sexta-feira, 30 de dezembro de 2016


Jaime Cimenti
A canção e as dinâmicas culturais e sociais

O alcance da canção (Arquipélago, 392 páginas, R$ 55,00), organizado pelos professores Luís Augusto Fischer e Carlos Augusto Bonifácio Leite, nasce como obra de referência ao mesmo tempo coesa e eclética, apresentando ao leitor 22 ensaios com reflexões muito instigantes sobre o vasto mundo da canção popular, a partir de trabalhos realizados na Ufrgs nos últimos 25 anos. Na universidade, Fischer, professor e doutor em Letras, autor, entre muitas outras obras, da novela Quatro negros e do Dicionário de porto-alegrês, criou a cadeira de Canção Popular e, com colegas, o Núcleo de Estudos da Canção, para pesquisa sobre canções populares.

Carlos Augusto Bonifácio Leite, também professor da Ufrgs, poeta e compositor, autor do livro de poemas Entrechos ou valos do silêncio (Prêmio Açorianos), pesquisa sobre Noel Rosa, tropicalismo e cinema brasileiro.

Os ensaios dos organizadores e de Demétrio Xavier, Homero Vizeu Araújo, Paulo Coimbra Guedes, Arthur de Faria, Katia Suman, Leticia Batista, Lolita Campani Beretta, Marcos Miraballes Sosa, Carlo Pianta, Caroline Soares de Abreu, Leandro Ernesto Maia, Demirse Marilva Ruffato, Sérgio Karam, Álvaro Santi, Fernanda Valim Côrtes Miguel, Ian Alexander, Rita de Cássia Cavalcante, Jackson Raymundo, Eron Rafael dos Santos e Luciana Prass falam de Donga, Noel, Atahualpa Yupanqui, bossa nova, Gal Costa, Caetano, Bob Dylan, Cortázar e o jazz, Califórnia da Canção, o vai e vem da canção porto-alegrense, Manguebeat e muitos outros temas.

A obra é feita, como se vê, para quem quer mais que apenas ouvir canções. Na apresentação, está escrito: "A educação de nossa sensibilidade, no Brasil, se dá com a canção. Nós celebramos, sofremos, vivemos com ela. Nada mais justo e adequado que a já centenária história da canção brasileira seja cada vez mais tornada acessível a todos. Conhecendo a história do cancioneiro, compreendemos melhor esse vetor essencial da cultura brasileira. Ninguém aprendia samba no colégio, disse o sábio Noel Rosa: mas todos agora podem aproximar-se dele e dos demais gêneros cancionais mediante um acesso crítico, que este livro proporciona".

Os autores dos ensaios têm formações diversas, interesses múltiplos e diferentes olhares sobre o mundo das letras, das melodias, dos arranjos e dos mil aspectos do cancioneiro. Ganha o leitor. O que une os autores é certamente a preocupação de firmar um diálogo entre a canção e as dinâmicas culturais e sociais.

As palavras de Luís Augusto Fischer - "todo mundo tem direito ao Noel Rosa, e esse direito será mais bem atendido se os letrados se encarregarem dele" - sintetizam o alto e afinado espírito do livro.

lançamentos

Cicatriz (Ateliê Editorial, 102 páginas), do poeta, ficcionista e professor mineiro Eduardo Guimarães, autor de A trama no tapete, Cidade e corpo (poemas) e O homem que tinha dentes demais (novela) traz versos contidos, precisos e delicados, como: A mulher lhe veio aos braços / e lhe veio toda / em tantas mulheres / inesperada fortuna / de desigualdades.

As provinciais (É Realizações, 296 páginas) do grande matemático, físico, literato e religioso Blaise Pascal, reúne as 18 cartas com lógica implacável e ironia sutil, anônimas, vendidas clandestinamente em Paris, em defesa de Antoine Arnauld, amigo julgado pelos teólogos de Paris por se opor aos jesuítas.

Habitat (Libretos, 120 páginas), do curador, artista plástico e ministrante de oficinas Amaro Abreu, mostra grandes trabalhos de arte urbana, com cores, traços, detalhes e formas únicas. "A imaginação do artista infinda, assim como multiplica nossa capacidade de percepção do mundo terrestre, mundano, o que vivemos dia a dia", diz Marina Martinuzzi sobre a obra.

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