sábado, 30 de novembro de 2024


30 de Novembro de 2024
MARTHA MEDEIROS

Bate-bola, jogo rápido

A bola é a metáfora perfeita para este assunto.

Talvez você conheça um homem que, mesmo sendo generoso e inteligente, não entendeu direito como funciona o mecanismo de dar uma, duas, três embaixadinhas com a palavra e passar a bola adiante. Ele retém a bola e dá 12, 20, 35 embaixadinhas, enquanto os parceiros aguardam de braços cruzados, e por vezes até desistem da brincadeira, se dispersando. A roda só se mantém quando todos têm o mesmo protagonismo, a troca precisa ser ágil.

Falo de conversas em grupo. Cinco pessoas, dois casais, três ímpares, um par, não importa. Ninguém pode reter a bola por muito tempo, ou o jantar desanda, a conversa entedia. A graça está em dar seu recado com clareza e depois, elegantemente, passar a chance ao outro de mostrar seu talento. Alguns segundos são suficientes, daqui a pouco a bola volta para você.

Vai à praia hoje? Observe.

Tenho absoluto fascínio pelos garotos que batem bola em círculo à beira mar. São os mestres da diplomacia, adolescentes já manifestando o adulto que serão. Todos com domínio de suas habilidades, sem a compulsão de reterem a bola a ponto de desprestigiarem os parceiros. Todos têm a mesma oportunidade de mostrarem seus dotes, sendo que o principal deles nem é a destreza, e sim a arte de conviver.

Mas e se você for um Gabigol entre amadores, um Vini Junior entre pernas de pau? Maior será sua dignidade ao se igualizar e manter a bola por pouco tempo em seus pés. O encontro nunca serve para projetar um só, e sim para confirmar a disponibilidade do grupo em repartir os holofotes e permitir que a verdade sobressaia: somos todos iguais, mesmo aqueles que parecem mais iguais do que os outros.

Meninas são craques em bate-bolas com tempo repartido, observe-as em bares e cafés: elas sabem que têm muito a dizer, e todas mantêm-se interessadas umas nas outras. Duas, três embaixadinhas falando de si mesmas, e passam a bola. Às vezes com uma ligeireza que induz a achar que falam todas ao mesmo tempo - ainda assim, todas têm a sua vez.

Meninos, não retenham a bola com exagero, não se concentrem tanto em si mesmos e em suas histórias prolongadas, aprendam a repartir. A bola logo voltará a seus pés. Joguem-na para frente com paciência e desprendimento, assistam a habilidade de quem está jogando junto e permitam que a vida seja divertida para todos. _

MARTHA MEDEIROS

30 de Novembro de 2024
CARTA DA EDITORA

Donna Beauty Pompéia

Sextou com "animal print" - É tempo de casa

A tendência atemporal do animal print se tornou curinga nos armários de quem gosta de ousar nos looks. E as Gu, que não ficam de fora de uma tendência, já garantiram as suas peças da coleção de Primavera/Verão da Pompéia.

A estampa animal propõe um toque ousado e autêntico a qualquer produção. Tem dúvidas de como usar? A dica é combinar com opções sóbrias, dando destaque à peça estampada. Mas não se esqueça: a versatilidade do animal print permite brincar com tons mais vibrantes, como vermelho e amarelo, especialmente para aquelas que não têm medo de usar e abusar das cores.

Quer mais dicas para produções? Solicite o nosso serviço de consultoria de moda gratuito, disponível em todas as lojas. Visite ainda o Donna Beauty Pompéia, no Pontal Shopping (Av. Padre Cacique, 2.893, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 12h às 20h). Esses e outros looks também podem ser conferidos no site lojaspompeia.com e no aplicativo. _

Eu tenho um carinho muito especial pelos temas que envolvem decoração e arquitetura e design, herança dos meus 15 anos trabalhando como repórter e editora nesta área. Ano passado, inclusive, disse para as meninas da equipe que abraçaria a matéria de capa de tendências para moradas de praia para ajudar no fluxo. 

Era verdade, pois final de ano é puxado para todos, mas também queria lembrar meus tempos de caderno Casa&Cia. Presentinhos de Natal antecipados que nos damos, às vezes. Para esta edição, pratiquei o desapego e deixei a Lou Cardoso produzir o "verão em casa". É também uma forma de agradecer a Lou, que produziu e escreveu o conteúdo de décor ao longo dos últimos 12 meses com tanto carinho. Não tem o ditado que diz "quem adoça a boca do meu filho, na minha põe mel"?. Pois quem cuida do núcleo de decorlovers por aqui no jornal, eu viro fã na mesma hora. 

Na chegada de dezembro, então, podemos ver um resumo do que pode surpreender para uma casa solar e prática. Assim como na moda de vestuário e nas makes, uma cor pode transformar toda a produção de um ambiente, a exemplo das texturas - quer algo mais charmoso do que uma palhinha? Deixamos também um alerta para os apaixonados por tendências: está nos últimos dias a passarela da Mostra Glass, em Novo Hamburgo, que brilha na nossa capa desta semana. Vai até o dia 15 (o serviço está na página 5). Para entrar 2025 antenada no bem-morar.

Agendonna

13 anos de Desapegos

No Workroom

Neste domingo, o Brick de Desapegos comemora 13 anos com uma edição especial no Workroom (Cristóvão Colombo, 772, Floresta) das 13h às 20h. Lá, estarão mais de 40 marcas entre brechós, moda autoral e sustentável. Além disso, o evento terá flash tattoo, trilha sonora da DJ Malka Kunst e drinks do bar da casa noturna. A entrada é franca. Mais informações em @brickdedesapegos_.

Moda praia

E piscina

Uma novidade para quem quer aproveitar o verão em grande estilo. A cada R$ 219,90 em compras nas lojas Gang, os clientes podem adquirir uma toalha de praia exclusiva por apenas R$ 49,90. São três modelos disponíveis, sendo duas com estampas exclusivas. Encontradas nas lojas físicas no Rio Grande do Sul, no app e no e-commerce da marca em gang.com.br.

Alto Verão 2024

Coleção

Biamar lançou sua coleção de verão, pensando em truques de styling como sobreposições e combinações monocromáticas. Intitulada como Paradiso, a linha é composta por seis peças distintas, confeccionadas em malharia retilínea, de saia, vestidos, blusas e casaco. São apresentadas em três variações de cores neutras e básicas: preto, off-white e bege. Disponível no site da marca gaúcha loja.biamar.com.br.

Lábios de Chocotone

Edição limitada

Mais um hidratante labial com aroma diferente chegou para acompanhar as festas de fim de ano: a Bauducco Chocottone. A criação é uma união da Bauducco com a Carmed, e o produto já está disponível nas farmácias e perfumarias no valor de R$ 24,90. A produção é limitada.

