetivas a respeito dos conterrâneos (“quantas pessoas, de 100 pesquisadas, você acha que responderam que se consideram felizes?”) a temas polêmicos, como índices de aprovação do aborto e do casamento gay, além de dados sobre população e economia.
No ranking dos povos com mais falsas impressões (e desinformações) a respeito dos próprios países, os brasileiros ficaram em sexto lugar (melhores do que os indianos, os mais sem pista, e à frente também de chineses, taiwaneses, sul-africanos e norte-americanos). Os campeões de autoconhecimento, na outra ponta do ranking, são os holandeses, seguidos por britânicos (com Brexit e tudo), sul-coreanos e tchecos.
Uma das máximas mais conhecidas da filosofia é também uma das mais antigas: “Conhece-te a ti mesmo”. Para Sócrates, que recolheu a frase do pórtico do oráculo de Delfos há mais de 2 mil anos, o autoconhecimento era o primeiro passo não apenas para a sabedoria, mas para uma vida bem vivida. Parece elementar: como viver a boa vida se a gente nem sequer sabe o que nos faz bem? Como conviver com os outros se não temos claro o que esperamos deles e o que eles podem esperar de nós?
O problema é que raramente duvidamos a respeito do quanto sabemos sobre nós mesmos. Já vi muita gente reclamando de que não sabe o que quer, mas jamais alguém admitindo, em voz alta e plena consciência, que não se conhece o suficiente. Mesmo quando tomamos decisões erradas, é mais fácil atribuir o erro a uma escolha infeliz do que ao fato de que algumas das nossas escolhas são tomadas a partir de pressupostos equivocados a respeito de nós mesmos – seja porque supervalorizamos nossas qualidades, seja porque minimizamos nossos defeitos. Ou vice-versa.
Na verdade, cada um de nós se comporta, ao longo da vida, conforme diferentes personagens: o que somos, o que fomos, o que achamos que somos, o que gostaríamos de ser e aquilo que, sem perceber, já estamos nos tornando. Como o próprio Sócrates insistia em repetir, só sei que nada sei. Inclusive sobre o Brasil.
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