"Consultoria é uma moda no modelo de gestão"
RAQUEL TEIXEIRA Secretária estadual de Educação
O que o senhor gostaria de ter feito, que não foi possível fazer?
Olha, tudo está colocado nesses 12 pontos que tratamos ali (na carta). Mas eu acho que é fundamental que a ideia dos Cieps (Centros Integrados de Educação Pública) como modelo de escola emancipadora, formadora de cidadãos e cidadãs, de resgate dessas crianças e jovens, seja retomada. Veja que esse modelo surgiu no início dos anos 1990, com o (Leonel) Brizola e com o (Alceu) Collares. Boa parte daquele ideário, tudo aquilo está sendo apagado a cada ano que passa.
O senhor não concorda com o investimento no ensino de tempo integral na etapa do Ensino Médio?
Onde mais precisamos dele é no Ensino Fundamental. E é essa lógica que não consigo acompanhar. No Ensino Médio, o que o governo está tentando fazer, e corretamente, é dar algum viés de formação profissional, que acho importante. São projetos corretos, mas isso exige investimentos, exige infraestrutura. Tem de ser uma coisa muito bem estruturada. O que defendo com todas as letras é a ideia de uma federalização do sistema de educação.
Por que temos os institutos federais, as escolas técnicas federais e algumas escolas técnicas municipais e estaduais que funcionam com muita qualidade? Por que todo o sistema não funciona assim? A educação não pode fazer voto de pobreza. A educação exige investimentos, investimento para o futuro desse país. Não há saída para o país que não seja através da educação. A gente está cansado de falar isso. Quando a gente elege a educação como prioridade, isso tem de ser uma verdade de fato. Em três anos, Collares construiu 94 Cieps, com a mesma legislação, com a mesma burocracia.
O senhor diz na carta que preocupa o elevado volume de recursos empenhados em consultorias na pasta. A secretária Raquel diz que não se gasta dinheiro com consultorias, e que, talvez, o senhor estivesse falando sobre avaliações. Sobre o que o senhor está falando?
A consultoria é uma moda no modelo de gestão, e isso causa alguma curiosidade em relação ao porquê de toda a gestão pública ter de trabalhar com consultoria. E por que essas consultorias têm de ser feitas por empresas que, talvez, não tenham exatamente a dimensão da realidade de uma região, de uma instituição? Falo disso porque, quando estive na universidade, também houve algumas tentativas de realização de consultorias. E nós conseguimos resolver grande parte delas com soluções internas. O Estado do Rio Grande do Sul, a Secretaria da Educação, tem pessoal técnico capacitado, instituições do nosso entorno, públicas ou privadas, que podem tranquilamente resolver essas questões. Essa é a minha observação.
Sua questão não é com o gasto de dinheiro com essas consultorias, então?
Deveria se priorizar parcerias com instituições gaúchas e com a própria estrutura do Estado. Temos milhares de professores, por exemplo, que conhecem a educação como poucos conhecem, com os problemas e as dificuldades.
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