terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

 Tramontina estreia centro de inovação para braço de materiais elétricos

Complexo tem 2 mil metros quadrados onde estão instalados sete

Complexo tem 2 mil metros quadrados onde estão instalados sete


TRAMONTINA/DIVULGAÇÃO/JC
A gigante gaúcha de panelas e uma infinidade de artigos para cozinha e casa reforça a frente de inovação para linhas de produtos no segmento de materiais elétricos vendidos no varejo. A Tramontina acaba de estrear o prédio do Centro de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPeD), em Carlos Barbosa, na Serra e sede de boa parte do complexo industrial da marca.
"O centro foi construído para atender com exclusividade as demandas da fábrica de materiais elétricos", diz o grupo, em nota. A estrutura é formada por sete laboratórios que foram montados em 2 mil metros quadrados da área construída.
O segmento abrange tomadas, placas, interruptores, disjuntores, eletrodutos e produtos de iluminação para residências, comércio e serviços e indústria. Faz quase meio século que a Tramontina atua nestes materiais.
Os laboratórios abrangem metrologia e instrumentação, materiais metálicos, materiais poliméricos, luminotécnico, plugues, tomadas e interruptores, eletros e produtos para proteção e comando.
Segundo a marca, o centro vai ampliar "a capacidade de inovação e o padrão de qualidade, confiabilidade e precisão dos produtos, conforme as necessidades de mercado", reforça o grupo, em nota.
“A tecnologia embarcada no CIPeD favorece o controle de processos e a análise da conformidade dos produtos com as principais normas de fabricação, de desempenho e segurança exigidos no Brasil e no exterior, bem como a pesquisa e o desenvolvimento de novos itens, impulsionando o crescimento da empresa”, explica André de Lima, diretor executivo da fábrica de materiais elétricos do grupo, na nota.
O complexo tem máquina de medição tridimensional CNC, com capacidade de processamento superior ao modelo já existente e uma máquina de medição óptica sem contato, "que favorece a perfeição do dimensionamento das matérias-primas". O equipamento de névoa salina permite ensaio de corrosão em matérias-primas metálicas para verificar o atendimento às normas e especificações.
O complexo tem equipamentos para recriar testes realizados em laboratórios de certificação credenciados ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). A ideia é fazer ensaios preliminares antes de submeter à certificação exigida. 
A linha de Conduletes TG classes IV e V, lançada no fim de 2022, já passou pelos ensaios no CIPeD. A linha abriu mercado em segmentos como metroferroviário, transporte e mobilidade urbana, infraestrutura, distribuição de energia, industrial e comercial.

 Primeira reitora do Senac toma posse no Rio Grande do Sul

Desde 2007 no Senac-RS, Lianamar se tornou a primeira mulher no cargo

Desde 2007 no Senac-RS, Lianamar se tornou a primeira mulher no cargo


/TÂNIA MEINERZ/JC
Maria Welter
A primeira reitora da história do Senac-RS, Lianamar da Silveira Rosa, tomou posse nesta segunda-feira, na sede da Fecomércio-RS, em Porto Alegre. A instituição também mudou oficialmente o nome de Faculdade Senac para Unisenac - Centro Universitário - título que recebeu do Ministério da Educação em outubro do ano passado.
Lianamar atua desde 2007 no sistema Senac e, agora, assume o mais alto grau dentro da instituição. "É um sentimento de realização profissional ser a primeira reitora do Senac, afinal dedico a minha vida profissional há 16 anos em prol dessa instituição, que tem sua capacidade ampliada, agora com status de Centro Universitário", afirma a reitora.
"Eu fico feliz em ver o quanto as minhas colegas, outras diretoras e outras mulheres que trabalham no sistema estão se sentindo representadas por mim, então eu acho que é uma responsabilidade e um exemplo de que não devem ter limitações de gênero no mundo do trabalho", afirma.
Na cerimônia, o presidente do Sistema Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, classificou o dia como histórico para a entidade e para o Senac no Rio Grande do Sul. "O reconhecimento chancela a qualidade do trabalho do Senac", resume.
Já a secretária-adjunta da Educação do Rio Grande do Sul, Stefanie Eskereski, destacou o potencial do sistema e a importância da iniciativa privada e do Estado unirem forças em prol da Educação. "A conquista de vocês é nossa, nós temos a missão de transformar a educação no estado de forma colaborativa", afirma.
A nova reitora também atua como professora do programa de pós-graduação da Universidade La Salle, é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí), possui pós-graduação em Marketing pela mesma universidade, é mestre em Design Estratégico pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e foi diretora das unidades do Senac São Leopoldo, Canoas e Lajeado.

28 DE FEVEREIRO DE 2023
IMPOSTO DE RENDA

Quem optar pelo Pix vai receber antes a restituição

A Receita Federal informou ontem quando será feita a restituição do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) 2023, bem como quais serão os grupos prioritários de recebimento. Com o início do pagamento em 31 de maio, serão cinco lotes de restituição. Quem optar pela declaração pré-preenchida ou receber a restituição via Pix vai ter o dinheiro de volta antes de outros contribuintes que não se enquadram em prioridades.

Neste ano, a novidade é a vantagem dos contribuintes que optarem por fazer a entrega da declaração com o documento pré- preenchido ou receber pelo Pix a restituição - será o quarto critério de prioridade para as restituições.

Desse modo, a ordem das prioridades para restituição do IRPF 2023 ficou assim: 1) idosos com idade igual ou superior a 80 anos; 2) idosos com idade igual ou superior a 60 anos, deficientes e portadores de moléstia grave; 3) contribuintes cuja maior fonte de renda seja o magistério; 4) contribuintes que utilizaram a declaração pré-preenchida e/ou optaram por receber a restituição por Pix; 5) demais contribuintes.

Seguindo esta ordem, os pagamentos começam no dia 31 de maio. As restituições serão divididas em cinco lotes, com o último sendo pago em 29 de setembro.

- O primeiro lote, que a gente diz que são das prioridades, depende muito também da data em que a pessoa entregar a declaração. Não adianta a pessoa com 80 anos entregar a declaração no dia 29 de maio e achar que no dia 31 de maio ela vai estar naquele lote. Normalmente, a gente fecha o lote lá por volta do dia 10 - afirmou o auditor José Carlos da Fonseca, principal responsável pelo programa do Imposto de Renda 2023.

Prazo

Também foi confirmado o prazo de entrega deste ano, de 15 de março a 31 de maio, conforme o órgão havia adiantado no mês passado. A principal razão para a mudança é facilitar o acesso à declaração pré-preenchida.

