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sábado, 5 de julho de 2008
06 de julho de 2008
N° 15654 David Coimbra
Manhã gelada de sábado. A hora da execução
Até a primeira metade do século 19, Dostoievski ainda não era Dostoievski. Não passava de um jovem escritor suspirante de sonhos e dívidas. Ainda era estudante da vida que queria dar, como diria o Belchior.
Tempos perigosos, aqueles. Dostoievski vivia na Rússia dos tzares, mais tarde chamada por Lenin de "cárcere dos povos". O regime era de violenta repressão.
Um cidadão podia ser deportado para a Sibéria por roubar uma laranja - mais ou menos como se, hoje em dia, alguém fosse preso por... sei lá, por ingerir o conteúdo de uma latinha de cerveja antes de dirigir. Claro, isso seria um autoritarismo impensável, mas esses absurdos aconteciam há um século e meio.
Voltando a Dostoievski, não se podia dizer dele que fosse exatamente um subversivo. Ao contrário: tratava-se de um conservador, admirador do tzar Nicolau I e obediente ovelha do rebanho da Igreja Ortodoxa.
Mesmo assim, andou participando de reuniões com outros intelectuais, esses, sim, críticos do governo, pregadores do socialismo, reformadores ou revolucionários. Por que freqüentava tais reuniões é algo que ainda se discute.
Decerto Dostoievski estava curioso a respeito das idéias de seus companheiros, ou os acompanhou só porque não tinha nada melhor a fazer, mas o fato é que num sábado de abril de 1849, ele compareceu a um desses encontros esquerdistas.
Encontro secreto, obviamente, mas a inteligência também secreta do tzar Nicolau I encontrava-se atenta e alerta como uma tropa de escoteiros.
Na madrugada daquele sábado, uma noite gelada como só as noites da Rússia sabem ser, os esbirros do tzar prenderam Dostoievski e outros conspiradores, e os levaram para a as masmorras da Fortaleza de Pedro e Paulo.
Dureza. Dostoievski passou o resto do ano sendo interrogado de forma nada amistosa pela polícia política. Repetia que não tinha nada a ver com aqueles comunistas, que fora preso por engano, que não queria derrubar governo nenhum, mas seus verdugos riam e respondiam que todos diziam a mesma coisa, naquela situação.
Ao cabo de sete meses de prisão e interrogatório, a sentença terrível: pena de morte. O tzar Nicolau, ao tomar conhecimento da condenação, fez o seguinte: confirmou-a!
Três dias antes do Natal, Dostoievski e seus companheiros foram levados para a praça onde havia sido erguido o patíbulo. Amarraram-nos cada um a um poste, as mãos para trás, os olhos fitando os canos das espingardas dos soldados.
A manhã nascia cinzenta e fria. Flocos de neve caíam sobre São Petesburgo. O oficial encarregado da cerimônia abriu um rolo de papel e leu em voz alta as acusações e as sentenças.
O padre começou a sua ladainha. Depois que o sacerdote cantou o amém da última oração, o comandante da tropa ergueu a espada e o lugar se encheu com o som do rufar dos tambores. Mais um comando, e os soldados ergueram suas armas. Apontaram para os condenados.
Prepararam-se para disparar, mas, naquele instante literalmente fatal, um cavaleiro irrompeu na praça, aos brados: o tzar havia perdoado os prisioneiros.
Evidentemente, era tudo falso. O teatro da execução havia sido montado sob as ordens de Nicolau I a fim de exercer mais uma tortura psicológica nos condenados.
Nenhum deles foi fuzilado naquela manhã, mas todos acabaram deportados para a Sibéria. Dostoievski também, condenado a 10 anos de exílio, dos quais cumpriu nove.
Como disse, dureza.
A farsa preparada pelos beleguins do tzar causou profunda impressão em Dostoievski, como seria de se esperar. Deixou gravadas em seu espírito marcas que contribuíram para que se tornasse, como se tornou, um dos grandes gênios da literatura universal. Aí está: até dos traumas pode-se tirar bons resultados.
O Fluminense e Renato Portaluppi, por exemplo, haverão de crescer dos escombros da derrota para a LDU.
Dostoievski ficou quase uma década na Sibéria e de lá retornou para o mundo dos vivos transformado em... Dostoievski. Quem sabe o Fluminense não se torna mais Fluminense, e Renato mais Renato?
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