sexta-feira, 2 de dezembro de 2016



02 de dezembro de 2016 | N° 18704
TRAGÈDIA NA COLÔMBIA

Quando faltam as palavras

Dentro do túnel do estádio Atanasio Girardot, eu lia uma a uma as faixas depositadas com as coroas de flores no chão de cimento. Na linha com Porto Alegre, ao vivo com Luciano Périco e Cléber Grabauska, descrevia aos ouvintes da Rádio Gaúcha as instituições que prestavam homenagem aos mortos na tragédia da Chapecoense: Conmebol, prefeitura de Medellín, força aérea colombiana… 

Havia planejado subir a escada que conduz ao gramado, contando o número de degraus. Era quase como uma homenagem aos atletas da Chapecoense, que não poderiam, nunca mais, fazer aquilo. Queria descrever essa sensação no meu boletim.

E assim o fiz, contando ao vivo: um, dois, três, quatro… 20 degraus. Na minha cabeça, imaginava como deve ser a emoção de um jogador de futebol ao entrar em campo. A arquibancada lotada, os gritos crescendo de volume, os refletores se agigantando diante dos seus olhos. Ainda mais em uma final da Sul-Americana…

Sim, fiz aquilo de contar os degraus um pouco pelo relato jornalístico. Mas também pelos jogadores da Chape. Quando vi a arquibancada toda vestida de branco, gritando: “Vamos, vamos, Chape”, 50 mil pessoas, torcedores ou não, amantes do futebol ou não, entoando de forma cadenciada um coro cada vez mais alto. Fui traído pela emoção. Chac… Chapo... Não conseguia pronunciar a palavra mais pronunciada nos últimos dias: CHAPECOENSE.

Estava ao vivo e tropeçando na palavra. Olhei para uma das faixas instaladas pela torcida atrás do local onde ficaria uma das goleiras: “Força, Chapecoense”. Mirei o nome do time e falei pausadamente: CHA-PE-CO-EN-SE. Agora, sim.

Para me recuperar do “branco”, pedi desculpa aos ouvintes. E recorri a um clichê que normalmente critico: “Não tenho palavras para descrever o que estamos sentindo”, disse ao Lucianinho e ao Cléber. “Ora, jornalistas vivem de descrever fatos, têm obrigação de ter palavras para fazê-lo”. Foi o que sempre pensei. Perdoem-me, mais uma vez, caros leitores: no Atanasio Girardot, não seria essa a única vez em que elas simplesmente não apareciam nas nossas bocas.

direto de Medellín (Colômbia) rodrigo.lopes@zerohora.com.br

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