Segundo destacaram os auditores, todos os contribuintes poderão utilizar a declaração pré-preenchida já na abertura do período de entrega do documento, disponível tanto pelo Programa Gerador de Declaração (PGD), via computador, quanto pela solução Meu Imposto de Renda, online ou por aplicativo.

Neste ano, a declaração pré-preenchida vai recuperar, também, informações sobre imóveis, doações, atualização de saldo e inclusão de conta bancária e criptoativos, para minimizar erros e facilitar o processo. O declarante que utilizar essa opção deve confirmar, alterar, incluir ou excluir dados já informados no documento.

A Receita Federal espera receber entre 39 e 40 milhões de declarações dentro do novo prazo estipulado. Em 2022, foram recebidas pouco mais de 36 milhões, sendo até então o maior número de declarações entregues na história do país.


28 DE FEVEREIRO DE 2023
NÍLSON SOUZA

Perto do nosso céu

Convidado por um companheiro de caminhadas, encarei uma trilha no feriadão de Carnaval e subi o Morro do Osso, na Zona Sul da Capital. Fomos pelo acesso mais íngreme, cerca de 30 minutos de marcha entre árvores e escadarias de troncos, até o platô que serve de mirante para a cidade emoldurada pelo Guaíba e pelo céu mutante de fevereiro. Porto Alegre, vista do alto de seus morros, é sempre uma obra-prima de beleza e encantamento.

Nestes dias sombrios em que as montanhas derretem sobre casas e vidas no centro do país, nossas elevações de solo granítico parecem mais firmes e seguras, principalmente depois da longa estiagem que afeta o Estado. A capital gaúcha, pelo que pesquisei, tem 44 morros, alguns deles abertos à visitação pública. O Morro do Osso não é dos mais altos, apenas 143 metros, mas oferece uma visão privilegiada de vários bairros e também de outros montes encravados nesta metrópole prestes a completar 251 anos.

Dizem os contadores de histórias que seu nome tem duas supostas origens. Uma refere-se à descoberta no local de resquícios de um antigo cemitério indígena. A outra, mais folclórica, dá conta de que aquele espaço verde era utilizado por praticantes do jogo do osso, pois do alto era mais fácil observar a movimentação da polícia, já que se tratava de uma atividade clandestina.

Também não faltam lendas urbanas para aumentar a atratividade do recanto. A mais conhecida é a da caverna denominada Toca do Sapateiro, onde um indivíduo que consertava calçados teria se escondido da polícia depois de matar a mulher. Outra está relacionada à pedra chamada de Pé de Deus, que possui uma rachadura em formato de pegada supostamente com poderes curativos para quem lá encaixar o próprio pé. Por fim, também integra o Parque Natural do Morro do Osso o bairro denominado Sétimo Céu, expressão religiosa pra lá de emblemática.

Não vi bugios ruivos na minha travessia pelo caminho das árvores até o alto do morro. Dizem os textos turísticos que eles andam por lá, assim como outros animais e aves que costumeiramente habitam a vegetação das nossas encostas. Acho que os bichinhos estavam de folga no Carnaval, pois encontrei apenas um pica-pau e algumas borboletas com suas fantasias coloridas, provavelmente também voltando da folia.

O mais importante, porém, estava lá - e está ao alcance de quem se dispuser a encarar a suave subida: uma visão singular desta cidade amada e dos seus múltiplos céus que um dia o poeta Mario Quintana cogitou levar para o Céu.

NÍLSON SOUZA

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023


27/02/2023 - 16h29min
Fabrício Carpinejar

Não banalize o eu te amo

Quando você diz eu te amo para alguém, está dizendo para si mesmo. Você está se amando mais a partir do amor pelo outro. Não banalize o eu te amo no relacionamento dizendo a toda hora. Ele não pode faltar, mas tampouco pode sobrar. Quem muito diz parece que não acredita nisso, parece que tem dúvida, parece que está tentando se convencer desse amor. 

Torna-se chato e repetitivo, forçando algo que deveria ser espontâneo. O eu te amo é um amor projetado para fora de si que retorna ainda mais forte para dentro de si. Declaração de amor é também silêncio, compreensão, respeito, mãos dadas, abraço, cumplicidade, conselho, colo, cafuné, carinho nas costas.

O eu te amo falado é uma gota de perfume no pescoço. Uma gota de aroma no mar salgado da pele. Quando ostensivo, vira bajulação. Quando excessivo, enjoa. Quando borrifado em demasia, cria repulsa. O eu te amo não pode ser um mero cumprimento, para encerrar uma conversa, para desligar o telefone, para sair de um assunto desconfortável, como um tchau: “eu te amo tchau!”.

O eu te amo não pode ser feito como um pedido de desculpa, para apoiar um pedido de desculpa, para fortalecer um pedido de desculpa: “eu errei, mas eu te amo, tá?” Daí não é mais eu te amo, é barganha, desconto, isenção de responsabilidade, impunidade diante de uma grosseria.

O eu te amo não pode ser usado sem ênfase, sem emoção, sem vontade, sob o risco de mudar a direção da boca, de esvaziar a palavra de sentido. O eu te amo deve ser dito quando o amor transborda, pela presença festejada, jamais como socorro, quando o amor falta, devido à carência.

O eu te amo não é para chamar a atenção: “olhe para mim!”, é quando você está pleno de atenção, devidamente observado. Não é insegurança e medo de ficar sozinho, mas confiança e convicção de que anda muito bem acompanhado.

O eu te amo não é proferido para ouvir o mesmo de volta, para controlar o tamanho do amor sentido pelo seu par. É uma potência verbal que se basta. O eu te amo é gratidão, quando você reconhece tudo de bom que o outro faz em sua vida. O eu te amo é um “obrigado por existir”.

O eu te amo é um amor projetado para fora de si que retorna ainda mais forte para dentro de si. Quando você diz eu te amo para alguém, está dizendo para si mesmo. Você está se amando mais a partir do amor pelo outro.

Em minhas idas ao cinema com Beatriz, minha esposa, um pouquinho antes de o filme começar, com o fim dos trailers, ela sempre se aproxima de meu ouvido e me sussurra “eu te amo”. É uma cena poderosa incansavelmente repetida e exaustivamente aguardada por mim. Mesmo antevendo que sua frase virá, eu me arrepio de novo. Já não sei se vou ao cinema pelo filme ou para ouvir o eu te amo sussurrado de Beatriz.


27 DE FEVEREIRO DE 2023
ENSINO SUPERIOR

Universidades ofertam apoio à saúde mental de estudantes

Os quase três anos de pandemia impactaram a saúde mental de alunos do Ensino Superior. Estudantes de universidades, que já são naturalmente atingidos por incertezas, dúvidas sobre permanência no curso escolhido, acompanhamento da aulas, provas e pressões pessoais e profissionais passam, por vezes, a experimentar exaustão e ansiedade.

