sábado, 30 de abril de 2011



30 de abril de 2011 | N° 16686
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


A literatura regionalista no Rio Grande do Sul - final

No meio da década de 20, os gaúchos são surpreendidos pela Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, um caldeirão de tropicalismo, antropofagia, tenentismo, cinema e Deus sabe mais o quê. No Rio Grande do Sul, imediatamente se nota a influência da nova poesia, com Vargas Neto, Pery de Castro, Augusto Meyer e Manoelito de Ornellas fazendo versos gauchescos dentro do espírito modernista.

Depois, no rastro de Ramiro Barcellos (antes tarde do que nunca), Waldemar Corrêa, José de Figueredo Pinto, Balbino Marques da Rocha e, correndo em trilho apartado, Aureliano de Figueiredo e Pinto, Nogueira Paz, Amândio Bicca e Glaucus Saraiva, este, para mim, o mais impressionante.

Vem o Movimento Tradicionalista, a partir de 1948. Surgem poetas como Nitheroy Ribeiro, Jaime Caetano Braum, Luiz Menezes, eu mesmo, Apparicio da Silva Rillo, José Hilário Retamozo, Guilherme Schutz Filho, entre outros.

Concorrendo em faixa própria na mesma época havia o poeta comunista Lacy Osório, sempre fiel às origens, o poeta do grupo Quixote Silvio Duncan e o poeta negro Oliveira Silveira, gauchesco e originalíssimo. Mozart Pereira Soares é a voz gauchesca do verso missioneiro. Hugo Ramirez é a própria Estância da Poesia Crioula encarnada.

Frisa-se: a poesia regionalista, sempre erudita, não é a poesia feita pelo gaúcho, mas para o gaúcho. Aliás, pouquíssimos desses poetas aqui citados são ou foram campeiros, bons conhecedores das lides de estância ou rancho. Em realidade, são homens de cidade, onde se educaram e de onde, com saudade, evocam um pago real ou idealizado.

Houve, faz tempo, quem prognosticou o fim da poesia gauchesca pelo esgotamento de modelo de estância e rancho: os poetas remanescentes da Estância da Poesia Crioula, que teriam conhecido o campo gaúcho “comme Il faut”, estavam morrendo. Duas ocorrências, porém, salvaram a poesia crioula: nem os poetas mais antigos eram tão campeiros assim, nem o modelo em discussão dependia tanto deles. A poesia campeira tinha e tem vida própria.

Com o surgimento do périplo dos festivais da canção gauchesca, a poesia crioula simplesmente passou para os jovens compositores “a lo mejor” descompromissados com a vivencia gauchesca, como Luiz Coronel, Gilberto Carvalho, Airton Pimentel, Dilan Camargo, Nilo Bairros de Brum, Mauro Morais, Vaine Darde, mas sobretudo esse magnífico Elton Saldanha, um poeta de rara sensibilidade, que seria poeta em qualquer rincão do mundo, herdeiro de bardos e aedos, menestréis e trovadores.

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