CARTA DA EDITORA

30 de Novembro de 2024
DRAUZIO VARELLA

Uma tragédia assim enquanto a gente fuma faz parte do jogo. Graças à propaganda criminosa da indústria do fumo, minha geração ficou viciada em nicotina sem saber sequer que o cigarro fazia mal. Mas, hoje, fumante nenhum pode alegar desconhecimento, estamos cansados de ouvir que o cigarro causa câncer, doença cardiovascular, enfisema e muitos outros males.

Os malefícios são tão numerosos, que um fumante do sexo masculino vive 12 anos menos; se for mulher, serão 10 anos de vida jogados numa cova.

Tem gente que diz: "Minha tia teve uma morte tão bonita: sentou no sofá para assistir à novela, quando fomos ver tinha parado de respirar". Tomo a liberdade de discordar com veemência, prezado leitor conformado. Para quem está em boas condições de saúde e em pleno domínio das faculdades mentais, mortes súbitas nunca são bonitas. Bonito é estar vivo para sentir os prazeres que a existência nos traz: da água quente na pele embaixo do chuveiro à alegria de encontrar o amigo, ao sorriso de uma criança, ao orgasmo nos braços da mulher amada.

O cigarro não respeita as virtudes da pessoa e ataca à traição justos e pecadores, sem a menor piedade. As doenças cardiovasculares são campeãs de mortalidade no mundo inteiro. Das mortes por infarto do miocárdio que ocorrem na faixa dos 30 aos 44 anos de idade, 38% são atribuídas ao fumo.

No Brasil, com a proibição da publicidade nos meios de comunicação de massa, conseguimos destruir a imagem construída a peso de ouro pela indústria que exibia o cigarro como um hábito charmoso de mulheres lindas e homens poderosos. Foi possível mostrar à sociedade o que o cigarro realmente é: um vício chinfrim que dá hálito repulsivo e deixa mau cheiro no corpo, nas roupas e em todos os lugares fechados por onde o fumante passa. Não é um hábito. Hábito é tomar banho logo cedo ou ler antes de pegar no sono, o cigarro é um dispositivo para administrar nicotina, a droga que cria a mais dominadora das dependências químicas. É mais fácil largar do crack do que parar de fumar.

Os coreanos acabam de realizar um estudo para responder à pergunta: "Quanto tempo o ex-fumante leva para reduzir o risco de doenças cardiovasculares aos níveis dos que nunca fumaram?". Publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), em outubro deste ano, a pesquisa avaliou o risco de infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva e AVC em mulheres e homens que já deixaram de fumar.

A publicação envolveu grandes números. Foram 5,3 milhões de participantes selecionados no Korean Health Insurence Service Database. Nesse universo, 4,4 milhões nunca haviam fumado, 853 mil ainda fumavam e 104 mil haviam parado de fumar em períodos variáveis. Além dos números significantes, a pesquisa avaliou a relação entre doenças cardiovasculares e o número de cigarros fumados pelos ex-fumantes, dado que falta na maioria dos estudos semelhantes.

Os ex-fumantes foram divididos em dois grupos: "light" e "heavy", que não vou traduzir porque fumantes leves e pesados não fazem sentido em português. Foram considerados "light" aqueles que fumaram até 8 pacotes/ano. Ou seja, aqueles que fumaram 1 maço/dia por até 8 anos ou 0,5 maço/dia por menos de 16 anos. "Heavy" foram os que fumaram mais do que 8 pacotes/ano, portanto, 1 maço/dia por mais de 8 anos ou 0,5 maço/dia por mais de 16 anos. Eu, que fumei cerca de 1 maço/dia por 19 anos, sou considerado ex-fumante "heavy".

Os resultados mostraram que em ex-fumantes "light" o risco de doenças cardiovasculares cai lentamente em relação ao dos que continuam a fumar, mas só depois de 10 anos é que fica igual ao de quem nunca fumou. Nos que foram fumantes "heavy", a queda é bem mais lenta. Só depois de 25 anos é que o ex-fumante atinge os níveis de risco dos que nunca fumaram. Eu, que parei há 45 anos, espero fazer parte desse contingente.

Já o câncer de pulmão é mais vingativo. Embora sua incidência diminua gradativamente no decorrer dos anos de abstinência, a probabilidade de surgir parece nunca igualar a de quem jamais colocou um cigarro na boca.

Que droga maldita. 

Drauzio Varella


30 de Novembro de 2024
J.J. CAMARGO

Pois nesse caso, apesar da antecipação do gênero do filme na mídia, os primeiros três quartos da história são tranquilos, às vezes até divertidos, descondicionando o espectador para o que virá no quarto final. (Alerta de spoilers.) O casal de psicopatas que rege a trama e administra maldade com a naturalidade de quem come pipoca caminhando na rua, e discute educação de filhos como quem saiu de uma reunião de pais e mestres, é chocante, especialmente na versão dinamarquesa, em que os protagonistas do mal inicialmente não apenas parecem pessoas normais, mas cordiais e amistosas, a ponto de induzir no público a sensação transitória de que talvez esteja assistindo ao filme errado.

Abstraídas as diferenças de revolta ou submissão entre os casais subjugados, ambos têm um momento de perplexidade, quando, diante da maldade absurda, questionam: "Por que vocês estão fazendo isso com a gente?".

E a resposta, que devia ter sido esquecida pelos espectadores depois de uma noite de sono sem pesadelos, por alguma razão ficou martelando: "Porque vocês deixaram".

Testados no auge do sofrimento, todos alcançaremos o limite, definido como a fadiga do sofrimento, e então, nesse dia, descobrimos que nós somos muito mais do que as coisas ruins que nos acontecem, e a partir desse ponto nos tornaremos irreconhecíveis.

Claro que esse marco de tolerância é pessoal, e no coletivo se expressa diversamente em diferentes sociedades e etnias, mas é uma ingenuidade supor que a humilhação que estraçalha a autoestima possa ser mantida indefinidamente.

A submissão ao medo, muitas vezes mais fantasioso do que real, também bate no teto quando a vítima passa a odiar a si mesma pela submissão degradante, produzida por inércia ou covardia. Isso ocorre nos torturados crônicos, como relatou nosso querido Flávio Tavares (saudade das crônicas dele) no seu maravilhoso Memórias do Esquecimento, dando conta de que, num determinado momento, o rompante de destemor do torturado assusta o torturador, pela inversão inesperada dos papéis.

Como a velhice é a condição que marcha para o desfecho mais previsível, chegará um tempo em que nossos netos, perplexos com o país que lhes oferecemos como herança, terão adquirido o direito de perguntar: "Por que vocês deixaram que tantas coisas ruins acontecessem?".

Temo não existir dignidade possível em qualquer justificativa que se tente oferecer. _

J.J. CAMARGO

30 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

A ladeira da Mostardeiro

Eu fui cobaia dos meus irmãos.

Aliás, todo irmão menor é dublê dos maiores. Para fazer o proibido. Para ir na frente na hora da molecagem. Para testar os limites. Para dividir os castigos. Meu irmão Rodrigo unicamente me procurava para seus experimentos loucos e imprevisíveis.