Os impactos da pandemia na saúde mental já foram tema de várias pesquisas, não só no Brasil. Uma delas, realizada pela UFPel com 2,6 mil pessoas, revelou cenários elevados de insuficiência de atividade física (67,2%), depressão (19%) e ansiedade (30%), entre outros índices alarmantes.

Os resultados foram divulgados em outubro de 2022, dentro da quarta etapa do estudo. Novos levantamentos devem ser feitos em 2023 e 2024. Não é à toa que as instituições estão atentas ao cenário e buscando ampliar os serviços gratuitos de ajuda profissional dentro dos campi.

ZH procurou as quatro maiores universidades da Capital: UFRGS, PUCRS, Unisinos e Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) - apenas esta última não respondeu.

Os serviços oferecidos pelas três primeiras mudam conforme a entidade, mas, em linhas gerais, os objetivos são os mesmos: identificar, acolher e atender, de forma gratuita, quem precisa de apoio. Na teoria, parece simples. Na prática, é um pouco diferente, começando por um ponto crucial: muitas vezes, há resistência em pedir ou aceitar ajuda.

O alerta é da assistente social Angélica da Costa, responsável pelo Núcleo de Atenção ao Estudante (NAE) da Unisinos, que existe desde 2010 e está à disposição de todos os alunos da graduação e pós-graduação dos campi de São Leopoldo e Porto Alegre:

- Observamos que é mais fácil oferecer ajuda. A maioria dos nossos estudantes chega por encaminhamento de outro colega, que já foi atendido e nos indica. Ou por algum professor que identificou algo.

Pressão

Segundo ela, a procura pelo serviço aumenta quando começa o período de provas. O mesmo ocorre em final de curso, quando há maior sobrecarga:

- Os sintomas mais comuns são ansiedade, sentimentos de tristeza, impotência e solidão. Há uma pressão, que pode vir de fora, da família, ou dos estudantes mesmos, para dar conta de tudo e ter bons resultados. Também percebemos questões pessoais e familiares. Muitas vezes, o aluno é o primeiro da família a fazer um curso superior. Alguns relatam que os pais não entendem, que encaram como perda de tempo ficar tanto tempo escrevendo o trabalho de conclusão de curso, por exemplo.

Profissionais

Percepção parecida é relatada pela pedagoga Simone Martins da Silva, coordenadora do Centro de Apoio Discente da PUCRS.

Na instituição, são três núcleos, que atuam de forma integrada desde 2019: de apoio psicossocial (onde há psicólogos e psiquiatras, por exemplo), de apoio à educação inclusiva e de apoio à aprendizagem. De acordo com ela, a demanda aumenta em fim de semestre ou de curso:

- Nesses períodos, em especial, a gente identifica ansiedade, depressão, desmotivação, adiamento das atividades acadêmicas e até ideias suicidas. O aluno chega de diversas maneiras, mas tem sido bem comum familiares, colegas e professores nos avisarem sobre alguma situação que consideram estranha, diferente ou delicada. São serviços que atuam na dimensão do cuidado com a vida e incidem diretamente na permanência, aprendizagem e participação nas diferentes atividades do campus e, principalmente, nos propósitos dos alunos ao acessarem a universidade.

Uma vez acionados, os núcleos realizam escuta e acolhimento, com um ou dois profissionais, dependendo do caso. Eles analisam a situação e realizam os encaminhamentos necessários.

- O ponto de partida é a necessidade de cada estudante. A equipe vai analisar se ele segue no centro, é encaminhado para outro setor da universidade ou até para algum profissional de fora - diz Simone.

Na UFRGS, há diversas iniciativas para os alunos de graduação e pós-graduação (ver quadro). Uma delas é o Programa Saber Viver, lançado em dezembro de 2022 e em fase de implementação, que integra diferentes políticas, serviços e ações, como foco na promoção da saúde e bem-estar estudantil.

- O objetivo é promover ambiente saudável para que o estudante possa desenvolver suas atividades e concluir a formação. Como são diferentes ações, os atendimentos também são variados. Existem atividades individuais, outras em grupo, online e presencial. Cada ação possui profissionais específicos: algumas são com psicólogos, outras são profissionais capacitados por psiquiatras e psicólogos, outras são estudantes orientados por professores de psicologia - destaca Ludymila Barroso Mallmann, pró- reitora de Assuntos Estudantis.

 VANESSA FELIPPE


27 DE FEVEREIRO DE 2023
DÍVIDAS

Inadimplência volta a subir na Capital na largada de 2023

Porto Alegre registra o maior percentual de famílias com contas em atraso em um mês de janeiro nos últimos cinco anos

Após sequência de meses em retração, a inadimplência voltou a aumentar em Porto Alegre na largada de 2023. O percentual de famílias com contas em atraso na Capital ficou em 36,4% em janeiro. Esse montante é ligeiramente maior do que o observado em dezembro (36,1%), mas está em patamar mais robusto ante igual mês do ano passado (29%).

A fatia de lares inadimplentes é a maior para um mês de janeiro nos últimos cinco anos e a segunda mais elevada na série histórica, com início em 2010, nesse recorte. Os dados são de pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio- RS) com base em números da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Inflação persistente, juro alto, dificuldade em recompor perdas salariais e período com maior número de contas a pagar ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas. Dificuldade em honrar dívidas reduz acesso ao crédito e o consumo de alguns bens, o que prejufica o aquecimento da atividade econômica.

O levantamento consulta apenas famílias que moram em Porto Alegre, mas é analisado como retrato de todo o Estado. A economista- chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, afirma que a conjuntura econômica do país, com inflação alta, principalmente no grupo de alimentos e bebidas, e juros elevados, ajuda a explicar o aumento da inadimplência. Nesse ambiente de aperto, também existe o encarecimento de dívidas tomadas no passado, segundo a economista:

- Tem pessoas com dívidas rodando com taxas de juros que se elevaram ao longo do tempo. Isso faz com que essas pendências comecem a pesar mais no orçamento e isso leva a uma situação de inadimplência.

Já o percentual de famílias que não terão condições de pagar nenhuma parte das dívidas atrasadas em prazo de 30 dias segue em patamar baixo (2,1%) e chega a 5,7% entre as que têm dívida. Patrícia avalia que esse movimento mostra que não existe cenário de inadimplência fora de controle:

- Entre consumir hoje e pagar uma dívida, o consumidor opta por financiar o consumo corrente. Entretanto, os dados mostram que existe empenho em evitar que a inadimplência se torne crônica porque isso impacta na capacidade de tomar crédito.

