06 de julho de 2015 | N° 18216
DAVID COIMBRA
Como será o meu deputado
Não quero um deputado que dance.
Não, meu deputado não dançará.
Estou fazendo uma lista dos critérios que levarei em conta
para votar na próxima eleição, e este é dos principais: não aceito que meu
representante comemore vitórias em votações como se fosse um jogador de futebol
comemorando gol.
Por quê?
Porque uma vitória em votação parlamentar não é como um gol.
Uma discussão no Congresso não é um jogo. Deputados não são centroavantes que
precisem embair goleiros. Ali não é, ou não tem de ser, um contra o outro. Ali,
todos têm de estar trabalhando pela mesma causa: pelo bem da sociedade
brasileira.
É claro que cada parlamentar precisa defender as demandas do
seu eleitor. Para isso ele foi eleito. Mas não apenas para isso. Às vezes, para
promover um bem maior, ele terá inclusive de ir contra a vontade do seu eleitor.
Esse será o meu deputado. Um que, ao ser fiel a sua consciência, pode ser
infiel a minha vontade.
Um deputado como Jean Wyllys, que faz um cartaz chamando os
oponentes de fascistas, racistas e homofóbicos, por exemplo, esse deputado não
tem oponentes: tem inimigos. Como alguém vai construir algo trabalhando entre
inimigos?
Um deputado como Eduardo Cunha, que se vale de ardis para
vencer a qualquer custo, como o clube que apela para o Tapetão ou como o
atacante que faz gol com a mão, esse deputado não fará o que é melhor para o país:
fará o que é melhor para ele.
Não serão esses os meus deputados. Nem aqueles que, entre seu
partido e o Brasil, defendam o seu partido.
Meu parlamentar terá de fazer isso mesmo que a palavra
indica: parlamentar, não brigar. Terá de entender as razões dos que pensam
diferente dele e argumentar a respeito do seu ponto de vista, eventualmente até
mudando o seu ponto de vista.
É esse o meu candidato.
Você conhece algum assim?
A vitória matou o PT
O PT morreu de morte inglória, mas, se não fosse por um único
infortúnio, poderia estar vivo ainda, e forte. O pior que ocorreu ao PT foi
ocorrer-lhe o que mais queria: a vitória na eleição presidencial.
Se Aécio tivesse vencido, teria de tomar mais ou menos as
mesmas medidas impopulares que Dilma está tomando, o país passaria mais ou
menos pela mesma crise e estaria sofrendo mais ou menos as mesmas dores. Aí o
PT, do recôndito da oposição, diria: “Viram? Nós dissemos que eles iriam fazer
isso! No nosso tempo, era melhor!” E as pessoas acreditariam, seguindo o mesmo
raciocínio dos que dizem que no tempo da ditadura era melhor.
É claro que as denúncias de corrupção estariam estourando,
mas o PT acusaria o governo de perseguição e confundiria tudo. Os brasileiros
suspirariam de saudade da época de ouro e, em 2018, Lula estaria de volta,
assumindo um país mais equilibrado, pronto para crescer novamente.
A vitória foi a desgraça do PT.
Vale a lição, amigo leitor: às vezes, derrota significa
recomeço.
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