domingo, 24 de abril de 2011


CARLOS HEITOR CONY

A prece e o resultado

RIO DE JANEIRO - Dou razão à minha mãe. Quando as coisas se complicavam e aconteciam tragédias amontoadas, como as de agora, ela dizia que "o Diabo estava solto". Na cabeça dela, os homens eram bons, ou pelo menos aproveitáveis. O diabo é que era o próprio Diabo.

Todos confiávamos num século novo, num novo milênio que nos traria paz e alegria. Chegaríamos enfim à desejada praia, a Canaã onde leite e mel correriam à farta, não haveria fome nem guerra nem peste -a santíssima trindade que inferniza a humanidade desde que nossos primeiros pais foram expulsos do paraíso terrestre.

Pois continuamos na mesma, que no fundo equivale a continuar na pior. Há fome, guerra e peste. Nem a tecnologia laica nem a caridade religiosa conseguiram colocar diante de cada boca um prato de comida. A dengue já atingiu diversos Estados que apresentam risco alto ou muito alto da epidemia, e a taxa de mortalidade está proporcional ao surto.

E a guerra -a temos em todas as regiões do planeta, embora sob formas diferentes e motivos bem variados.

Até que os conflitos na Ásia e no Oriente Médio são relativamente ortodoxos, na base do dente por dente, olho por olho. Brigas por antecipação, se não atacar fatalmente me atacarão, são momentos agudos de crises complicadas e difíceis de resolver.

E a guerra a favor do ambiente, contra o bullying nas escolas, contra o bafômetro no trânsito, a venda de armas e, sobretudo, contra o colesterol. Houve um presidente da República que chegou a declarar greve contra a fome.

Na Ladainha de Todos os Santos da liturgia católica, há uma imprecação que diz: "Da peste, da fome e da guerra, livrai-nos Senhor!". Na minha juventude, rezava sempre esta ladainha, só que em latim: "libera nos Domine!". Não adiantou muita coisa.

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