quarta-feira, 16 de julho de 2008


Daniela Chiaretti - Valor Econômico - 16/7/2008

Clima pode provocar perdas de US$ 100 bi

Nos últimos 30 anos, perdas provocadas por tempestades, secas e furacões aumentaram em 15 vezes, segundo cálculos do desembolso pago pelas seguradoras no mundo. Somente em 2005, as catástrofes naturais significaram danos de US$ 60 bilhões.

Projeções indicam que, entre 2010 e 2019, os prejuízos devem ficar próximos a US$ 41 bilhões ao ano, e algumas estimativas mais pessimistas trabalham com cifras de até US$ 100 bilhões. As mudanças climáticas estão definitivamente incorporadas às planilhas da indústria mundial de seguros.

Esses dados impressionantes foram divulgados ontem por Lutz Cleemann, chairman de desenvolvimento sustentável corporativo do Grupo Allianz, a gigante de seguros alemã que é a maior da Europa. "As mudanças climáticas são um grande desafio para o setor de seguros hoje e vão continuar a atingir nossas economias", disse.

PhD em física nuclear pela Universidade de Colônia, na Alemanha, Cleemann acredita que o uso da energia nuclear, em um mundo às voltas com o aquecimento da temperatura, "é necessário, pelo menos por um certo período."

Esta nova vertente está provocando inovações no cálculo de sinistros e prêmios. Tradicionalmente, a conta se faz tomando por base dados históricos.

Agora, as seguradoras trabalham junto de especialistas em modelagens climáticas, buscam os estudos e previsões mais recentes e incluem instrumentos incomuns para construir seus modelos. Uma das ferramentas, por exemplo, é o software do Google Earth. "Não podemos mais olhar para o passado para avaliar riscos" , diz ele.

Angelo Colombo, o executivo de grandes riscos da Allianz Seguros, dá pistas da dificuldade citando a análise de riscos que se costumava fazer para hidrelétricas. Nestes projetos, levavam-se em conta séries históricas de chuvas dos últimos 60 anos. "

A altura da barragem era definida pela chuva forte com menos probabilidade de ocorrer em mil anos", explica, "mas estes dados históricos não valem mais. Hoje há incidência de chuvas na cabeceira de rios onde antes não ocorriam ou precipitações de intensidade nunca registradas."

Segundo Colombo, já aconteceram muitos sinistros em hidrelétricas do Sul do Brasil, instaladas em rios que correm por vales de calha funda, em forma de V. "Há vários casos de alagamento da casa de força, que costuma ficar em áreas mais baixas."

As negociações internacionais por um acordo que vigore depois de 2012, quando expira o primeiro período do Protocolo de Kyoto, são acompanhadas de perto pelo setor, assim como investimentos em soluções tecnológicas ou em energia renovável.

Linhas especiais de seguros começam a surgir nestes campos. Desde 2005, o grupo Allianz tem parceria com uma das mais sólidas ONGs ambientalistas do mundo, a WWF.

Ontem, em seminário promovido pela seguradora, a analista do Programa de Mudanças Climáticas e Energia da WWF-Brasil, Karen Suassuna, mostrou o que se sabe e o que se desconfia que pode ocorrer à Amazônia nos diversos cenários de alta da temperatura da Terra.

"Tirar a floresta significa deixar de irrigar a maior área produtora de grãos da América Latina", explicou. "A manutenção da floresta em pé diminui a vulnerabilidade do País."

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