sábado, 23 de abril de 2011



24 de abril de 2011 | N° 16680
PAULO SANT’ANA


Tratamento intensivo

Eu teria cacife e retaguarda suficientes para deixar de trabalhar, acometido da doença grave que estou.

Mas eu me convenci arduamente de que minha cura depende de dois fatores: da radioterapia que inicio no fim desta semana e de continuar escrevendo esta coluna.

Ou seja, dependo dos médicos, dos equipamentos que eles manejam, mas dependo muito também de continuar trabalhando e me sentindo útil.

Só assim poderei vencer minha moléstia.

Encontrei-me, na quinta-feira, com o Fabrício Carpinejar, aqui no jornal.

Quando eu disse a ele que estou preste a me submeter a meses de radioterapia, ele sentenciou: “Terapia tu já fazes na rádio há 40 anos”.

Eis que sexta-feira, às 18h, eu estava envolto na dicotomia tratamento médico-trabalho, quando caiu uma tempestade sobre Porto Alegre.

Eu tinha de interromper a escrita desta coluna e dirigir-me a um médico que me esperava em algum lugar da cidade. Por sinal, não existe há meses qualquer percurso da cidade que eu intente que não tenha no seu final um médico me esperando.

E eu fui ao médico. Mas a tempestade de sexta-feira paralisou muitos pontos de Porto Alegre, caíram árvores, fios foram derrubados, até um circo que estava funcionando na cidade àquela hora teve de interromper o espetáculo em face da borrasca: eram palhaços, malabaristas, mágicos correndo para todos os lados, em fuga da chuvarada, segundo a Rádio Gaúcha noticiou.

Da minha parte, fico espantado de como são suscetíveis de danos as instalações elétricas da cidade.

Vários bairros ficaram sem luz na sexta-feira, inclusive o do médico que me esperava às 18h30min.

No táxi, a caminho do médico, telefonei para ele, avisando que estava me dirigindo à nossa consulta. Ele me disse:

– Não vem, que estou no 10º andar e faltou luz no edifício. Vai ter de ficar para mais tarde o nosso encontro.

Estranhíssimo, estou diante do consultório do médico que me espera. Estamos a poucos metros de distância, eu e o médico, mas não posso me encontrar com ele porque não há energia elétrica no edifício e nem eu posso assim subir os 10 andares, nem ele pode descê-los.

Um impasse, decretado pela falência da energia elétrica no bairro do meu médico, extensivo a vários outros bairros.

Fico assim cismando, na volta para o jornal, sem atendimento médico, sobre como a água e a energia elétrica são importantes na vida mesmo moderna.

Se falta água, ainda se corre ao supermercado e se a compra.

Mas, se falta energia elétrica, onde se vai adquiri-la?

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