Professor da UFRGS, Maurício Weiss afirma que aspectos sazonais também influenciam o repique observado em janeiro. A necessidade de pagar algumas contas características dessa época do ano, como IPVA e IPTU, eleva os compromissos das famílias e aperta o orçamento. Em relação à persistência do indicador em nível alto, além de inflação e juro elevados, o professor cita a renda, com falta de recomposição salarial em algumas categorias e mercado de trabalho com avanço insuficiente:

- A economia tem desacelerado. A dinâmica do mercado de trabalho, embora a taxa de desemprego tenha diminuído, mostra empregos de menor qualidade e maior informalidade. A renda do país não tem recuperação interessante.

Contração

Professor da Escola de Gestão e Negócios e coordenador do doutorado e do mestrado da Unisinos, Magnus dos Reis afirma que o nível elevado de inadimplência é mais um componente que influencia na desaceleração da atividade econômica. Isso porque, o freio no consumo ocorre em contexto de incertezas em relação às políticas do novo governo na área fiscal:

- O cenário com inadimplência maior e queda de consumo, aliados a uma redução de investimentos em alguns setores diante de incertezas, acaba contraindo o que a gente chama de demanda agregada, a renda nacional.

Já o percentual de famílias endividadas em Porto Alegre caiu de 91,9%, em janeiro do ano passado, para 90,6% no primeiro mês deste ano. Esse indicador também considera as dívidas que estão sendo quitadas. Cartão de crédito, carnês e financiamento de carro seguem liderando entre essas contas.

ANDERSON AIRES


27 DE FEVEREIRO DE 2023
CLAUDIA LAITANO

Gorjetas

A discussão sobre um dos hábitos mais arraigados - e controversos - dos consumidores americanos é colocada literalmente na mesa no filme Cães de Aluguel (1992), de Quentin Tarantino, quando um grupo de criminosos prestes a praticar um assalto debate se deve ou não pagar um extra para a garçonete que acaba de lhes servir um cafezinho.

Mr. Pink (Steve Buscemi) é quem instala a cizânia ao anunciar ao grupo que não acredita em gorjetas. Acha justo pagar a mais por um serviço que vai além do esperado, mas é contra a obrigação de remunerar um trabalho apenas mediano com uma porcentagem pré-determinada da conta. Além do mais, argumenta, não entende por que deveria dar gorjetas para um garçom que recebe salário mínimo e não para o sujeito que frita hambúrgueres no McDonald?s ganhando igualmente mal. Anos depois da estreia de Cães de Aluguel, o ator Steve Buscemi confirmou, em uma entrevista, o que boa parte do público já desconfiava: a fala "não acredito em gorjetas" refletia uma convicção íntima do próprio Tarantino.

Turistas brasileiros tendem a concordar com Mr. Pink e Tarantino. No Brasil, não temos o hábito de dar gorjetas para motoristas, cabeleireiros ou manicures. Nos restaurantes, os 10% do serviço em geral vêm incluídos na conta. Ninguém precisa ficar fazendo cálculos ou debatendo qual porcentagem é a mais adequada. Na lógica brasileira (e de outros países latinos), quem paga o salário do garçom é o patrão, não o cliente.

É na questão do salário mínimo para garçons e garçonetes que a coisa complica por aqui. A maioria dos estabelecimentos paga um "submínimo", autorizado por lei, para os empregados, levando em conta as gorjetas em potencial que completariam o salário. Negócio vantajoso para os donos de restaurantes, que acabam recebendo uma espécie de subsídio na folha de pagamentos. Para os empregados, nem sempre.

Mas não é apenas a polêmica em torno do submínimo que tem provocado discussões. Estabelecimentos como padarias e outros pequenos comércios oferecem agora a possibilidade de o cliente dar ou não gorjeta no caixa, via tablet, na hora de pagar uma água mineral ou um pacote de salgadinhos, por exemplo. Brasileiros, em geral, não hesitam em apertar o botão "não, obrigado", mas muitos americanos se sentem desconfortáveis com a ideia de parecerem mesquinhos diante do funcionário a sua frente - ou do cliente que vem logo atrás. Conclusão: com a nova tecnologia, a etiqueta das gorjetas, que já era um pouco confusa para estrangeiros, ficou complicada até mesmo para os nativos.

CLAUDIA LAITANO

sábado, 25 de fevereiro de 2023


25 DE FEVEREIRO DE 2023
CINEMA

CINEMA

Está em sessões de pré-estreia neste fim de semana nos cinemas Espaço Bourbon Country e GNC Moinhos, na Capital, e entra em cartaz no dia 2 Close (2022), filme indicado ao Oscar internacional e dirigido pelo belga Lukas Dhont. Este triste e belo drama sobre amizade, masculinidade tóxica e homofobia na adolescência recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, onde Dhont já havia sido premiado por seu primeiro longa, Girl (2018, na Netflix), com o Camera dOr, a Palma Queer e o troféu da crítica. Na trama, uma bailarina transexual de 15 anos enfrenta barreiras físicas e emocionais ao lidar com sua transição de gênero.

A aclamação no festival francês, a sua nacionalidade e o foco na adolescência permitem filiar Dhont, 31 anos, aos irmãos Jean-Pierre, 71 anos, e Luc Dardenne, 68. A dupla belga acumula prêmios em Cannes e retratou jovens ou adolescentes em títulos como Rosetta (1999) , O Filho (2002), O Garoto da Bicicleta (2011) e O Jovem Ahmed (2019).

Embora os Dardenne sejam cronistas da classe trabalhadora e da população imigrante e Dhont aborde questões de gênero e sexualidade, percebe-se uma aproximação também na forma como esses diretores contam suas histórias. Em Close, a abordagem é tão realista, tão naturalista, que por instantes podemos achar estar vendo um documentário. Mas essa impressão é logo desfeita pelo talento do ator novato Eden Dambrine. Seu rosto e seu corpo prescindem da palavra para transmitir todos os sentimentos e dilemas do protagonista.

Trata-se de Léo, 13 anos, filho caçula de agricultores que cultivam flores e melhor amigo de Rémi (Gustav De Waele), que tem a mesma idade e estuda oboé. Por estarem sempre juntos, brincando no escuro, correndo no campo, andando de bici, Léo é chamado de "filho do coração" pela mãe de Rémi, Sophie (Émilie Dequenne, premiada em Cannes por um filme dos Dardenne, Rosetta).

Os dois garotos não se desgrudam, inclusive dormem abraçados. Mas não são namorados. Ou não importa se são ou não são, como disse Lukas Dhont em entrevista à Vanity Fair:

- Sempre disse aos atores de Close: "Não me importo com a sexualidade desses personagens, se Léo e Rémi são gays ou não". Quando leio relatos de meninos como eles, alguns podem ser queer, outros não. Mas eles compartilham essa experiência de estarem desconectados uns dos outros pelos códigos de comportamento ligados ao corpo em que nasceram. Para mim, o ponto do filme é nos fazer sentir que matamos a bela amizade entre meninos desde muito jovens. Tentamos fazer um filme sobre a fragilidade, sobre a ternura, mas também sobre o que acontece quando privamos os jovens dessa fragilidade, dessa ternura.

