04 DE SETEMBRO DE 2021
BRUNA LOMBARDI
VIAGEM PRA LONGE, AQUI MESMO
Quem sente saudade de viajar lembra sempre dos melhores momentos, das fotos mais legais, de todas as delícias e esquece todos os perrengues. E quando lembra deles acaba rindo, transformando num fato pitoresco. Atrasos, filas da alfândega, mala perdida, trem errado, multa no carro alugado, o péssimo humor do garçom num restaurante roubada de comida ruim e conta cara, até aquele golpe em algum mercado exótico, viram todas histórias de auto deboche pra contar pros amigos.
O que a gente mais gosta da viagem é aquela sensação de liberdade, a quebra de rotina, a mudança de paisagens, horários, nenhuma obrigação de fazer as tarefas cotidianas, uma certa irresponsabilidade e uma avalanche de informações e acontecimentos que trazem novas ideias pra nossa cabeça.
Talvez tudo isso possa estar ao nosso alcance agora, mesmo sem sair de casa, nem do bairro e nem da cidade.
A gente pode acordar amanhã e olhar tudo de um jeito novo. Olhar em volta de nós como se fosse uma novo lugar, olhar as mesmas coisas conhecidas com aquela surpresa da primeira vez.
Experimente. Imagine seu quarto como o quarto gostoso de um hotel e você adorou a cama, os lençóis, o travesseiro. Olhe pra suas velhas coisas como se nunca tivesse visto nada daquilo. Tome um café em frente à janela, olhando o céu. Escolha alguma fruta que você adora, compre quem sabe um croissant, prepare um cappuccino. Ouça uma música.
Quando sair pra rua, leve alguma coisa que você não costuma levar, uma echarpe, algo que te traga a sensação de um passeio. Se curtir, passe um batom, mesmo debaixo da máscara. Afinal, é pra você e mais ninguém a nova sensação.
Olhe pra rua, a mesma que você passa todos os dias, com um novo suspiro. Sinta o vento leve no rosto com a emoção de encarar um lugar desconhecido, desses em que a gente precisa de um mapa. Olhe cada árvore, janela, portão. Feche os olhos, respire fundo e deixe seu olhar demoradamente perdido no céu, acompanhando o movimento das nuvens, os reflexos da luz em cada planta.
Tudo na vida é uma questão de perspectiva. Quando visitamos um lugar novo, estamos mergulhados na nossa fantasia da viagem, embebidos pela ideia que o tal lugar representa no nosso imaginário. Paris é uma festa, Nova York é excitante, Marrocos é tão exótico. Essas imagens são fotos inebriantes muito antes da gente conhecer tais cidades. Veneza é romântica, Roma é belíssima e mais de 40 séculos nos contemplam nas pirâmides do Cairo.
Tudo bem, tem coisas que não dá pra competir, a história tem o poder de nos transportar com sua força milenar. Talvez nossa cidade não tenha tantos atributos, mas tenho certeza que tem seu valor pra qualquer turista, pra quem não é rotina. E quem mora nesses lugares icônicos acostumou e nem olha mais aquilo tudo que o turista vê.
Em cada canto do mundo você vai encontrar encantamento se for com essa proposta. E os tais perrengues de viagem são nossos perrengues do dia a dia, que a gente também pode olhar com humor. Se você for capaz de recriar a sensação de aventura andando pelo seu bairro, se deslumbrar com as flores inesperadas em algum muro, achar a mesma graça comprando frutas na feira, você vai ter acesso a esse prazer sempre que quiser.
Você acredita que já viu tudo na vizinhança? Com certeza não. Faça um tour na sua casa, na sua rua, no seu bairro. Tem muita coisa pra ser descoberta aí mesmo onde você se encontra. Na verdade, tem muita coisa pra ser descoberta na sua alma. Aproveite o clima e seja esse viajante fora e dentro de você.
Boa viagem.
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