Era o cientista da casa, o leitor precoce das civilizações maia e asteca, o observador de estrelas, o perito dos consertos de aparelhos eletrônicos. Apresentava uma aura de enciclopédia, só que comigo saía das páginas dos manuais e se arriscava no precipício e vertigem das folhas em branco.

Quem dera ter comido sopa de folhas dele. Quem dera ter comido gafanhotos ou formigas. Quem dera que as interações tivessem sido tão inofensivas.

Com dois anos de diferença, ele me convocava como o seu parceiro ideal de testes. Lembro um episódio no fim dos anos 1970. Rodrigo recém tinha aprendido a andar de bicicleta, só que eu jurava que ele já sabia.

Ele me convidou para a garupa de sua Caloi - a bicicleta vermelha tinha freios nos pés, não no volante. Tratava-se de uma honra ser chamado para passear. Subimos ao início da lomba da Mostardeiro. Não era qualquer ladeira, apenas perdia em extensão e medo para a Lucas de Oliveira.

Eu exultava pela minha condição de carona, como um escolhido para uma missão secreta. Nem acreditei quando me recrutou generosamente para a sua aventura.

Ele me orientou:

Será igual a uma montanha-russa, com a diferença de que é de graça. Para curtir o momento, feche os olhos, sinta o vento nos cabelos!  Naquela época, eu era um loiro cabeludo, tipo Cléo, jogador que atuava no Internacional.

Descemos com muita força. Veio um violento frio na barriga, um choque de gravidade.

As mechas foram para trás, numa sensação de liberdade, a cara sendo lavada pelo minuano num dia típico de inverno. De repente, noto a bicicleta desgovernada, bambeando, abro os olhos, saio do transe, e cadê meu irmão?

Eu estava sozinho. Desesperadamente desamparado. Um reboque solto de um carro em alta velocidade.

Explodi numa árvore na entrada do Parcão. No dia seguinte, apareci na escola exibindo mercúrio vermelho pelo corpo inteiro. Meu irmão jura até hoje que gritou para que eu pulasse. Eu não me recordo disso. Acho que não deu tempo de ele falar.

Mas, da mesma forma que ele me colocava em perigo na privacidade dos laços, a partir de suas invenções e iniciativas impetuosas, ele era o primeiro a me defender na rua quando zombavam de mim. Não me deixava apanhar de ninguém, ainda que precisasse sofrer junto.

Os irmãos são, simultaneamente, nossos heróis e nossos fora da lei, nossos salvadores e nossos bandoleiros. Em nossa memória, cumprem os dois papéis antagônicos. Sentimos por eles um amor cheio de raiva, ou uma raiva cheia de doçura. Não dá para ter uma opinião formada. 

CARPINEJAR


30 de Novembro de 2024
MARCELO RECH

O Uruguai está mais longe

Não é apenas a exibição de fidalguia na transição presidencial, o apreço à liberdade e o profundo senso democrático que o Uruguai tem a ensinar ao Brasil. No primeiro turno das eleições, em 27 de outubro, os uruguaios deram uma demonstração de que, além da maturidade política, também alcançaram a maturidade econômica ao rejeitar em plebiscito a redução da idade para aposentadoria de 65 para 60 anos.

O que os uruguaios fizeram só tem paralelo em poucas nações com arraigada convicção de que as contas públicas precisam estar em ordem, porque, do contrário, toda a sociedade paga a conta das benesses. Mais surpreendente ainda foi se constatar que até a banda de centro-esquerda, que acabou elegendo o presidente Yamandú Orsi, era contrária ao encurtamento do tempo para aposentadoria. O ex-presidente José Mujica, ídolo da esquerda brasileira, chegou a dizer que haveria um caos na estabilidade jurídica do país caso a proposta fosse vencedora.

Corta para o Brasil. A ala política do governo Lula, aquela que acha que dinheiro nasce em árvore, que a vaquinha dos impostos sempre tem um leite a mais e que a popularidade fácil vale mais do que a estabilidade e o desenvolvimento a longo prazo, venceu mais um round. Por seu teor murcho e populista, o pacote de contenção de gastos - o governo tem brotoeja com a palavra corte - recebeu a resposta previsível: decepção, dólar a R$ 6 e juros apontando para acima de 14% ao ano.

O Congresso ainda pode mexer no pacote, mas quem confia que esquerda, direita e centrão conseguem soletrar austeridade sem gaguejar? Vá lá que o Brasil não vai descarrilhar nem se tornar uma Argentina peronista, cuja rotina era passar calote e culpar os outros pela hiperinflação. Mas a história econômica cobra um preço pelo desperdício de recursos e oportunidades.

É uma lástima. A janela que Lula tinha para provar que está mais para o Uruguai do que para o Brasil de Dilma se fechou neste fim de ano, véspera da posse de Donald Trump. Ninguém acha que a vida dos outros vai melhorar com Trump na Casa Branca e, por isso, todos os governos responsáveis estão se adiantando em fazer o dever de casa.

Por aqui, o populismo, traduzido pela frouxidão com os cofres públicos com vistas políticas, triunfou de novo. Infelizmente, os brasileiros não podem se mudar para o pequeno Uruguai, mas podemos ao menos invejar de longe a lucidez de nossos vizinhos. _

MARCELO RECH

30 de Novembro de 2024
OPINIÃO RBS

Cerco às facções não pode arrefecer

Era mandatória uma reação enérgica do Estado à execução de um líder de facção por um criminoso de um grupo rival na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan), no último sábado. Não apenas para investigar o assassinato e suas circunstâncias ainda nebulosas, mas para prender e isolar membros das quadrilhas envolvidas, reforçar o policiamento ostensivo para impedir a eclosão de um novo ciclo sangrento de ataques e retaliações e evitar que a casa prisional canoense, planejada para ser exemplar, continuasse em um processo de degradação de seus propósitos originais.

A resposta iniciada pelo governo gaúcho, por meio das secretarias de Segurança Pública (SSP) e de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), não pode arrefecer. Ao longo da semana que passou, o Estado anunciou o afastamento de cinco servidores da Pecan de suas funções e transferiu para um presídio federal o homem apontado como o responsável pelos disparos. A vigilância nas regiões onde as facções atuam foi redobrada pela Brigada Militar. Mesmo assim, outra liderança do submundo foi morta a tiros na quarta-feira, em Canoas, embora não exista certeza da conexão entre os casos.

Na sexta-feira, foram desencadeadas novas ações. Dezessete apenados acabaram transferidos da Pecan para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), onde foi instalado um sistema para bloquear o sinal de celular e existirá um regime especial, com celas individuais. Nos arredores do complexo prisional de Canoas, foi desmontado o aglomerado de comércio ilegal que também disponibilizava wi-fi, acessado pelos detentos no interior da prisão. Em outra frente, a Polícia Civil deflagrou operação para cumprir 13 mandados de prisão e outros 19 de busca e apreensão contra a facção que teria ordenado o assassinato na Pecan.

