01 de julho de 2015 | N° 18211
DAVID COIMBRA
Manhê, o PSDB também roubou!
Fala-se que o Brasil é uma jovem democracia, que ainda
estamos aprendendo. Na verdade, não estamos na juventude, estamos na infância
da democracia, passando pela fase da birra. Petistinhas choramingam:
– Manhê, o PSDB também roubou!
Pastorinhos olham para um casal de gays na rua, tapam a boca
com a mão e morrem de vergonha:
– Aummmm, que feio...
E assim não vamos a lugar algum. Estamos no mesmo lugar há muito
tempo. O governo Lula aproveitou bem o programa Bolsa Família, foi seu grande mérito,
foi ótimo. Mas isso poderia ter sido feito em seis meses. De lá para cá, o que
melhorou no país? Qual a mudança estrutural? Nenhuma.
Nos países em que as pessoas vivem melhor neste vasto mundo,
em todos eles a justiça social e a igualdade foram construídas a partir de uma
instituição: a escola pública – os antigos primeiro e segundo graus. Pois a
escola pública no Brasil piora a cada ano. O governo investiu no terceiro grau.
Em vez de aproveitar a antiga popularidade e a boa maré da economia para
liderar um debate nacional a fim de reformar profundamente a educação das crianças,
preferiu entupir as faculdades de jovens semianalfabetos.
Perdemos tempo.
A popularidade, hoje perdida, e a estabilidade econômica,
hoje despedaçada, permitiram que o governo aprovasse tudo o que queria no
Congresso. Tudo. Lula era um rei, e Dilma herdou a coroa. Passaram-se 12 anos,
e não foi feita a reforma tributária, nem a reforma política, nem a reforma do
Código Penal, nem grandes mudanças na segurança pública, nem na saúde, nem no
sistema federativo, nada, nada.
Perdemos tempo, e o perdemos em debates vazios.
Agora, o Congresso elegeu um presidente ativista. Você pode
chamar Eduardo Cunha de tudo, mas não poderá dizer que ele não é proativo. Pela
primeira vez, o Legislativo tem um presidente que se comporta como chefe de
Poder. E, como ele é conservador, coloca em pauta questões conservadoras. Tudo
bem, isso é da democracia. Um país democrático vive do bom combate de ideias
diferentes, e um país do tamanho do Brasil não é um país, são muitos. Mas a
discussão da redução da maioridade penal, francamente!
Ontem, 14 homens foram presos em flagrante em Porto Alegre,
e não havia lugar para eles nos presídios. Tiveram de ficar nas delegacias. Ora,
se não há espaço para os grandes, não adianta querer colocar lá os pequenos! Essa
discussão é tola! Se o Brasil quer investir em punição, precisa, antes,
investir na estrutura de punição, nos equipamentos básicos, que são a polícia,
a Justiça e a cadeia.
As misses do mundo inteiro sabem disso, essas leitoras do
Pequeno Príncipe. Nessa obra genial do aviador Saint-Exupéry, há um rei que,
quando você quer se sentar, ordena que você se sente; quando você quer se
levantar, ordena que você se levante. E então justifica: “É preciso exigir de
cada um o que cada um pode dar”.
Eis aí. Leis boas e sensatas que não podem ser cumpridas não
são boas nem sensatas. A lei que reduzirá a maioridade penal é precisamente
assim: nem boa, nem sensata.
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