EDITORIAL
Pelo crescimento duradouro e saudável
O mercado de trabalho continua surpreendendo e demonstrando força no país. O desemprego no trimestre encerrado em junho ficou em 6,9%, menor taxa para o período desde 2014. Também em junho, foram criados 201,7 mil postos com carteira assinada, número acima das estimativas do mercado.
São sinais inequívocos de que a economia nacional performa razoavelmente bem ao longo do ano. Enquanto o Boletim Focus, do Banco Central (BC), aponta para um avanço de 2,19% do PIB, o Ministério da Fazenda estima alta de 2,5%. Não é nada extraordinário, mas no início do ano as apostas do mercado situavam-se ao redor de 1,5%.
São indicadores que devem dar conforto ao governo federal para cortar despesas e buscar o cumprimento das regras do arcabouço fiscal. Sabe-se que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é adepto de estímulos governamentais para dar impulso à atividade. Mas os dados conhecidos sobre o desempenho da economia até a metade do ano mostram que, em termos de país, não é um empurrão necessário. O mais adequado é ter cautela com os gastos públicos para garantir que não exista deterioração maior dos fundamentos essenciais para continuidade do crescimento nos próximos anos.
Preocupa, por exemplo, o avanço da dívida bruta do governo. Em junho, conforme o BC, chegou a 77,8% do PIB. É o maior nível desde novembro de 2021, reflexo da política fiscal expansionista do governo. Duas semanas atrás, a Fazenda informou um bloqueio de R$ 12 bilhões do orçamento de 2024, mais um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões. Assim, chegaria a um déficit de 0,25% do PIB neste ano, o limite inferior da banda de variação que formalmente permitiria afirmar que a meta do marco fiscal foi cumprida. Ou seja, o esforço foi o mínimo necessário.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu na quarta-feira manter a Selic em 10,5% ao ano e, no comunicado, não fechou totalmente a porta para uma alta na próxima reunião. O fiscal é um dos riscos listados. Um aviso, portanto, de que seria necessário se empenhar mais na gestão dos gastos.
Um novo aperto monetário seria desastroso em especial para o Rio Grande do Sul, que ainda tenta se recuperar do tombo econômico causado pela cheia de maio. Juro mais alto trava a economia, os investimentos produtivos e o crédito. Registre-se que, na contramão do restante do país, o Estado fechou postos com carteira assinada em maio e junho.
O governo federal também anunciou um pente-fino nos desembolsos com o benefício de prestação continuada (BCP) para detectar irregularidades. Deveria ir além e revisar de forma estrutural gastos como as despesas obrigatórias e indexadas. Voltar a produzir superávits é importante inclusive para melhor enfrentar situações excepcionais, como a tragédia climática gaúcha. O apoio financeiro ao Rio Grande do Sul, pelo caráter atípico do acontecimento e pela crise humanitária que gerou, ficou fora da redução de despesas anunciadas pela Fazenda, como deveria ser. Mas, para se reerguer economicamente, o Estado também precisa que o Brasil cresça de forma duradoura e saudável, sem novos solavancos. _
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