terça-feira, 6 de dezembro de 2016



06 de dezembro de 2016 | N° 18707 
DAVID COIMBRA

Cuidado, Grêmio

Os Estados Unidos seriam diferentes, e certamente para pior, se Thomas Jefferson não soubesse escrever. Jefferson foi um dos Founding Fathers, um dos Pais Fundadores da nação americana. É dele o texto de um dos mais importantes documentos da História, a Declaração de Independência, no qual foi incrustada uma frase decisiva para o processo civilizatório:

“Todos os homens são criados iguais”.

Com essa única e breve sentença, cinco palavras em inglês, Jefferson abriu caminho para a abolição da escravatura, para a Revolução Francesa, para a emancipação das mulheres, para todos os tipos de movimentos libertários em todo o Ocidente.

Era um frasista. Uma antecipação de Churchill, uma revisão de Júlio César.

Outra frase de Jefferson de que gosto poderia ser levada em consideração por muitos de nossos intelectuais de hoje: “Quando o povo teme o governo, isso é tirania; quando o governo teme o povo, isso é liberdade”.

E há uma terceira, sobre a qual quero me ocupar, frequentemente citada por esquerdistas, direitistas e centristas: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”.

Serve para várias situações, não apenas políticas. É aquilo de não relaxar, de ficar atento sempre, de segurança 100%.

O futebol, que em hora e meia representa a vida, faz essa exigência a todo momento.

Há quilos de exemplos ilustres: a seleção alemã vencendo os invencíveis húngaros no Milagre de Berna, em 1954; o Uruguai calando o Maracanã quatro anos antes; o Carrossel Holandês sendo vice duas vezes seguidas. Poderia encher páginas lembrando casos parecidos. Seriam inúteis. Quem diz que o passado pode convencer alguém?

Paulo Odone repetia sempre que, ainda que os dirigentes tomem todas as precauções para evitar o chamado “salto alto”, o favoritismo sai das ruas e “entra pelas frestas das paredes do vestiário”, contaminando os jogadores.

É verdade. A sensação de favoritismo é como a mosca tsé-tsé: uma picada e a vítima morre da doença do sono.

O próprio Grêmio padeceu por causa desse sentimento. No começo da década passada, o time do Tite parecia imbatível, o Grêmio estava havia quase um ano sem perder no Olímpico e, numa decisão de fase do Campeonato Brasileiro, pegaria o pequeno São Caetano, praticamente um time de entregadores de gás. Antes do jogo, estádio cheio e fremente, a torcida desenrolou uma bandeira tricolor que cobriu todo o gramado. Era “a maior bandeira do mundo”. Uma festa. Eu estava na cabine de imprensa. Vi aquilo, olhei para o Diogo Olivier, sentado ao meu lado, e comentei o seguinte:

– Ih... É que nunca vi um time festejar antes e comemorar depois. Nunca, nunca, em mais de 30 anos cobrindo futebol.

Bem. O Grêmio saiu ganhando, o São Caetano virou e venceu por 3 a 1.

Assim se deu antes da partida do Inter contra o Mazembe. Observando a festa que o Inter fazia ainda em Porto Alegre, filme sobre o time e tudo mais, fiz uma ponderação ao Fernando Carvalho. Esta:

– Ih... Ele concordou: – É...

Deu no que deu. Por isso, sabendo agora que o Grêmio tem vantagem de dois gols e que o Atlético está em silêncio e concentração, recebendo informações privilegiadas de Roger, digo aos gremistas, parafraseando Jefferson:

“Mantenham-se tensos e alertas. O preço da taça de campeão é a eterna vigilância”.

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