A penitenciária de Canoas foi concebida para não receber faccionados, mas no fim de semana soube-se que estava repleta deles por ser, em tese, a única onde não existiria a possibilidade de comunicação dos presos com comparsas e comandados soltos. Foi tornado público também que é corriqueiro o sobrevoo de drones. Os aparelhos levam aos presos materiais ilícitos como drogas, celulares e, suspeita-se, armas, como a usada na execução. Neste ano foram apreendidos 681 telefones móveis, contra 120 em 2023. Fica evidente que se comunicar de dentro do local se tornou rotineiro.

O governo gaúcho garante que 23 unidades prisionais no Estado passarão a ter bloqueadores de sinal de telefone e internet. Em meados de 2022, a promessa era instalar os equipamentos em 15 presídios até o final daquele ano, compromisso que não foi honrado. Aguarda-se que, desta vez, seja diferente e a tecnologia seja de fato implantada.

É necessário reiterar que a queda nos índices de criminalidade nos últimos anos no Rio Grande do Sul não permite concluir que a guerra contra as facções foi vencida. Embora os números como os de homicídios tenham diminuído de forma significativa, ainda estão distantes de patamares civilizados. Essas organizações, por outro lado, mostram-se cada vez mais complexas. Têm grande capacidade de regeneração, negócios de fachada para lavar dinheiro e acesso a instrumentos financeiros sofisticados. Passaram também a se infiltrar nas instituições, inclusive por meio de eleições. A pressão contra as facções, portanto, precisa ser incansável e em múltiplas dimensões, desde o policiamento ostensivo até estratégias de inteligência que permitam antecipar passos e descobrir e sequestrar seus bens e capitais. _


30 de Novembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Todas as pressões para o dólar acima de R$ 6

A sexta-feira vai passar para a história econômica porque o dólar ultrapassou uma grande barreira psicológica, a de R$ 6. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva responde pela marca neste momento porque a avaliação política equivocada pressionou o câmbio.

Mas a órbita poderia ter sido atingida, em outro momento, por força das medidas protecionais de Donald Trump, por exemplo. Ao longo do ano, houve várias fontes de pressão cambial, da própria eleição de Trump a guerras pelo mundo, passando pela longa novela do corte de juro nos Estados Unidos.

Na sexta, até uma boa notícia contribuiu para a alta do dólar: a menor taxa de desemprego da atual série histórica, de 6,2%. A corrente dominante dos economistas avalia que, quando o mercado de trabalho está aquecido, há mais risco de aumento da inflação. Por isso o dólar subiu várias vezes depois de dados de contratações nos EUA, porque "atrapalhava" a redução de juro por lá. É cruel, insensível, absurdo? Pode ser.

Digital de Lula, mas muitos fatores

Até o calendário pesou: a sexta foi o último dia útil do mês, quando é fechada a taxa Ptax, referência para contratos cambiais de mercadorias e derivativos. Como sempre ocorre, há muita especulação entre quem vai ganhar e quem vai perder com a cotação. Grandes quebras de barreira são como quedas de avião, nunca são resultado de apenas um problema.

Mas é claro que a maior pressão veio da desconfiança do mercado em relação ao pacote. E não apenas pelo ruído da isenção, também pelo conteúdo. As medidas apresentadas depois de semanas de negociação foram desidratadas em relação ao plano inicial. Embora no cálculo do governo representem economia de R$ 70 bilhões, nas contas de especialistas renderiam ao redor de R$ 45 bilhões.

E agora? Um sinal positivo foi o fato de a cotação ter baixado de R$ 6,116, a máxima do dia, quando os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e até o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deram declarações relativizando a isenção. _

Ao falar sobre intervenção do Banco Central (BC) no câmbio, seu futuro presidente, Gabriel Galípolo, afirmou que "falou com Roberto (Campos Neto)" e ambos concordam que só faz sentido quando há "disfuncionalidade".

Como ficaria o mínimo no pacote

A proposta do pacote de corte de gastos é limitar o aumento real a 2,5%, mesmo teto de despesas que existe no novo marco fiscal. Vai continuar subindo acima da inflação - o que não ocorreu entre 2019 e 2022, período em que era corrigido só pelo INPC. A partir de 2023, o cálculo voltou a ter crescimento do PIB. Por essa regra, para 2025 o reajuste do mínimo incluiria a inflação pelo INPC acumulado neste ano, com projeção ao redor de 4,5% (com base na projeção do Focus para o IPCA, que é de 4,63% e considerando que o INPC costuma ser ligeiramente menor), mais a variação do PIB de 2023, de 2,9%. Com o pacote, o adicional seria de 2,5%.

Na tabela acima, é possível ver que a diferença é de R$ 6. Claro, ainda é uma projeção, não um cálculo exato, mas a variação será pequena. Mesmo assim, nas contas do governo, a economia com a mudança será de R$ 2,2 bilhões em 2025, e poderia chegar a R$ 35 bilhões em 2030. O efeito nos gastos é grande porque todos os benefícios da previdência são vinculados ao mínimo. _

A diferença

Projeção para 2025 R$

Sem pacote 1.518

Com pacote 1.512

"Salutar", mas "insuficiente"

Espécie de "xerife das contas públicas", a Instituição Fiscal Independente (IFI) considera o pacote de corte de gastos "insuficiente para a reversão de déficits primários".

No entanto, vê a limitação do aumento real dos gastos ao teto do arcabouço fiscal (2,5%)como "salutar", já que "as despesas fora do limite podem comprimir as demais". _

"Governo cometeu um erro crasso"

Pesquisador associado da Fundação Getulio Vargas (FGV), Fabio Giambiagi é autor ou coautor de cerca de 30 livros sobre finanças públicas. Aqui, detalha as desconfianças sobre os anúncios do governo.

A confusão

"O governo cometeu um erro crasso de estratégia política falando em isenção do IR. É algo que só deve ter efeito a partir de janeiro de 2026. Contaminou toda a discussão que seria imediata acerca de medidas que devem vigorar em 2025. Então, é incompreensível."

As medidas

"Deixamos de discutir aquilo que é essencial, que são as medidas, também envoltas em dúvida. A dos militares tem efeitos ínfimos, a do abono traz efeitos minúsculos nos próximos dois ou três anos, o salário mínimo subir 2,5% em vez de 3% não faz tanta diferença."

Efeito negativo

"O efeito foi o oposto, com o agravante de que, do jeito que a discussão foi encaminhada, atropelou outras agendas. A reforma tributária ficou para trás e até as medidas do ajuste ficaram em segundo plano diante dessa discussão um pouco esotérica sobre a isenção do IR, que só vai entrar em pauta no que vem." 

GPS DA ECONOMIA


30 de Novembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

O possível asilo político de Bolsonaro

Após ser indiciado pela Polícia Federal (PF), sob a suspeita de planejar um golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou recentemente que não descarta se exilar em uma embaixada caso tenha a sua prisão decretada pelo Supremo Tribunal Federal durante o processo penal. Mas o que significa isso? A coluna conversou com a professora e advogada de Direito Internacional Eveline Brigido sobre o assunto. _

O que é o asilo político?

