quarta-feira, 6 de outubro de 2021


06 DE OUTUBRO DE 2021
DAVID COIMBRA

Uma história extraordinária

Existe, na Amazônia, um rio chamado Roosevelt. Tem quase 800 quilômetros de extensão, rasga os estados do Mato Grosso, do Amazonas e de Rondônia, no lado oeste do Brasil, perto da Bolívia. Esse rio se chama Roosevelt porque foi exatamente ele, o ex-presidente dos Estados Unidos, o primeiro a explorá-lo, junto com o extraordinário marechal Cândido Rondon, que, como você sabe, é brasileiro da gema e da clara.

Rondon foi um herói. Merece que um Estado inteiro, Rondônia, o homenageie. Suas aventuras se equiparam às dos mais famosos exploradores do planeta, como David Livingstone, Richard Burton e Roald Amundsen. Foi um pacifista convicto. Seu lema era: "Morrer, se preciso. Matar, nunca". Amava os índios. Por inspiração dele, Nilo Peçanha, o primeiro e até agora único presidente negro do Brasil, criou o Serviço de Proteção ao Índio.

Já o companheiro dele de expedição, Roosevelt, era o Theodore, não o Franklin Delano. Theodore foi presidente na primeira década do século 20. Era naturalista, gostava de fazer safáris e caçadas. Uma vez, quando participava de uma caçada a ursos nos Estados Unidos, aconteceu um fato que o tornou ainda mais famoso. Seus companheiros conseguiram prender um urso numa armadilha e o chamaram para que desse o tiro fatal no bicho. Theodore se recusou a fazer isso, alegou que era antidesportivo. No dia seguinte, os jornais contaram a história e um deles publicou uma charge em que o presidente aparecia se negando a abater um ursinho pequeninho e fofo. O título da charge era Teddy Bear. Teddy, o apelido de Theodore, e "bear", que significa urso. É por isso que, até hoje, os ursinhos de pelúcia, nos Estados Unidos, não são ursinhos de pelúcia; são Teddy Bears.

Teddy veio ao Brasil em busca de emoções fortes. Havia deixado a presidência dos Estados Unidos e se sentia enfarado. Quando chegou ao país, conheceu Rondon, que estava prestes a sair numa expedição para mapear um rio desconhecido, que, por ser desconhecido, tinha sido nomeado como "Rio da Dúvida". Roosevelt pediu para ir junto, Rondon topou e lá se foram os dois para empreender uma peripécia formidável, que transformaria o misterioso Rio da Dúvida no Rio Roosevelt.

Essa história é contada por um pequeno seriado de quatro episódios intitulado O Hóspede Americano. Está na HBO. Mas o melhor é ler o livro no qual o seriado se baseia, O Rio da Dúvida, da jornalista americana Candice Millard. Essa moça, Candice, é dona de um texto que o velho Tatata Pimentel qualificaria de pri-mo-ro-so. Suas descrições da selva amazônica são as mais vívidas com que deparei. Ela transforma a história no que ela realmente é: um épico. Há de um tudo nessa trama: desespero, roubo, morte, covardia e heroísmo.

Vou fazer um favor a você, sortudo leitor: vou indicar a leitura deste belo livro para o fim de 2021. Leia-o, se encante e você verá que suportar um ano e meio de peste nem é tão difícil assim.

DAVID COIMBRA

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