Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
04 de julho de 2008
N° 15652 - Liberato Vieira da Cunha
O xis do problema
Naquela idade mágica que vai dos 14 aos 18, e que deveria se repetir muitas vezes na vida do homem, nunca ambicionei a chave da casa.
Esta era risonha, franca e múltipla. O que desejei sempre foi a chave da caixa do correio, que por sorte era também acessível. Assim que notava a passagem do carteiro, inspecionava de imediato o pequeno compartimento de madeira, em busca de uma certa caligrafia que algo impontualmente me vinha do Interior.
Nunca saberei descrever a sensação de surpresa e arrebatamento que me despertava a chegada de determinados talhes de letra. No envelope se continham palavras cúmplices, sentimentos partilhados, toda uma saudade inscrita em Tinta Parker, Azul Real Lavável.
Conto essas coisas porque o outro dia voltei a receber uma carta. O envelope era daqueles com as cores da bandeira, a letra, caprichada, e havia até um selo no lugar onde a ECT costuma me servir um carimbo impessoal. O conteúdo era agradável, mas nada semelhante às doces confidências da época da adolescência. Pois era uma mensagem comercial.
A propaganda é uma arte de infinitos pequenos truques e eu fora a vítima escolhida para mais um. A remessa contudo tornou a me despertar para a correspondência que mantive com variadas, jovens deusas entre os 14 e os 18.
Um cronista é alvo habitual de e-mails e não é desventura alguma ler recados aprazíveis, amenos, divertidos ou simplesmente cordiais. São raríssimos os leitores mal-humorados, fator que atribuo à minha boa estrela.
Mas é diferente ser o objeto de 10 ou 15 linhas eletrônicas. Alguém senta diante de um computador e dispara teclas e símbolos que te chegam em segundos.
Há qualquer coisa de artificial nisso. Falta sentimento, sobra automatismo, por mais alegre que te sintas com o conteúdo.
Ainda prefiro as cartas dos 14 aos 18, aquelas em que cabia lugar para declarações íntimas, segredos indivisíveis, toda uma provável promessa de antecipação de entrega e posse.
Mas o xis do problema é que os Anos Dourados só acontecem uma vez - e em certas vidas.
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