quinta-feira, 17 de julho de 2008



17 de julho de 2008
N° 15665 - Luiz Pilla Vares


Memórias de um escritor

Ler Sérgio da Costa Franco é sempre um ato de prazer. Mesmo quando discordamos de algumas de suas opiniões (e no meu caso isso é freqüente), é inegável a correção do texto, a elegância do estilo e a erudição sem esnobismo e afetação.

Sérgio é capaz de tornar agradável leitura mesmo os assuntos mais áridos, como é o caso de Porto Alegre e seu Comércio ou Porto Alegre: Guia Histórico.

O que dizer, então, de seus livros mais "quentes", como Júlio de Castilho e sua Época, que li e reli várias vezes e que se tornou referência inclusive para o "brazilianista" Joseph Love em seu excelente Regionalismo Gaúcho, a Guerra Civil de 1893 e Porto Alegre Sitiada, além de livros de crônicas deliciosas que atravessam o tempo sem perder o sabor literário?

Agora Sérgio da Costa Franco acaba de lançar Memórias de um Escritor de Província, um livro que prende o leitor da primeira à última página. É claro que em todo livro de memórias a personagem central é o próprio autor. E, no caso do "escritor de província", não é diferente.

Sérgio conta-nos a sua vida desde o nascimento, em Jaguarão - cidade que ele ama e que dedicou um livro, apesar das tragédias que o marcaram como o assassinato do pai e a morte de um irmão - até praticamente os dias atuais, quando recebe o Prêmio Açorianos de Literatura em 2005.

Entretanto, o que torna o livro verdadeiramente fascinante é a reconstituição, através dos anos, dos costumes e das épocas vividas pelo autor, a descrição de cenários provincianos e de uma Porto Alegre que não mais existe.

Sérgio mergulha no tempo e nos oferece uma descrição dos rincões do Rio Grande do Sul em que viveu e exerceu a sua profissão como procurador de Justiça.

E, ainda mais importante, é que não se trata de um relato idílico. Ao contrário, às vezes é profundamente crítico, como, por exemplo, em sua impiedosa descrição de Quaraí, o que levou nosso líder dos almoços semanais no Copacabana, o professor Leite, a afirmar que Sérgio não poderia mais visitar aquela cidade da fronteira rio-grandense.

Na minha opinião, uma crítica um pouco exagerada: afinal a cidade que nos deu Dyonélio Machado e Lila Ripoll não pode ser tão parada no tempo.

Infelizmente, poucos terão a oportunidade de ler as memórias de Sérgio da Costa Franco, pois a edição é limitada e apenas alguns poucos terão o privilégio de viajar no tempo e rever a Porto Alegre dos bondes, acanhada, mas já se projetando como cidade grande.

Do título de minha coluna de hoje retirei propositalmente "de Província": creio sinceramente que o livro de Sérgio pode ser lido em qualquer lugar do Brasil e, assim, tem um certo caráter universal.

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