07 DE OUTUBRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
DE OLHO NOS RISCOS EXTERNOS
Os mercados financeiros globais vêm sendo sacudidos nas últimas semanas pelos EUA. A economia e o mercado de trabalho resilientes por lá têm levado o banco central norte-americano a abrir a possibilidade de manter o juro elevado por mais tempo para combater a inflação e apelar para uma alta adicional ainda em 2023.
Hoje está na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano. Na sexta-feira foi anunciado que a criação de postos de trabalho em setembro superou em muito as expectativas, gerando mais estresse. Essa é uma conjuntura que tem levado os juros dos títulos de longo prazo dos EUA a uma valorização incomum. É um movimento que funciona como um ímã, atraindo capitais ao redor do mundo, em especial os aplicados em países emergentes como o Brasil. E soa um alerta.
Ainda na sexta-feira, após o susto inicial, os mercados se acalmaram. As bolsas, aqui e no Exterior, recuperaram-se do tombo do início da manhã e, no Brasil, o dólar reverteu a disparada e passou a operar em queda. Mas a moeda norte- americana, que estava no patamar de R$ 4,85 em meados do mês passado, chegou a R$ 5,22 na sexta-feira. Tudo em função do forte fluxo financeiro de saída de recursos. Ao fim, fechou a sessão em R$ 5,16, em leve recuo.
Esse é um risco externo a ser monitorado de perto pela equipe econômica do governo federal. Gera mais consequências, afinal. Uma delas é uma aposta que começa a ganhar mais força. A de que, talvez, o ciclo de afrouxamento monetário pelo Banco Central (BC) não se encerre na casa dos 9% ao ano, mas sim acima de 10%. Selic mais alta, como é amplamente conhecido, é um fator que inibe a economia, os investimentos produtivos e encarece o crédito.
Por outro lado, também gera preocupação o desaquecimento da China, principal cliente das exportações brasileiras, concentradas em commodities. Um alívio recente veio do petróleo. Temia-se que o tipo brent alcançasse US$ 100 o barril, forçando reajuste nos combustíveis e alimentando a inflação. Menos mal que os preços recuaram nos últimos dias e, após passarem de US$ 96 no final de setembro, na sexta-feira os negócios saíam ao redor de US$ 84.
No caso do Brasil, o cenário externo relativo ao juro norte-americano eleva a pressão sobre o desempenho fiscal. É inequívoco que a economia brasileira tem apresentado surpresas positivas. Mas o crescimento tende a ocorrer em um nível menor até o fim do ano, o que acrescenta dúvidas sobre a capacidade de elevar a arrecadação federal. É cada vez maior o ceticismo relacionado à promessa de zerar o déficit em 2024. Um horizonte de aumento da dívida pública pode gerar repique na inflação e comprometer a magnitude do ciclo de redução da Selic.
Não há razão para alarmismo, é prudente ressaltar. Mesmo assim, a conjuntura reforça a importância de o Brasil fazer a lição de casa para enfrentar com a menor turbulência possível a tensão global. Isso passa, em grande medida, por um esforço para não minar a credibilidade do novo marco fiscal. Será inevitável que o ajuste passe também por uma revisão de despesas, sem contar somente com uma melhora incerta na arrecadação.
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