Conforme a professora, é uma proteção que um Estado pode dar a uma pessoa que é perseguida política. Além disso, essa perseguição é de caráter individual.

Diferença do refugiado político

Eveline ressalta que há uma diferença entre asilo e refúgio. O refúgio é usado para refugiados, ou seja, grupos que estão sendo perseguidos por questões religiosas ou de violações de direitos humanos, principalmente vinculados às questões de guerra: - Se chegar um refugiado no Brasil, não podemos devolver ele, temos de receber e analisar. Ou concedemos o refúgio ou encaminhamos para a Acnur (agência da ONU para refugiados) verificar se um outro país pode receber.

Asilo político anula casos de crimes comuns?

A professora explica que não. Uma pessoa pode receber o asilo político, porém isso não anula os crimes comuns, por exemplo, homicídios, lavagem de dinheiro, entre outros. Ou seja, o asilo está relacionado apenas a crimes políticos.

Qualquer pessoa pode pedir asilo? Como funciona o processo?

Eveline explica que sim. Ao pedir asilo, a embaixada procurada irá investigar se a pessoa realmente está sendo perseguida e ela terá de comprovar o fato em questão.

Diferença entre asilo diplomático e territorial

A advogada explica que o asilo diplomático ocorre quando um asilado busca uma embaixada em território brasileiro e permanece no local, sem sair do espaço. Já o territorial trata-se de quando o perseguido consegue, via um salvo-conduto, um meio de transporte e consegue ir até o país.

A decisão de asilar ou não é de quem?

- A decisão é do país que está recebendo, independentemente de o governo brasileiro ser contra, tem de respeitar o país que recebe esse asilado - explica.

A embaixada é inviolável

Eveline explica que a embaixada, ou seja, o local onde a pessoa pede asilo, não pode ser invadida. - Temos a obrigação de defender e de não entrar. Existe o que chamamos de inviolabilidade dos locais da missão diplomática. Isso está protegido pela Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas - comenta, lembrando que não há força policial que possa interferir ou invadir uma embaixada.

Quais as saídas após uma pessoa ser asilada?

Eveline explica que há, geralmente, duas opções: ou a investigação em curso no Brasil acaba ou a pessoa consegue asilo territorial. Não há prazo para isso ocorrer. - Ou a investigação não vai adiante, não tem uma denúncia e não vai para um processo criminal. Ou se negocia a retirada do asilo diplomático para o territorial, para que a pessoa possa ser deslocada para outro país.

Ato marca o início das obras do Assentamento 20 de Novembro

Apesar de já estarem em andamento há alguns dias, as obras do Assentamento 20 de Novembro, no bairro Floresta, em Porto Alegre, terão largada oficial em ato às 17h de sábado.

Localizado na Rua Barros Casal, 161, o prédio, que pertencia ao patrimônio da União, será convertido em um conjunto habitacional sustentável para 40 famílias de baixa renda, por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida - Entidades.

Os novos moradores do imóvel, que estava abandonado havia 50 anos, são do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), que lutam há 18 anos por uma moradia na Capital.

O assentamento foi resultado de uma negociação com o governo federal finalizada em 2016, quando a Cooperativa 20 de Novembro, entidade organizadora e responsável pela obra, recebeu a concessão do direito de uso do prédio. Em 2018, a obra estava licenciada, porém, em 2019, com a mudança de governo, as tratativas foram travadas. Neste ano, o processo foi retomado e, em outubro, foi assinado pelo Ministério das Cidades e pela Caixa para a reforma.

- É o projeto da minha vida. São 18 anos e agora mais dois anos de obra, são 20. Um sentimento que compartilhamos, de estar construindo um projeto que não é só a nossa casa, é uma experiência de um projeto habitacional - explica Ceniriani Vargas, coordenadora estadual do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), que irá morar com as duas filhas no local.

Conforme Ceniriani, a cooperativa não é apenas habitacional, mas também de trabalho, desenvolvendo frentes de costura, cenografia, alimentação e artesanato. _

No Litoral Norte, a piru-piru confere o drone

Durante uma pauta pelo Litoral Norte para um panorama das praias (leia mais nas páginas 4 e 5), o fotógrafo Jefferson Botega, ao realizar um voo de drone por Xangri-lá, deparou com uma ave que resolveu "dar uma espiada" no trabalho do repórter.

Trata-se de um piru-piru, comum na costa gaúcha, que vive entre as dunas.

Conforme o professor Paulo Ott, da Universidade Estadual do RS (Uergs), essa época entre a primavera e o verão é o período em que colocam os ovos:

- A espécie tem um comportamento parecido com o quero-quero, então provavelmente ela estava inspecionando o drone ou tentando avisar que o ninho estava por perto.

Segundo ele, a ave não apresenta riscos à população e não é agressiva.

O professor relembra cuidados para manter a espécie na região, como evitar a circulação de carros pela areia e até mesmo os cachorros soltos.

- Queremos tornar ela símbolo de conservação das dunas da região - disse. _

INFORME ESPECIAL

sexta-feira, 29 de novembro de 2024


29 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Ameaça a jornalistas

O excesso de poder inebriou Renato. Ele se vê como o próprio Grêmio. A imortalidade de estátua se misturou a sua carne finita. Foi se empedrando com o tempo, com as crises, com as refregas nas coletivas pós-jogo.

Ele é um ídolo em campo e na casamata, é o autor dos gols do único Mundial do Grêmio, é o treinador mais longevo da história do clube, com mais de 400 partidas, só que algo está estranho em seu comportamento.

No início, suas declarações pareciam folclóricas, com picos de autoconfiança. Agora elas beiram a violência e realmente assustam. O técnico vem travando uma guerra contra a imprensa, de tal maneira que não aceita mais senões. Denomina críticas de mentiras. Denomina oposições de calúnias.

Perdeu a temperança, o equilíbrio, o bom senso, o seu famoso e irresistível humor, justamente quando o seu time precisa de tranquilidade e serenidade para garantir apenas três pontos em três jogos e escapar do rebaixamento.

Como colorado, fico até constrangido de comentar o incidente na entrevista depois do empate com o Cruzeiro no Mineirão, na quarta-feira. Será que Renato não extrapolou os limites de seu cargo? O que ele proferiu não constitui uma ameaça grave a jornalistas, insinuando que a torcida pode persegui-los, inclusive pondo a integridade de suas famílias em risco?

Pois seu discurso sugere que, caso não calem a boca, irá denunciar o nome de um por um. A questão é que não chamou a retaliação para si, envolveu uma possível ação da torcida.

Se continuarem mentindo, vou dar nomes aos bois. Esta será minha última entrevista se vocês seguirem inventando mentiras. Vocês também têm família, têm filhos na escola, e o torcedor conhece vocês. Se continuarem assim, vocês também vão começar a enfrentar dificuldades.

