quarta-feira, 20 de abril de 2011



20 de abril de 2011 | N° 16676
MARTHA MEDEIROS


Ladrão que rouba ladrão

A violência urbana já está virando piada. Saiu anteontem em Zero Hora: um assaltante rendeu um casal de namorados e estava levando o carro deles quando foi interceptado por três colegas de profissão. Atônito, ele ainda tentou garantir seus direitos: “Mas sou eu que estou assaltando!”.

Não houve acordo. Os que chegaram depois ficaram com a arma do primeiro bandido (que fugiu correndo) e com o carro do assaltado. A este, restou a vida preservada e uma história original para contar aos amigos.

Na página seguinte, na mesma edição de anteontem, detalhes dos mandos e desmandos de Paulo Márcio da Silva, o Maradona, no campinho que ele domina, a penitenciária. Célebre homicida, com condenações que somam mais de 135 anos de detenção, o líder do crime no Estado comanda narcotráfico, execuções e assaltos de dentro da cela, através de um celular. E isso vai continuar, não importa para onde o transfiram.

A primeira notícia ainda tem o frescor da novidade, mas a segunda é vexame público reprisado. Colocam o sujeito numa cadeia de segurança máxima e ninguém consegue deter a corrupção que possibilita que, através de telefonemas, se ordenem barbaridades.

A promessa de “vamos tentar bloquear o sinal de celulares no local” é sempre tirada da manga nessa hora, e nada muda. Daqui a um ano, dois anos, estarão propondo o mesmo, fazendo testes, procurando um jeito, encenando um movimento. Ninguém tem real interesse, ou já teriam feito.

O “sistema penitenciário” é uma abstração, não existe como pessoa física. Quem coloca celular na mão de bandidos é pessoa física, algum José, Roberto ou Sandoval que trabalha no esquema e tem as costas quentes. Um protege o outro, um paga o outro, e essa rede de camaradagem destrói o sossego da sociedade e a moral do governo.

Não se combate violência sem combater corrupção. E corrupção se combate com ética, e ética se aprende onde? Em casa. Mas será que pais e mães tiveram educação adequada para repassar esse conceito para seus filhos? Pois é, esse é o tamanho da encrenca. Nenhum país vira uma Suécia por decreto.

Pensando bem, não há nada de original na primeira notícia, aquela do assaltante que foi assaltado. Há muito tempo que ladrão rouba ladrão, numa acirrada disputa de poder a fim de confirmar quem é mais competente na arte da criminalidade. Uma pena que do lado de fora das celas o profissionalismo não seja o mesmo.

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