quinta-feira, 28 de abril de 2011



28 de abril de 2011 | N° 16684
LETICIA WIERZCHOWSKI


Do desrespeito no trânsito

Volto para casa depois de devolver alguns filmes na locadora e, caminhando pela calçada, observo com pesar a moradora do prédio ao lado do meu, que entra na rua com seu carro pela contramão. Faço as contas: ela economizou um precioso minuto do seu dia ao ignorar as leis de trânsito, deixando de dar a volta na quadra de maneira a circular corretamente pela própria rua onde vive.

Se essa vizinha percebeu meu olhar furioso, fez pouco caso. Mas, afinal, o que é um olhar para alguém que ignora (provavelmente todo santo dia) uma bela placa vermelha sinalizando a mão única? Essa mesma vizinha, suponho, indigna-se ao ver os noticiários de TV, e reclama quando, numa faixa de pedestres, os carros não param para lhe dar a devida passagem. É impressionante como nossos julgamentos geralmente são parciais.

Como essa minha vizinha, existem outros tantos moradores daqui que andam com seus carros pela contramão numa boa, apenas porque é mais fácil – como se a lei do menor esforço fosse o alicerce fundamental da sociedade civilizada.

Muita gente reclama dos políticos corruptos, reclama do serviço público, reclama da pressa alheia, da grosseria alheia, do egoísmo alheio. E segue por aí, pingando a sua gota de desrespeito no balde do trânsito já tão difícil da nossa cidade.

E hoje leio com pesar a história do religioso que morreu atropelado em plena faixa de pedestres em Santa Maria. Não é a primeira, nem a última história. Dia desses, comoveu-me o depoimento (publicado aqui na Zero Hora) da mãe de um menino de 14 anos, que morreu atropelado por um caminhão quando cruzava de bicicleta uma faixa de segurança numa avenida de Porto Alegre. Histórias, histórias, todas tristes...

Histórias que se vão construindo a cada vez que um motorista avança sobre um pedestre, desrespeita a sinalização ou dirige por aí embriagado.

Toda história começa em algum lugar, silenciosa e discretamente, até que se faça a conjunção ideal entre hábito e circunstância, e o triste epílogo nós leremos ao abrir o jornal pela manhã. Acidentes acontecem – principalmente quando o desrespeito vira um hábito.

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