Quais dificuldades? Ele não especifica. Porém, ninguém coloca a expressão "filhos na escola" impunemente. Não se trata de uma hipótese inofensiva. Por acaso não é uma frase de incitação ao ódio para atingir o que qualquer pessoa possui de mais precioso: o zelo por suas crianças e adolescentes?

Os "filhos na escola" dos meus colegas de ofício serão importunados? É isso o que ele deseja?

Seu tom não suscita uma represália efetiva, um convite para um massacre, uma autorização para um linchamento de profissionais que realizam o seu trabalho de cobertura esportiva, acostumados a fornecer opinião e informação?

Enquanto nos preocupamos em prevenir a violência das torcidas, surge Renato para inflamar os ânimos e armar um conflito? Não se restringe a uma tentativa de censura, acaba apresentando uma tendência de mobilização de uma massa apaixonada para cometer atos fora da lei.

Ele não tem noção do seu nível de influência? Do quanto forma posicionamentos? Não percebe que pode terminar responsável por vítimas inocentes?

Eu conheço o presidente do Grêmio, Alberto Guerra, desde a época em que dirigia a Associação Leopoldina Juvenil. É um homem público civilizado e regrado, com mais de 30 anos de experiência como advogado, um dos maiores especialistas no país em propriedade intelectual. Duvido que ele concorde com essa conduta de seu funcionário.

Repense, Renato, suas atitudes. Voltar atrás é também evolução. Ninguém está contra você, os jornalistas somente não compactuam com esse seu momento - um momento ruim entre tantos bons. _

CARPINEJAR

29 de Novembro de 2024
MARCO MATOS

A força do pensamento

Há muitos anos eu li sobre a lei da atração. Fiquei, naquela época, desconfiado sobre como o universo retribuiria, naturalmente, tudo que a pessoa desejasse genuinamente. Não me parecia fazer muito sentido, embora muita gente dê depoimentos dizendo que essa teoria realmente é potente.

Nos últimos tempos tenho tido a oportunidade de aprender mais sobre o comportamento humano na terapia que faço toda semana com minha psicóloga. Nossas últimas conversas foram justamente sobre o pensamento.

Tenho entendido que tudo o que pensamos gera sentimentos e que isso acaba produzindo comportamentos. Ou seja: o que a gente pensa tem total influência no que a gente faz. E, pra mudar algum comportamento que você ache necessário na sua vida, comece pela reeducação do pensamento.

Mas aí surge um grande problema: como fazer nossa mente parar de produzir tantos pensamentos a todo instante?

Tenho uma sugestão: meditar. Essa não é uma prática tão simples quanto parece e existem várias técnicas diferentes pra desenvolver a habilidade de "esvaziar a mente".

Algumas pessoas preferem focar na respiração. Inspira, expira, inspira, segura o ar, expira. Eu tive que usar outra técnica. Gosto de sentir um cheirinho bom (pode ser incenso, vela, aromatizador) e também ouvir um som bem baixinho. Uma meia hora assim renova!

Tenho feito isso uma vez por dia. Separo um tempo pra ficar comigo mesmo. Não reviso agenda, compromissos e nem coisas que fiz. Só deixo minha mente descansar, sem usar nenhum celular, sem me preocupar com nada. O poder que isso tem é incrível.

A consciência de como nossos pensamentos podem transformar nossas atitudes é fundamental pra buscarmos evoluir enquanto pessoas e como profissionais. E é aí que entra a tal "lei da atração".

Me dei conta de que aquela história do universo te entregar tudo que você desejar com muita força na verdade é um processo de você moldar teus pensamentos pra ter um comportamento que gere os resultados que você deseja.

Mudar é possível, mas não tem como mudar o jeito de ser pensando da mesma maneira. As transformações são sempre de dentro pra fora. Pense muito nos objetivos, nas coisas boas, no que vai te fazer crescer e ser melhor. Não há nada mais potente do que pensar. _

MARCO MATOS


29 de Novembro de 2024
OPINIÃO - Artigos -Gabriel Wainer

A inviabilidade de um país

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, tornou público o relatório do inquérito que abalou a República na última semana. O documento indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 36 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa. Os indícios são claros: houve uma intensa movimentação, usando o aparato do Estado, para inviabilizar a posse de Lula. Apesar disso, é importante lembrar: Lula tomou posse. 

Mas que houve planejamento para impedi-la, houve. Se vivêssemos num país com segurança jurídica e uma Justiça apolítica, e não apocalíptica, este inquérito não dividiria a nação. Estaríamos todos indignados com a mera cogitação da interrupção da democracia por agentes públicos, civis e militares. Mas não é o caso.

Como esperar que a população, aparvalhada pela polarização estúpida que nos assola como consequência de décadas de ineficiência da classe política à disposição, confie num ministro do Supremo que, ao vestir sua toga, se vê como arauto absoluto da democracia e não se constrange em ser vítima, promotor e juiz em um mesmo inquérito?

No texto que autorizou a operação da Polícia Federal na semana passada, Moraes foi o protagonista absoluto de sua própria decisão. Foram 44 citações a si mesmo. O presidente da República e seu vice, que também eram alvo do grupo que queria se manter no poder pela violência, aparecem 16 e 12 vezes, respectivamente.

A história do Brasil recente é pautada por frustrações profundas da nossa gente com o Judiciário. As operações Satiagraha e Lava-Jato são exemplos cristalinos disso. Os crimes que elas investigaram ocorreram, mas as irregularidades dos protagonistas anularam todo o processo e todos seguiram com suas vidas.

O destino de um país que não acredita na sua classe política é devastador, e somos todos testemunhas oculares deste flagelo. Mas o destino de um país que não acredita na sua Justiça - não porque não quer, mas porque não encontra subsídios para isso - é ainda mais tenebroso. Como diria Ruy Barbosa, contra a Justiça, não há a quem recorrer. _

Ouvir o coração

Dom Jaime Spengler

Arcebispo de Porto Alegre e presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Habituados a viver numa sociedade na qual o que importa é calcular, produzir e consumir, corre-se o risco de desconsiderar a dimensão humana dos sentimentos, ou seja, a necessária escuta do coração. Os sinais de tal situação são inocultáveis! A exacerbação do eu e a aceleração sempre maior da vida cotidiana dificultam a salutar atividade de escutar o coração. Num mundo sem coração tudo se torna hostil, sem acolhimento, solidariedade, paixão!

Experimentamos uma desvalorização do conceito "coração", consequência do racionalismo e do materialismo que preferiram conceitos como razão, vontade ou liberdade, convertendo-nos em consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado.

Vale recordar que o coração significa não somente um órgão vital do corpo, responsável pela fruição da vida, mas também um espaço privilegiado de decisões, pois "o coração tem suas razões, que a própria razão não conhece: percebe-se isso em mil modos" (Pascal, fr. 277).

O coração aponta para uma dimensão da existência a que o empirismo científico não tem acesso; ele expressa aquilo de mais íntimo que o ser humano tem, manifestando experiências vitais, que exigem empenho para serem captadas no seu vigor.