Na mesma entrevista, Dhont falou sobre uma inspiração para Close, que ele escreveu com Angelo Tijssens, coautor de Girl. Foi uma pesquisa da psicóloga estadunidense Niobe Way, que acompanhou a vida de 150 garotos ao longo de cinco anos:

- Quando ela os entrevistou aos 13 anos, eles se atrevem a usar a palavra "amor" ao falar sobre seus amigos. À medida que envelhecem e as expectativas de masculinidade se tornam mais fortes neles, ficam totalmente desconectados dessa linguagem. Vivemos em uma sociedade onde masculinidade e intimidade são conceitos muito difíceis de unir. Dizemos aos homens que o único lugar onde podem encontrar intimidade é através do sexo e que expressar amor e vulnerabilidade para outro homem é algo incrivelmente complexo. Frequentemente, temos imagens de comportamento tóxico, de violência, de guerra, quando se trata de masculinidade, mas raramente vemos uma amizade íntima e bonita em que dois meninos se deitam juntos na cama e só querem estar tão perto (close, em inglês).

Eis o conflito: após as férias, ao voltarem à escola, Léo e Rémi são confrontados por perguntas e piadinhas homofóbicas dos colegas. Os espaços a céu aberto do início do filme vão minguando à medida que os dois amigos perdem a liberdade de serem como são. Pressionados, por um lado, pela confusão emocional típica da puberdade e, por outro, pelas convenções sociais, calcadas na agressividade e na repressão, cada um reage de um jeito.

Rémi parece não dar bola às insinuações e continua oferecendo e buscando carinho junto ao Léo. Mas este, agora, se recusa a deixar sua barriga servir de colo para a cabeça do amigo no recreio. Léo procura se ajustar às expectativas da maioria, tenta se enturmar, enquanto Rémi fica à margem, junto aos excluídos. Ainda que jamais verbalizado, há um rompimento, que machuca ambos - e, de novo, cada um reage de um jeito.

Como que para provar masculinidade, Léo entra no time de hóquei no gelo. A escolha do esporte é significativa não só pela violência característica. O gelo, obviamente, remete à frieza, ao sufocamento das emoções. O hóquei requer uma armadura, que deixa Léo com uma aparência mais forte e protege o seu peito - o seu íntimo. O uniforme simboliza o desejo de querer ser como os outros e desaparecer em grupo. Por fim, há o capacete com a máscara. Aquele já não é mais o guri doce que vivia na casa de Rémi, já não é mais o verdadeiro Léo, mas um personagem que construímos para atender aos papéis sociais. Daí o comentário emblemático de Sophie, quando vai vê-lo jogar:

- Com a máscara, é difícil reconhecer você. 

TICIANO OSÓRIO


25 DE FEVEREIRO DE 2023
DRAUZIO VARELLA

COISAS DA VIDA

Quantos filhos a senhora teve? Quantos criou? No curso médico, éramos instruídos a fazer essas duas perguntas em sequência, ao anotar a história da paciente no prontuário. A resposta nos dava ideia do nível socioeconômico e das condições de vida das mulheres que procuravam o Hospital das Clínicas, em São Paulo, nos idos de 1960.

Não era raro ouvir que haviam dado à luz 10 ou 12 e criado sete ou oito. Perder filho era uma das tragédias que as famílias daquele tempo se viam obrigadas a aceitar com resignação, pela vida afora.

No livro Evolution and Human Behavior, Anthony Volk e Jeremy Atkinson analisaram diversos estudos sobre as taxas de mortalidade antes de alcançar a vida adulta, na história da humanidade. Separaram os dados em dois períodos: 1) mortalidade no primeiro ano de vida. 2) mortalidade total antes dos 15 anos de idade.

O levantamento das séries históricas mostrou que, em média, 26,9% dos recém-nascidos morriam antes de comemorar o primeiro aniversário, e que 46,2% de todas as crianças não chegavam aos 15 anos. Em termos gerais: uma em cada quatro morria no primeiro ano de vida; apenas metade dos nascidos chegava à idade adulta.

O que mais chamou a atenção dos autores, entretanto, foi a consistência desses números nas 43 culturas históricas avaliadas. Na Grécia Antiga, na Roma Antiga, na China Imperial, nas Américas pré-Colombianas, na Inglaterra e no Japão Medievais ou na Renascença Europeia, as taxas de mortalidade eram da mesma ordem: morria um bebê em cada quatro; metade das crianças não atingia a maturidade reprodutiva.

Esses números seriam confiáveis? Não subestimariam a capacidade de sobrevivência de nossa espécie, nas fases iniciais da vida?

Não é o que os dados revelam. O crescimento populacional na maior parte da história foi lento, apesar de taxas de natalidade acima de seis filhos por mulher. Se a média fosse de seis filhos por mulher, a população do mundo deveria triplicar de uma geração para a outra. Na realidade, do ano 10 mil antes de Cristo ao ano de 1700 da época atual, o crescimento populacional foi de míseros 0,04% ao ano. Grande número de nascimentos sem aumento significativo da população só pode ser explicado por índices elevados de mortalidade antes da idade reprodutiva.

Os demógrafos foram ainda mais longe: analisaram os estudos existentes sobre a mortalidade nas espécies geneticamente mais próximas do Homo sapiens. Nos neandertais, por exemplo, que habitaram a Eurásia de 400 mil a 40 mil anos atrás, espécie com genes tão parecidos com os nossos que possibilitaram a miscigenação, a mortalidade no primeiro ano de vida é estimada em 28%.

Já entre os grandes primatas não-humanos, a compilação de várias estimativas permitiu concluir que nos chimpanzés e nos gorilas os índices de mortalidade no primeiro ano de vida e antes da puberdade são semelhantes aos dos nossos antepassados. Nos orangotangos e nos bonobos eles parecem ser até mais baixos do que os dos humanos.

Na história da humanidade, sociedades que viveram em ambientes diversos, a dezenas de milhares de quilômetros de distância, em cinco continentes, separadas por milhares de anos, mantiveram taxas altíssimas de mortalidade na infância, não muito diferentes daquelas dos grandes primatas que viviam nas florestas.

