Jaime Cimenti
Cangaceiros, gaúchos e sangue no sertão
O covil do diabo (Dublinense, 288 páginas), romance mais recente do jornalista e escritor porto-alegrense Júlio Ricardo da Rosa trata, nada mais, nada menos, do que um sangrento confronto entre cangaceiros e gaúchos no chão rachado do sertão. Não é pouca coisa e, já nas primeiras linhas, na descrição do cenário e na apresentação dos primeiros diálogos, o leitor sente o clima da narrativa. Como se sabe, criar clima narrativo é das tarefas mais difíceis para o escritor.
Rosa, durante os anos 1980, escreveu sobre cinema para os jornais Zero Hora, Correio do Povo e Jornal do Comércio, e publicou romances como O viajante imóvel (2012) e O segredo de Yankclev Schmid (2014, finalista do Prêmio Açorianos de Literatura). A experiência de redigir sobre a sétima arte influenciou na escrita de O covil do diabo, como vamos comentar adiante.
A narrativa gira em torno do capitão Valêncio Torres, o bandido mais perigoso do sertão nordestino. Ele mata, rouba, faz o que quer - chega até a atacar a casa do coronel Ramiro Batista, homem que tem prestígio e poder, mas não consegue deter o bando do cangaceiro. Para enfrentar seu inimigo, o coronel recruta homens igualmente sanguinários: os gaúchos. Então um confronto tão violento quanto inusitado irá ganhar o chão rachado do sertão.
Na orelha, o premiadíssimo escritor e jornalista Luís Dill diz: "a tensa expectativa descrita no início do livro bem poderia estar sintetizada nessa linguagem cinematográfica a ser comparada a algum faroeste de Sergio Leone. Já a cena sangrenta que se segue - bem como outras - cairia bem na obra de Quentin Tarantino". Faz sentido. Rosa já escreveu sobre cinema para jornais e, até hoje, o faz com conteúdo e profundidade no seu blog Viagens Imóveis. Logo salta aos olhos a opção pela oralidade dos discursos, e aí está o grande mérito do romance, afinal correr riscos faz parte da literatura. Lembremos de Machado de Assis, de Oswald de Andrade de Guimarães Rosa, só para citarmos alguns.
Realmente, a sedutora e envolvente linguagem cinematográfica e a força e a naturalidade dos diálogos mostram logo de início um romance diferenciado.
Várias vozes narram a história. O cangaceiro perseguido, o jornalista que ambiciona escrever um grande romance, o advogado incumbido de organizar o cerco, o gaúcho em busca da última batalha e o coronel em busca de vingança e de progresso para sua terra. A polifonia torna a leitura dinâmica, e as revelações vão se sucedendo para os leitores, camadas sobre camadas, nuances sobre nuances, mostrando por inteiro os homens e as mulheres da história.
Está certo Dill quando escreve na orelha: "Depois de O viajante imóvel e O segredo de Yankclev Schmid, Júlio Ricardo da Rosa se consolida de vez como um romancista criativo e com dicção própria.
lançamentos
Vila do IAPI - Orientações para conservação (Editora da Cidade, Centro Municipal de Cultura, 106 páginas), pesquisa de Manuela Franco Lopes da Costa, organização dela e Luiz Antonio Bolcato Custódio, com colaboração de Flavia Boni Licht e Baiard Brocker, esclarece sobre a vila e sua inclusão no conjunto de bens culturais do município.
Manual de eventos (Educs, Coleção Hotelaria, 445 páginas), quarta edição atualizada, do consagrado jornalista, professor e homem de turismo Renato Brenol Andrade, clássico no gênero, sistematiza conhecimentos para o sucesso de iniciativas na indústria turística. Trata de conceitos, turismo, mercado, marketing, eventos, gastronomia e outros tópicos.
Golpes e fraudes (Oikos, 144 páginas), de Leonel Baldasso Pires, delegado de polícia, professor e escritor, serve, acima de tudo, para o leitor se proteger das mil falcatruas que andam por aí. Por telefone, correio, computador, cartão de crédito e nas ruas, mil fraudes e golpes acontecem.
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