Quando não se dá "o devido valor ao coração, desvaloriza-se também o que significa falar a partir do coração, agir com o coração, amadurecer e curar o coração. Quando não consideramos as especificidades do coração, perdemos as respostas que a inteligência por si só não pode dar, perdemos o encontro com os outros, perdemos a poesia. E perdemos a história e as nossas histórias, porque a verdadeira aventura pessoal é aquela que se constrói a partir do coração" (Papa Francisco).

O coração possui uma flexibilidade que se adapta aos diversos aspectos do que se ama; dos olhos vai até o coração e dos movimentos exteriores conhece o que acontece no seu interior. Quando coração e razão caminham juntos, o amor dá muito prazer, porque junto se tem a força e a flexibilidade do espírito. _

Direto da Redação - Paulo Germano

O capacho brasileiro

Dá um cansaço, sabe? Não existe argumento que faça as pessoas refletirem. Em que momento mergulhamos nesse servilismo patético? Eu sei, não é novidade, mas ainda me surpreende a postura de capacho que tanta gente incorporou.

É saudável ter um mestre, claro, eu mesmo tenho vários: são eles que me ajudam a interpretar, questionar, compreender, ponderar, mas nenhum deles tem o poder de me anular. O que vemos hoje, em um fenômeno que atinge dos mais ignorantes aos mais letrados, é uma cegueira obediente que glorifica um sacerdote e abre mão de qualquer senso crítico.

O simples ato de pensar diferente do grande líder, ou seja, pensar por conta própria, já faz de você um inimigo. Aliás, vale lembrar que pensar por conta própria é a mesma coisa que só pensar. Porque pensar segundo padrões já estabelecidos - seja por convicções políticas, religiosas, morais ou culturais - não é pensar, é reproduzir pensamentos prontos.

E essa claque só faz isso. São incapazes de colher a opinião de seus mestres e, a partir delas, construir suas conclusões. Seus mestres nunca são um meio, um instrumento, um recurso a serviço do melhor caminho; eles são a personificação desse caminho, são a mais pura expressão da Verdade e da Certeza, portanto obedecer-lhes é uma honra, servir a eles é um orgulho, enaltecê-los é um tributo ao bem-estar da humanidade.

Quer dizer: um cidadão assim não pode, de jeito nenhum, reconhecer que seu líder errou. Porque, se reconhecer, a vida dele acaba. Ele viveu para exaltar esse líder, brigou com meio mundo para defendê-lo. Se parar de idealizar esse herói, a existência perde o sentido - e todos nós precisamos de um sentido para a nossa existência.

Isso explica o ódio à imprensa, inclusive. Afinal, se o mestre nunca erra, qualquer informação que atentar contra a perfeição do semideus será sempre conspiratória. Não há espaço para a dúvida, para a análise honesta dos fatos, para a percepção de que todos, sem exceção, somos falíveis.

E, antes de concordar com entusiasmo, pensando nas hordas cegas que idolatram o líder que você despreza, responda-me sinceramente: no fundo, você não faz igual? Ao condenar o servilismo alheio, não estaria você venerando seu próprio mestre, como se fosse ele o salvador? É fácil enxergar o capacho na casa dos outros. Difícil é perceber quando estamos ajoelhados, nós mesmos, diante do altar. 

OPINIÃO

29 de Novembro de 2024
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL -André Malinoski

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Expo Favela exibe exemplos de empreendedorismo na periferia. Cerca de 20 mil pessoas devem participar da exposição, que teve início ontem e segue até a noite de hoje no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Objetivo da programação é conectar as iniciativas surgidas nas comunidades mais vulneráveis com investidores e empresas.

Uma das maiores feiras de empreendedorismo da América Latina, a Expo Favela RS começou ontem, no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. A entrada para o público é gratuita. As atividades seguem até as 21h de hoje.

Pelo entusiasmo dos expositores e dos visitantes, a segunda edição do evento no Estado tem tudo para ser um sucesso. O coordenador da Central Única das Favelas (Cufa-RS), Júnior Torres, ressalta a importância da iniciativa, que tem foco nas favelas e nas comunidades periféricas.

- A Expo Favela contribui para a retomada econômica do Estado - afirma, dizendo que a expectativa é de que 20 mil visitantes passem pela PUC durante o evento.

A feira tem como objetivo conectar empreendedores das comunidades mais vulneráveis socialmente com investidores e empresas para gerar negócios e transformação social.

Ontem, estudantes de escolas públicas e de centros da juventude circulavam pelo espaço. Os expositores apresentavam projetos, produtos e serviços para o público. Até uma competição de estilo livre entre os barbeiros era acompanhada com entusiasmo pelos presentes.

Em paralelo, ocorriam palestras, workshops, exposições e rodadas de negócios, além de venda de livros. Também há oferta de gastronomia, atividades variadas e lojinha com produtos da Expo Favela RS.

Na parte da manhã, os jornalistas Vitor Rosa, Mary Silva e Eduardo Cardoso, da RBS TV, participaram de um painel em que puderam compartilhar histórias de resistência e solidariedade vivenciadas durante a cobertura da enchente de 2024.

Tecnologia e inclusão

Os efeitos da enchente de maio de 2024 e da pandemia de covid-19 serviram como estímulo para comunidades desenvolverem projetos para auxiliar pessoas em situações de risco. O desenhista mecânico Adílio Luis da Silva Camargo, 33 anos, é um desses casos.

Integrante da comunidade do bairro Multiforja, em Sapucaia do Sul, ele procura empresas ou empresários dispostos a investir no projeto pensado por ele e por outros amigos. Trata-se de drones para auxiliar bombeiros e Defesa Civil em situações extremas.

A Sky Key Technology, startup embrionária, ainda não tem clientes, mas desenvolve essa ideia há 10 anos. A proposta é que o drone possa carregar até 500 quilos de peso, levar recipientes com remédios e kit de sobrevivência para as vítimas de enchentes que estejam em locais de difícil acesso.

- Tudo o que desenvolvemos hoje foi com nosso custo e conhecimentos - observou Camargo.

O Grupo Marias surgiu em 2021 e tem atuação na Restinga. O projeto foi criado visando proporcionar inclusão social e autonomia por meio do desenvolvimento das potencialidades de mulheres vítimas do desemprego e da violência doméstica.

Mulheres atendidas estiveram visitaram a Expo Favela RS. No estande do grupo, há trabalhos expostos realizados no projeto.

- O que nós vendemos aqui, e ajuda a manter o Grupo Marias, são as mantas produzidas por elas e feitas durante a enchente - explica a professora Rosana Kasper. _

Jogos de tabuleiros inspiram curta-metragem

A Expo Favela RS exibe atrações desconhecidas para muita gente. Um exemplo são os jogos de tabuleiros dos povos originários, que inspirou até filme no YouTube.

- A nossa proposta é produzir um curta-metragem, que é um produto educacional - explica a professora de matemática Karine Soares da Silva, 45.

