quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Governança também faz parte do meio ambiente', diz especialista

Nilton de Araújo Farias vê o profissional da Contabilidade como um agente de transformação da sociedade
Nilton de Araújo Farias vê o profissional da Contabilidade como um agente de transformação da sociedade
NILTON DE ARAÚJO FARIAS/ARQUIVO PESSOAL/JC
As práticas ASG (Ambiental, Social e Governança Corporativa) ou ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) estão sendo adotadas em maior ou menor grau pelas empresas brasileiras, conforme o nível de comprometimento com o Meio Ambiente. Em nível global, em países onde os consumidores são mais exigentes, o mercado é mais engajado, com empresas incorporando cada vez mais as ações de cuidado com o ecossistema.
No Brasil, ainda há a necessidade de maior conscientização por parte dos empresários, cabendo aos contadores o papel de conduzir o cliente nesse caminho que, por enquanto, é facultativo. Futuramente, normas publicadas nestes ano, a IFRS S1 e IFRS S2, deverão fazer parte dos balanços corporativos. A primeira se aplica para a empresa relatar informações sobre sustentabilidade e a segunda, para divulgar ações com relação às questões climáticas.
Entre os mais atentos a essa onda global, o escritório Master Consultores, de São Paulo, criou sua extensão voltada à área, com o intuito de auxiliar empresas com a necessidade de demonstrar ações de sustentabilidade. De olho nesse mercado, registrou o domínio www.contabilidadeambiental.com.br para dividir conteúdo e auxiliar contadores a produzir balanços e DRE compatíveis com a ESG.
Fundador e sócio da Master Consultores, Nilton de Araújo Farias vê o profissional da Contabilidade como um agente de transformação da sociedade, em função do incentivo à produção de relatórios de sustentabilidade. A ideia um tanto visionária ao registrar o site foi  contribuir para que as empresas comecem a mensurar suas ações. Nos grandes relatórios contábeis, observa, já existe a possibilidade de lançar investimentos, gastos e eventuais passivos em relação ao meio ambiente. "Nossa ideia foi de criar uma conscientização. Há espaço, tem como fazer, mesmo sem existência de normas, que começam a existir agora", alertou.
Com certificação GRI (Global Reporting Initiative), entidade internacional pioneira na promoção de relatórios de sustentabilidade, Farias dá treinamentos dentro da entidade que faz parte, a Associação de Empresas de Serviços Contábeis de São Paulo (Asescon) e para profissionais interessados na qualificação para quando as normas forem obrigatórias. "É um mercado que está se abrindo. Vale a pena para os profissionais se atentarem para as novas normas", garante.
JC Contabilidade - De que forma a Contabilidade Ambiental está sendo trabalhada na sua empresa?
Nilton de Araújo Farias - Estamos em uma fase de levantamento de caminhos porque assunto é novo. Começamos estudos sobre o tema e estamos acompanhando o mercado para conseguir entender onde a Contabilidade vai entrar de maneira mais efetiva.
Contab - As empresas estão se adaptando ou há resistência?
Farias - Tudo aquilo que, em um primeiro momento, é novo e não obrigatório, as empresas tendem a não adotar. Se olhar esse de três anos, nesse ínterim quando o assunto ESG estourou, muitas empresas trataram - e ainda estão tratando - como uma espécie de selo para dizer ao mercado "está vendo como eu sou legal?". Na verdade, o conceito é muito mais profundo.
Contab - O conceito de meio ambiente está sendo bem entendido?
Farias - Meio ambiente não é só o verde da plantinha ou uma criança assoprando um algodão, como usam em publicidade. As grandes organizações, quando fazem relatórios sócio-ambientais, utilizam o modelo GRI, que descreve como se fosse um check list para cada uma das três etapas, o social, o de governança e o do meio ambiente. Quando se fala de meio ambiente é preciso pensar no local onde sua empresa está inserida, como estão seus fornecedores. Não basta meu negócio ser responsável. O conceito de stakeholders fala sobre isso.
Contab - De que forma as empresas poderiam se beneficiar?
Farias - Não podemos ser falsos moralistas. Toda empresa, se não tiver um alinhamento para rentabilidade e lucro, está morrendo. A ideia é que esse processo possa contribuir com a imagem, em um primeiro momento. O fim da história é que ela possa ganhar, mostrar e incentivar e fomentar e demais pessoas do seu meio façam a mesma coisa. O que se vê hoje são empresário, um olhando para a cara da outro, esperando para ver quem vai dar o primeiro passo.
Contab - Quais as legislações pertinentes à área?
Farias - Temos legislações ambientais estaduais e federais, e, agora, na área contábil, também começam a surgir. As empresas de grande porte que têm ações em Bolsa de Valores passam a ter a obrigatoriedade de relatar quais ações ambientais estão tomando. E a tendência é que é não só elas, mas os fornecedores também. Torço para que este seja o primeiro grande passo. Temos a lei que estabelece a Política Nacional do Meio ambiente, de 1981, temos a Lei de Crimes Ambientais, de 1998, e, a mais recente, a lei de Resíduos Sólidos, que trata de logística reversa.
Contab - É preciso, também, maior conscientização.
Farias - Sim, mas, por enquanto, o que vejo é muito confete. A empresa diz "fiz tal coisa", mas, for a fundo, vê que não fez nada. E outra questão importante: quando se fala em meio ambiente, o brasileiro médio pensa em floresta, em águas, em oceanos. O conceito de gestão ambiental passa pela sigla ESG. Quando falamos de sustentabilidade, falamos em meio ambiente e também em governança, em controles financeiros, controles de negócios que impactam muitas vidas, grandes empresas com uma quantidade gigante de funcionários e suas responsabilidades. Ela pode impactar vidas. Controle de governança administrativo-financeira também faz parte do meio ambiente.
Contab - Os contadores estão atentos à tendência?
Farias - O Conselho Federal de Contabilidade está fomentando algumas ações. Temos as NBCs (normas brasileiras de contabilidade) e agora começamos a divulgar informações sobre sustentabilidade nessas NBCs. Começa a ter alguma aplicabilidade. Para 2026, alguns documentos serão obrigatórios. Os contadores não estão pensando nisso. A nossa grande demanda, a que puxa muito da energia do profissional, ainda são as obrigações fiscais referentes a normas de receita federal, de legislação trabalhista. É preciso estarmos atentos às normas IFRS S1 e S2, recentes e facultativas, mas que vão ser obrigatórias em 2026, nas das grandes empresas. Vale a pena para os empresários se atentarem para o que elas dizem e o que dá para fazer a partir daí. E, também, o GRI, que tem as melhores informações para quem quer entender melhor o como se implantar um processo sério e ESG.

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