15 de dezembro de 2016 | N° 18715
L.F. VERISSIMO
Organização
Digam o que disserem da Odebrecht, não se pode deixar de admirar sua organização. O pagamento de propinas a políticos cabia a uma divisão da empresa criada exclusivamente para esse fim, chamada Setor de Operações Estruturadas. Imagina-se que o setor tivesse suas próprias instalações e seu próprio corpo de funcionários – e, desgraçadamente para muita gente, seus próprios arquivos – e existisse à parte dos outros departamentos da empresa.
Talvez até tivesse (ou ainda tenha) autonomia para distribuir propinas e comprar favores a seu critério, mas o mais provável é que só cumprisse ordens da alta direção. Mas deveria haver no setor um grupo especializado em decidir quais políticos comprar, por quanto. As cotações variariam. Um Renan vale quantos Geddéis? Um Cunha merece mais do que um Maia? Etc. O admirável na Odebrecht é não só ter o gasto ilícito com a compra de políticos previsto no seu orçamento como ter um departamento no seu organograma encarregado de comprá-los. Operações Estruturadas soa melhor do que Departamento de Corrupção.
Não sei se cabe o paralelo, mas nos Estados Unidos o “lobby” é uma atividade perfeitamente respeitável – ou uma forma socialmente aceita de corrupção. Grandes empresas ou grandes interesses têm sede em Washington e seu único objetivo é fazer amigos e influenciar congressistas e governantes. As sedes dos lóbis são, em muitos casos, prédios imponentes, o dinheiro que corre não é pouco. Em Washington, o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht poderia atuar a céu aberto e chamar corrupção por outro nome – incentivo à excelência parlamentar, inspiração, recompensa, qualquer coisa assim.
É difícil resistir à tentação de dizer que a corrupção, ilícita ou camuflada, é endêmica e inevitável em países em que o dinheiro manda em tudo. Ou seja, em quase todos. É uma enfermidade capitalista, mas no socialismo real a distorção não foi diferente. Políticos à venda há em toda parte. Variam a desfaçatez e a ganância, e nestes quesitos somos líderes. Dizem que os governos em países capitalistas são sempre os melhores que o dinheiro pode comprar. Pior é quando o governo, além de comprado, é ruim. Como no Brasil.
AOS COLORADOS
O Internacional não foi rebaixado. A Série B é que se valorizou, com a chegada de um campeão do mundo.
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