quarta-feira, 23 de julho de 2008



23 de julho de 2008
N° 15671 - Martha Medeiros


A inocência dos vereadores

Algum tempo atrás, durante o programa Saia Justa, a jornalista Mônica Waldvogel fez uma divertida e enxuta definição sobre o gênero humano: mulher é chata, homem é bobo.

Tive que rir, porque a generalização, ainda que desfavorável para ambos os sexos, tem lá sua razão de ser.

Nós, mulheres, temos muitas qualidades, mas somos chatas. Dramatizamos tudo, nos apegamos a detalhes, não damos férias para nossas mágoas, temos vocação pra sargento, já nascemos adultas, e gente adulta demais é chata.

E os homens são maravilhosos, mas como são bobos. Ficam se comparando uns com os outros, têm o ego inflado, contam vantagens para disfarçar a insegurança, são eternos meninos. Você acha que não procede? Ah, procede.

Um exemplo disso foi parar no jornal ontem: cinco senhores de Carazinho, vereadores a serviço da vida pública, deram seu voto a favor para que a Câmara Municipal homenageasse as moças que trabalham numa danceteria, com a justificativa de que elas oferecem momentos de descontração a seus clientes. Podem ser mais bobos?

Uma notícia como essa, para quem tem bom humor, é um refresco entre tantas reportagens sobre tiroteios e mortes estúpidas. Eu achei engraçado.

Fiquei imaginando esses cavalheiros depois do expediente, ou mesmo em plenário, comentando sobre os ótimos serviços da boate Garotas da Gogo e tendo a idéia de fazer uma deferência pelos nove anos de aniversário da casa, sem achar que isso fosse gerar qualquer incômodo. Chego a ficar comovida com a pureza deles.

Homenagem, quem não gosta? Imagino que em Carazinho tenha um armazém comemorando cinco anos de funcionamento, uma farmácia completando 10 anos na rua principal, uma lotérica há 15 anos servindo à população, e todos esses estabelecimentos já devem, também, ter sido contemplados com uma moção comemorativa apresentada pela Câmara.

É bonito que os vereadores queiram homenagear não só esses, mas todas as classes de trabalhadores, sem exceção.

Talvez tenham pensado que uma consideração às moças contaria pontos junto à comunidade, pois demonstraria que os políticos da região não têm preconceitos. Bobos.

Esqueceram que está todo mundo aí fora a fim de apontar nossos erros, de julgar nossas atitudes, de colocar o dedo no nosso nariz e gritar: culpado!

Se ofereceram para o sacrifício na maior boa-fé, achando que a sinceridade do gesto bastaria para que fossem compreendidos. Ninguém quer compreender ninguém, só se pensa em acusar. Hoje em dia, até mesmo crianças já aprenderam a trocar ingenuidade por autopreservação.

De certa forma, fiquei feliz de saber que ainda resta uma certa inocência no mundo. E que há mulheres, como as garotas da Gogo, que fogem à regra: duvido que sejam chatas.

Hoje quarta-feira é o Dia Internacional do sofá. Aproveite, namore e que tenhamos todos uma ótima quarta-feira.

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