O curta foi elaborado como um produto educacional e cultural, oferecendo para a comunidade o reconhecimento de identidade, valorização ancestral e a construção de seres mais críticos, criativos e autônomos. A viabilização foi possível por meio da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar 195/2022).

A docente da Escola Estadual de Ensino Médio Mario Quintana, de Alvorada, conta o que consegue ensinar aos alunos por meio dos jogos.

- Eu consigo trazer a etnomatemática existente nesses jogos para dentro da sala de aula - assegura.

O filme já foi gravado e, agora, o objetivo é a produção de outros filmes, e-books e livros sobre a temática dos povos originários.

- Tem muito pouco material dela (temática dos povos originários) no mercado - conclui Karine. 



29 de Novembro de 2024
BOAS EXPECTATIVAS - Bruna Oliveira

Boas expectativas

Black Friday deve injetar R$ 780 mi na economia do RS

Lojistas da Capital projetam tíquete médio de compras superior ao do ano passado. Procura é maior por eletrodomésticos. Alguns estabelecimentos vão estender horário

Aquecimento para o Natal, data mais quente do comércio no ano, a Black Friday, celebrada hoje, busca nas tradicionais promoções a oportunidade de conquistar o consumidor. Em 2024, são esperados descontos médios de até 30% em Porto Alegre.

A projeção é do Sindilojas da Capital, que também estima que o tíquete médio de compras deve ser maior neste ano, em R$ 1.361. O valor é quase 10% superior à média projetada para a data no ano passado e reforça, segundo o presidente da entidade, Arcione Piva, a intenção dos consumidores de fazerem compras na data.

- Esperamos uma Black Friday boa, com grandes expectativas para o Natal. A percepção nas ruas é de que o varejo aderiu e está com atrativos para aproveitar este momento - acrescenta o dirigente.

A tendência é de que algumas lojas de rua estendam o horário de funcionamento até as 20h, mas não há sinalização de aberturas dos locais madrugada adentro, como chegou a ocorrer em edições anteriores.

Nos shoppings, as lojas devem manter o funcionamento até as 22h. Um dos motivos, na avaliação do sindicato, é a possibilidade de expandir as vendas para o e-commerce.

Reposições da enchente

Outro diferencial neste ano deve ser o tipo de consumo. Conforme o Sindilojas, ainda há consumidores buscando produtos para repor as perdas pela enchente. Ou porque tiveram dificuldade financeira para comprar antes, ou porque as perdas foram muito grandes. Entre os itens mais procurados, os eletrodomésticos lideram.

Apesar de a data oficial da Black Friday ser hoje, há expectativa de que as promoções sejam mantidas pelo menos até amanhã, aproveitando janela de pagamento da primeira parcela do 13º salário.

No Estado, a projeção da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do RS (FCDL- RS) é de que a data injete R$ 780 milhões na economia, considerando vendas físicas e online. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2024


28 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

Ainda estamos aqui

Temos que elogiar o Exército. Ainda estamos aqui, na democracia, devido a sua postura imparcial e autônoma. Só houve a manutenção do Estado democrático de direito porque o nosso Exército não embarcou na aventura do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Se o Exército não tivesse mostrado resistência, a história teria sido outra. Não houve tanques nas ruas, não houve esquadrilha no céu, não houve navios nos portos. Os canhões não miraram os direitos humanos.

De acordo com investigação da Polícia Federal, o ex-presidente "planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva" do plano de golpe de Estado em várias frentes.

Não há como banalizar a manifestação de 8 de janeiro e a invasão dos três poderes, ou mesmo a arquitetura secreta e insidiosa de impedir a diplomação de Lula. Não se tratou de meras especulações ou quimeras dos bastidores.

Como disse o próprio Bolsonaro: "Não existe golpe com general da reserva e mais meia dúzia de oficiais".

De todas as informações assustadoras a respeito do complô que estão vindo à tona, a única boa notícia é a remissão do Exército, que parece ter aprendido com os seus erros do passado e não reeditou a ditadura militar.

- Garantir a ordem, a lei e os poderes constitucionais no interior do país. Talvez tenha sido o primeiro movimento real de anistia partindo de dentro dos quartéis em direção à sociedade, e não da sociedade para os quartéis.

Mas sei que ele mudou de perspectiva. As feridas abertas com a farda verde-oliva começam a cicatrizar.

Embora tenham apenas respeitado as suas obrigações, merecem medalhas de Honra ao Mérito. Já conhecemos os dois mais importantes bastiões contra a ruptura institucional: Carlos de Almeida Baptista Jr., da Aeronáutica, e Marco Antônio Freire Gomes, do Exército. Festejemos suas façanhas. _

CARPINEJAR


28 de Novembro de 2024
LUCIANO POTTER

Roupa consertada

Já arrumou um brinquedo para uma criança? Se sim, tenha certeza de que ali já mora uma amizade. E se ela acompanhou o ato, então você é majestade.

Durante a Segunda Guerra, Londres bombardeada por nazistas incessantemente, a normalidade da cidade faleceu. Londrinos se escondiam em túneis, porões para mísseis não acabarem com suas vidas.

Assim, eles precisaram se virar. Com o mais óbvio, comida. E com aquilo que não damos tanta bola assim: roupas. Ingleses viraram costureiros. Roupas em tempos de guerra viram proteção. Do frio, do calor, da vergonha. E assim milhares de pessoas em Londres costuravam, do jeito que dava. Mas o que eles mais faziam era consertar roupas gastas. Tapar furos, arrumar botões e zíperes, enfim, consertar para sobreviver.

Corta para agora.

Sou filho de costureira. Dona Marlene conserta roupas. Se ela quiser, até as faz. Já fez cuecas e calcinhas para venda! Minha vida inteira na casa dos pais tinha um barulho bom de máquina de costurar.

A gente brinca que "todo mundo usa a Marlene"! E tem lá o seu fundo de verdade. Uma barra de calça? A mãe arruma. Ficou pequena a cintura? A mãe aumenta fazendo mágica que nunca entenderei. Punho comprido? Ela diminui. Furos e rasgos? Se costura com ela!

Agulhas, fitas métricas, linhas e tesoura. Tudo ela tem, tudo na nossa volta. Mas o ato de costurar consertando peças tem algo a mais.

A tranquilidade dela. O gosto daquilo. Toda paciência do mundo pra fazer algo ser reutilizado. Todo carinho para encurtar uma camisa do Messi para o neto que sai correndo de felicidade com ela certinha no corpo. Todo o servir.

O servir sem peso. O servir para o outro. A delícia de enxergar que o outro importa. É por isso que minha mãe costura.

A roupa consertada é o afago no outro. É o dar importância para outro alguém. É ser feliz pelos outros. Porque ela não cobra nada! Temos que brigar para tentar um preço pelo trabalho certeiro e demorado.

Dona Marlene?

Azar das grandes grifes por não te ter lá. Sorte a nossa de saber que não é só uma costura?

É, e sempre será, em cada ponto com nó teu, amor em ver outros felizes. 

LUCIANO POTTER