No século 20, ocorreram transformações dramáticas que duplicaram a expectativa de vida na maior parte dos países. Mesmo nos mais pobres os ganhos foram substanciais. Estão por trás desse aumento da longevidade, a revolução verde que permitiu levar alimentos de qualidade a grandes massas populacionais e três grandes avanços científicos: vacinação, teoria dos germes e antibióticos. Tais benefícios, entretanto, jamais teriam chegado à vida cotidiana sem a ação dos movimentos sociais, como os que aboliram a escravatura, reduziram as desigualdades, democratizaram a educação e persuadiram as pessoas a lavar as mãos, não fumar, abandonar o sedentarismo e a tomar vacinas.

Hoje, os indicadores de saúde revelam que cerca de 95,4% de todas as crianças do mundo chegam vivas aos 15 anos. Os ganhos foram desiguais, no entanto. A Somália tem a mortalidade mais alta do mundo, nessa faixa etária: 14,8%; a Islândia, a mais baixa. A probabilidade de um recém-nascido islandês chegar aos 15 anos é de 99,7%, ou seja, perdem a vida nesse período somente três em cada 1.000 crianças.

DRAUZIO VARELLA


25 DE FEVEREIRO DE 2023
DADOS DE 2022

RS tem a 3ª maior renda domiciliar

O Rio Grande do Sul registrou a terceira maior renda domiciliar per capita do Brasil em 2022. No ano passado, o rendimento domiciliar por pessoa no Estado ficou em R$ 2.087. Com essa cifra, o RS está atrás apenas do Distrito Federal (R$ 2.913) e de São Paulo (R$ 2.148).

Os dados, calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, são de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na sexta-feira. No Brasil, a média ficou em R$ 1.625.

Olhando apenas os valores nominais, sem o efeito da inflação, a renda domiciliar per capita do Rio Grande do Sul em 2022 é maior do que a observada em 2021 (R$ 1.787). No entanto, o IBGE explica que a comparação com anos anteriores não é ideal nesse levantamento, porque os números não estão deflacionados. No ano passado, o Estado também registrou o terceiro maior desempenho no país.

O dado de renda domiciliar per capita divulgado na sexta-feira atende a uma demanda do Tribunal de Contas da União (TCU), segundo o instituto. O indicador serve como parâmetro para o cálculo do Fundo de Participação dos Estados.

O rendimento domiciliar per capita é a razão entre o total dos rendimentos nominais domiciliares e o total dos moradores. Esse cálculo considera os rendimentos de trabalho e de outras fontes e todos os moradores, inclusive pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos.


25 DE FEVEREIRO DE 2023
DADOS DE 2022

RS tem a 3ª maior renda domiciliar

O Rio Grande do Sul registrou a terceira maior renda domiciliar per capita do Brasil em 2022. No ano passado, o rendimento domiciliar por pessoa no Estado ficou em R$ 2.087. Com essa cifra, o RS está atrás apenas do Distrito Federal (R$ 2.913) e de São Paulo (R$ 2.148).

Os dados, calculados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, são de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na sexta-feira. No Brasil, a média ficou em R$ 1.625.

Olhando apenas os valores nominais, sem o efeito da inflação, a renda domiciliar per capita do Rio Grande do Sul em 2022 é maior do que a observada em 2021 (R$ 1.787). No entanto, o IBGE explica que a comparação com anos anteriores não é ideal nesse levantamento, porque os números não estão deflacionados. No ano passado, o Estado também registrou o terceiro maior desempenho no país.

O dado de renda domiciliar per capita divulgado na sexta-feira atende a uma demanda do Tribunal de Contas da União (TCU), segundo o instituto. O indicador serve como parâmetro para o cálculo do Fundo de Participação dos Estados.

O rendimento domiciliar per capita é a razão entre o total dos rendimentos nominais domiciliares e o total dos moradores. Esse cálculo considera os rendimentos de trabalho e de outras fontes e todos os moradores, inclusive pensionistas, empregados domésticos e parentes dos empregados domésticos.


Viés de confirmação

O desfile do Dia da Vitória, todo 9 de maio, na Praça Vermelha, em Moscou, é um festim bélico. Diante do mausoléu de Lenin, milhares de militares marcham em uníssono, queixos apontados para cima, sorrisos congelados para as autoridades. Após o hiato do fim da URSS, a formidável parada foi retomada em todo o seu esplendor por Vladimir Putin, como cenografia de sua ambição por uma nova Rússia imperial.

Ao mirar suas tropas em sincronia e com poder militar aparentemente sem fim, Putin vislumbrava ali um exército invencível. Cercado de bajuladores e com a oposição silenciada, seus ouvidos só recolhiam o que queriam ouvir: o Ocidente não reagiria a uma tomada da Ucrânia, que poderia ser conquistada em uma semana. A realidade: um ano de guerra, arsenais exauridos e tropas russas em frangalhos, que gravam vídeos com pedidos de armas e munição, enquanto centenas de milhares fogem do país para não serem convocados.

O erro de Putin se instala em processos decisórios que vão de uma guerra até o cidadão que crê em fake news. O fenômeno é conhecido como viés de confirmação. Por ele, assimilam-se os argumentos e dados que comprovam uma sensação prévia, e são descartados aqueles que a contestam. O viés de confirmação arruína empresas nas quais o presidente, rodeado de executivos que temem desafiá-lo, rejeita informações desfavoráveis, e leva à bancarrota indivíduos que apostam em alguns investimentos mesmo contra todas as evidências adversas.

Querer acreditar na tese que o conforta e desmerecer as em contrário é uma atitude de arrogância que enterra nações e carreiras políticas. Saddam Hussein invadiu o Kuwait convencido de que não haveria reação de outros países. Se escondeu em um buraco no chão e acabou na ponta de uma corda. Em 1982, a junta militar argentina ocupou as Ilhas Malvinas certa de que o ex-império britânico não despacharia uma armada para defender um arquipélago gelado e remoto. Os comandantes terminaram derrubados e presos.

Por aqui mesmo, o viés de confirmação produz erros de avaliação aos borbotões graças ao uso intensivo e disseminado de redes sociais e aplicativos de mensagens. Nas bolhas digitais, muitas pessoas recebem e enviam mensagens, ou escolhem suas fontes, apenas entre quem pensa da mesma forma. Em pouco tempo, são levadas a acreditar que a sua convicção é a única verdade. Forma-se a chamada câmara de eco - mensagens com o mesmo teor ricocheteiam e voltam, em um looping constante.

Em governos, o viés de confirmação é um passo rumo ao desastre. Não raro, divergências são tratadas como traição, quando deveriam ser um método saudável de administrar. O resultado daqueles que se deixam levar pelas aparências é o isolamento da realidade, como se vê em Moscou. Viés de confirmação nunca foi um bom conselheiro.

