segunda-feira, 28 de julho de 2008



RESUMO DAS NOVELAS

Estou desatualizado.

Não dou mais conta de todas as novelas que a televisão oferece. Outro dia, tomei uma decisão radical, corajosa e necessária: assistir, ao menos, a um pedaço de cada uma das novelas em exibição atualmente na televisão aberta brasileira. Fiquei de língua de fora.

A lista é interminável: 'A Favorita', 'Água na Boca', 'Amor e Intrigas', 'Beleza Pura', 'Cabocla', 'Caminhos do Coração', 'Chamas da Vida', 'Chiquititas', 'Ciranda de Pedra', 'Coração de Estudante', 'Lalola', 'Malhação', 'Pantanal', 'O Privilégio de Amar' e 'Os Mutantes'. Estou certo? Não?

Será que algumas já terminaram e nem percebi? O problema é tempo, pois tenho de assistir a todos os jogos do Inter e, como secador, aos do Grêmio, sem contar os de outras equipes que possam atrapalhar o caminho colorado.

Quero ser um profissional da televisão: ver todos os jogos e todas as novelas. No futebol, a grande trama é: jogar com três zagueiros e três volantes ou com três zagueiros e dois volantes ou, enfim, com dois zagueiros e dois volantes, salvo se for uma boa opção dois zagueiros e três volantes.

É complexo, mas a gente se acostuma e entra no jogo. A trama das novelas é ainda mais rebuscada: quem está comendo quem, quem deixou de comer quem e quem vai comer quem nos próximos capítulos. Confesso que todas essas possibilidades me fascinam.

Pena que não prestei atenção naquelas aulas de análise combinatória da disciplina de matemática. Outra variação forte das novelas é esta: uma vez, dois homens, por exemplo, pai e filho, disputam a mesma mulher. Na outra, duas mulheres, por exemplo, mãe e filha, disputam o mesmo homem.

Pode-se complexificar a intriga, em tempos de liberação de costumes, com três homens disputando e ficando com a mesma mulher ou três mulheres disputando e ficando com o mesmo homem. É para isso que servem sobrinhos e primos.

Futebol e novelas são iguais. Tudo depende de esquema. Tático: 3-5-2, 4-4-2 ou, no meio, onde tudo embola, novelesco, 2-2, 3-3 ou, em casos de vale tudo para ganhar, 4-4 ou 5-5.

Eu aprendo muito sobre futebol vendo novelas. Novela é cultura. Futebol também. A personagem Flora, de 'A Favorita', interpretada por Patrícia Pillar, esposa de Ciro Gomes, passou 18 anos na prisão, onde aprendeu a ler francês.

Num capítulo que pude ver, depois de ter percebido que não adiantaria secar o Grêmio contra o Figueirense, ela aparece lendo meu amigo Michel Houellebecq. É a ex-prisioneira de mais bom gosto de que já ouvi falar.

Poucos críticos literários podem competir com ela. Nada de auto-ajuda ou livros da lista de mais vendidos da moda. Literatura maldita na veia. Flora daria uma boa treinadora de futebol. Aliás, quando vai aparecer uma treinadora?

Tem bandeirinha, juíza, homem treinando mulher, mas não tem, que eu saiba, mulher treinando equipe de futebol profissional. Inadmissível. Não me venham falar de uma impossibilidade por causa do vestiário. Como é que os treinadores de vôlei fazem?

Com novela e futebol é assim. Perde-se o fio da moeda. Quer dizer, da meada. É tricô. Vira conversa de bar. Não existe melhor maneira de jogar conversa fora. Todo mundo pode ser especialista.

Em novela e futebol, tudo é questão de sexo. Resumo das novelas: quem come quem. Do futebol: quem passa por cima de quem. Qual a diferença entre um colorado e um gremista? O gremista acha que futebol é coisa séria.

juremir@correiodopovo.com.br

Ótima segunda-feira ainda que com chuva e uma excelente semana para todos nós

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