MARCELO RECH 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023


24 DE FEVEREIRO DE 2023
CARPINEJAR

Benditas férias parceladas

Sempre fomos adeptos de férias inteiras: esquecer o trabalho por um mês, de tal forma que voltávamos irreconhecíveis, com a marca do chinelo nos pés e o olhar de lobo selvagem. Demorávamos a nos adaptar, a retomar o ritmo frenético da comunicação, agíamos como estreantes em nossas velhas poltronas profissionais de rodinhas.

Éramos súditos da imersão em janeiro ou fevereiro, na alta temporada. Além dos preços nas alturas, havia um problema no descanso longo. Depois do 10º dia na praia, transformávamos o lazer em uma outra mesmíssima rotina, como se morássemos à beira-mar.

Aquilo que surgia no princípio como novidade, como aventura, com a adrenalina do choque cultural, começava a se transformar num marasmo total: caminhar de manhã, tomar banho de mar, almoçar, sestear, passear no centrinho, jantar, jogar cartas, assistir à televisão.

Nem o mais lindo litoral freava a consolidação dos costumes. Não havia mais a sensação de liberdade de antes. Apenas transferimos a agenda da cidade grande para uma maratona fixa da cidade pequena. Após a fase inicial de encantamento, os programas se repetiam e não havia muito mais a conhecer.

Percebemos, então, que tudo o que é bom e agradável, quando posto num cenário prolongado, também desanda no comodismo. Em substituição aos 30 dias de férias, preferimos fatiar o nosso direito trabalhista em três viagens, de 10 em 10 dias. Assim passamos a sair de férias três vezes ao ano, não somente uma única e longa vez.

A decisão mudou a qualidade de nossa convivência. Não tínhamos mais risco de normalizar as descobertas e entrar no modo automático. Vivíamos no pico do fôlego e do ânimo, querendo sair, dançar, curtir a areia. Nenhum de nós mais se estressava. Não perdíamos o prazer da fruição. Os pontos turísticos não eram menores do que as datas em cada local.

Tempo demais em família cansa para todos. É uma verdade que ninguém diz, porém qualquer um sente. Filhos não aguentam os pais tão perto, os pais já não sabem o que fazer para namorar com os filhos perto, afora as visitas dos parentes quando descobrem que você está com uma alentada e oportuna estada em lugar fixo.

Chega um momento em que se tem saudade dos incômodos profissionais e da falta de folga no serviço. O perigo é se encontrar na rede, com a brisa marinha, e sonhar com o retorno para perto dos seus colegas, para se ver um pouco sozinho do tumulto familiar.

Férias num único tiro lembram aposentadoria. Férias parceladas aumentam as possibilidades de conhecer lugares novos e de manter a atenção em alta voltagem. Você não se afasta excessivamente para estranhar o emprego, some por uma trégua necessária para reaver a criatividade e a paz de espírito.

CARPINEJAR

24 DE FEVEREIRO DE 2023
CELSO LOUREIRO CHAVES

Ouvir mortos

Dizem que uma das consequências da invenção da gravação de som, lá no século retrasado, foi a possibilidade de ouvir a voz de pessoas mortas. A voz, a música e os instrumentos. Continua-se a ouvir quem já se foi daqui há muito, seja Arthur Rubinstein ao piano, Montserrat Caballé cantando em duo com Freddie Mercury, o piano e a voz de Tom Jobim nas suas bossas novas. Ouvir mortos: aí está.

Talvez fosse por isso que meu pai tinha pavor a que lhe gravassem a voz. Ouvir qualquer coisa gravada era mesmo um horror. Ele gostava muito da tecnologia de gravar, mas não do seu produto. Era um fã da fotografia, da filmagem e da gravação - estava sempre atrás dos últimos lançamentos tecnológicos. Mas confrontar o que aquelas máquinas mágicas produziam já era outra história.

Essas ideias me vieram depois que, na crônica passada, mencionei o maestro Georg Solti e sua gravação emblemática de O Anel do Nibelungo, as quinze horas de ópera inventadas por Richard Wagner. Fui conferir esse produto dos anos 1950-1960. Dito e feito: um parque de diversões de defuntos. Do maestro ao produtor, das estrelas do canto aos instrumentistas, só o trompista solista ainda segue por aí, ao lado de alguns poucos outros.

Fui me certificar disso assistindo no YouTube o documentário da gravação, uma espécie de "making of" muito antes do tempo dos "making of". Em preto e branco! A imagem em formato quadrado! As técnicas de gravação que hoje se aproximam da arqueologia, mas que também me lembram os tempos de rádio Atlântida, algo que vai longe na minha biografia.

Desde os anos 1960 até agora, o registro icônico dessa primeira gravação integral do Anel do Nibelungo em estúdio tem feito os seus mortos renascerem de tempos em tempos. Mesmo agora em junho, novas técnicas de digitalização vão fazer com que George Solti e Birgit Nilsson surjam rejuvenescidos em vinil, em CD, nas plataformas digitais, música a postos!

É o poder das gravações: eternizar o que já foi, fazer ressoar o passado, lavado e lustrado pelas técnicas do presente. Por isso o livro de John Culshaw, produtor e cronista da gravação, se chama O Anel Ressoa. Quanto ao "making of", basta procurar por The Golden Ring (O Anel Dourado) no YouTube. Meu pai teria gostado, mais pela possibilidade técnica de ter na ponta da tela um sem-fim de opções do que da realidade de ouvir as vozes dos que já se foram, as músicas de gente que desapareceu a perder de vista.

CELSO LOUREIRO CHAVES

24 DE FEVEREIRO DE 2023
AEROPORTO SALGADO FILHO

Droga apreendida é a mais valiosa dos últimos 11 anos

Foi numa vistoria cotidiana que a Receita Federal deparou, nesta semana, com a carga mais valiosa de drogas encontrada em uma década no Aeroporto Internacional Salgado Filho, de Porto Alegre. Escondidos numa mala estavam 12 quilos de metanfetamina, medicamento sintético e estimulante, que só poderia ser vendida sob prescrição médica em casos especiais. A quantia está avaliada em R$ 4,8 milhões, no mercado ilegal.

A substância, distribuída em milhares de cristais, estava no fundo falso da bagagem transportada por um holandês de 40 anos, que vinha de Portugal. O nervosismo do passageiro despertou a desconfiança dos agentes federais. Ele foi preso.

Era a primeira viagem desse holandês - cujo nome não é revelado pelas autoridades - para Porto Alegre. Por meio de intérprete, em inglês, o homem declarou que trabalha na construção civil e vinha a turismo para o Rio Grande do Sul. Ele é solteiro e não tem antecedentes criminais.

A prisão em flagrante por tráfico internacional foi feita pela equipe de plantão da Receita Federal e ratificada por agentes da Polícia Federal. Agora, a investigação prossegue com a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), da PF. O passageiro é assistido pela Defensoria Pública da União e a representação diplomática da Holanda. Ele já está no Presídio Central da Capital e pode, se condenado, pegar de cinco a 15 anos de prisão.

Fiscalização

Auditor fiscal da Receita Federal que atua há 20 anos no aeroporto, Erno da Cunha explica que são pré-selecionados alguns passageiros para passar pela fiscalização. A média é selecionar 10 em cada cem para vistoriar. É um gerenciamento de risco. É verificado quantas viagens ele fez, qual a renda e outros critérios.

- No caso, ao ser selecionado para entrevista, o cidadão holandês disse "nada a declarar", mas estava muito nervoso. Não sabia nem sequer explicar por que estava em Porto Alegre nem o hotel onde ficaria. Ao verificar pelo raio X que poderia ter algo escondido, arrebentamos a mala e encontramos os pacotes. O narcoteste deu positivo para metanfetamina - descreve Erno.

A metanfetamina, que pode ser fumada, ingerida ou aspirada, é um derivado da anfetamina, fabricada em laboratório, e provoca dependência química. A carga apreendida no Salgado Filho só perde em valores, historicamente, para 70 quilos de cocaína encontrados em outubro de 2012 num avião que saía de Porto Alegre para Lisboa. No câmbio atual do mercado ilegal, valeriam R$ 12 milhões. 

HUMBERTO TREZZI

24 DE FEVEREIRO DE 2023
SOCORRO CONTRA A ESTIAGEM

Ministros prometem prazo curto para liberação de verbas

Em pouco mais de sete horas em solo gaúcho, a comitiva do governo federal que veio apresentar as medidas emergenciais de combate à estiagem, ontem, vivenciou um pouco das agruras enfrentadas pelos produtores rurais. Três ministros ouviram de produtores e políticos que é preciso fazer mais. Entidades encaminharam propostas para tornar definitiva política de ajuda ao agricultores do RS.

A cidade de Hulha Negra, na Campanha, foi a escolhida para receber a comitiva. Os ministros visitaram um dos 28 assentamentos de pequenos produtores. Na propriedade de Sirinei dos Santos, ouviram que as perdas com a estiagem já atingem 80%.

- Está tudo torrado - disse o produtor de leite, que viu o volume do produto encolher de 4 mil litros por dia para 1,5 mil.

Das 54 cabeças de gado dele, duas morreram com a estiagem.

Em ato no assentamento Meia Água, os ministros confirmaram os R$ 430 milhões de recursos anunciados na véspera. Prometeram que a verba será repassada aos municípios em situação de emergência de forma imediata, enquanto medidas estruturantes são desenvolvidas.

- Deu entrada, 24, 48 horas depois (vamos) liberar recurso para os produtores, enquanto se resolve problema de (construção de) poço, cisterna e barragem, que leva mais tempo - disse o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.

Segundo ele, medidas de médio e longo prazo já poderão começar logo, como construção de barragens, canalização de água e irrigação. Dias avalia, inclusive, que ações de médio prazo já serão percebidas no próximo verão.

Questionado sobre a alteração na legislação ambiental, que poderia alavancar o licenciamento de reservas de águas, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, limitou-se a dizer que o assunto será debatido, ainda sem novidades.

- Isso tem de ser estudado. Vamos levar esse tema ao Ministério do Meio Ambiente. A gente precisa estudar como vai avançar na regulação de barragens nesta região - ponderou Teixeira.

Interlocução

O governador Eduardo Leite se comprometeu em aprofundar a interlocução com o governo federal para que as ações cheguem rapidamente até os produtores.

- O governo (do RS) está estudando outros anúncios. Alguns deles dependem de estruturação mais detalhada e nós preferimos ter estruturado os programas para poder anunciar - destacou Leite, durante o ato, citando o cenário de incertezas que envolve o orçamento do Estado, com decisões federais que cortaram recursos do Rio Grande do Sul.

Ao final, Dias chamou os representantes do governo federal (o titular da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, completava a lista de ministros), Leite, o prefeito de Hulha Negra, Renato Machado, e representantes de produtores para darem as mãos.

- A partir de hoje ninguém larga a mão de ninguém. Vamos seguir juntos para trabalhar - afirmou Dias.

 JOCIMAR FARINA

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

 Anna Perin lança novo single nesta sexta-feira

Não Nega faz parte de EP de estreia da cantora, que sairá em março

Não Nega faz parte de EP de estreia da cantora, que sairá em março


/MATHEUS GOMES/DIVULGAÇÃO/JC
Uma das representantes da novíssima geração de músicos porto-alegrenses, Anna Perin, lança nesta sexta-feira seu mais novo single. A canção Não Nega pode ser ouvida pelo público através de todas as plataformas digitais. O som é o primeiro gostinho do EP de estreia da artista, Brasa, que tem lançamento previsto para o dia 24 de março.
Em Não Nega, Anna Perin traz como referências um caldeirão que mistura o pop americano, funk melódico e a MPB contemporânea. A faixa é marcada pela fusão de elementos orgânicos e eletrônicos e narra o momento inegável em que duas pessoas se mostram apaixonadas e envolvidas uma pela outra, fazendo da faísca de cada um virar chama, incendiando os sentimentos e a vida.
O hit de verão da artista é como uma colcha de retalhos: artistas contemporâneos que não saem dos fones de ouvido de Anna influenciaram diretamente na música. Não Nega traz na composição influência essencial das músicas Lost Cause, da Billie Eilish, Malvadão 3, do rapper Xamã e Voltei pra mim, da Marina Sena. A canção é a síntese das artes que permeiam a vida da cantora, o que a atravessa vira parte de sua criação. O beat bebeu da fonte do funk melódico e tem um toque que mistura o brega com o eletrônico, numa fusão de referências entre Céu e The Weeknd. Com acordes do universo pop e forte intenção no fluxo rítmico das palavras, surgiu Não Nega, single dançante e envolvente, com um refrão que gruda na sua mente.
Cantora, compositora e produtora musical, Anna Perin nasceu em Porto Alegre e é formada em Música Popular pela Ufrgs e Escrita Criativa pela Pucrs. Sua forte relação com a arte vem organicamente desde a infância, tanto por crescer em meio a uma família de músicos, quanto pela própria inquietação individual. A artista de 25 anos encontrou seu pertencimento no mundo cantando, tocando instrumentos, performando, escrevendo, compondo canções e arranjando, se entregando ao universo artístico por inteiro. Em suas canções, transborda estética melancólica e magnética. Dá voz a uma sonoridade pop recheada de sentimentos. Anna busca, com a sua arte, gerar impacto e conexão, com melodias que fiquem na cabeça e com letras que cativem os ouvintes.