segunda-feira, 2 de março de 2009


Por HIROKO TABUCHI

Cautela e avareza sabotam economia do Japão

Há muita gente dirigindo carros velhos e racionando legumes

TÓQUIO - Enquanto os norte-americanos, preocupados com a recessão, se adaptam à frugalidade, o Japão mostra como a frugalidade pode acabar dominando uma sociedade de consumo, com efeitos desastrosos.

A doença econômica que afetou o Japão entre a década de 1990 e o começo dos anos 2000 causou atrofia salarial e perda no valor das ações, transformando consumidores em avarentos que são um peso morto na economia do país.

Ainda hoje, anos após a recuperação, mesmo as famílias japonesas bem de vida reaproveitam a água do banho para lavar roupa. As vendas de uísque, bebida favorita dos habitantes endinheirados de Tóquio na década de 1980, são atualmente um quinto do que foram no auge. E o país está se desinteressando dos carros -as vendas caíram pela metade desde 1990.

A família Takigasaki, que vive em Nakano, subúrbio de Tóquio, faz de tudo para poupar um ou dois ienes. Embora a família tenha uma poupança confortável, Hiroko Takigasaki, 49, raciona os legumes. Quando exagera numa semana, recorre à sua saída econômica: cozido de repolho.

O marido dela tem um emprego bem pago na Fujitsu, gigante do ramo eletrônico, mas ela diz que não sabe "quando o machado vai cair". "Precisamos poupar muitíssimo mais."

O Japão acabou superando a década perdida dos anos 1990, graças em parte a um boom de exportações para os EUA e a China. Mas, mesmo quando a economia crescia, os consumidores, em choque, se recusavam a gastar. Entre 2001 e 2007, o consumo per capita aumentou só 0,2%.

Agora, com o enxugamento das exportações devido à crise mundial, a economia japonesa está se enfraquecendo rapidamente porque não pode contar com o consumo doméstico para se recuperar. No último trimestre de 2008, a economia japonesa encolheu a uma taxa anualizada de 12,7%, maior declínio desde os choques do petróleo na década de 1970.

"O Japão é tão dependente de exportações que, quando os mercados externos se desaceleram, a economia do país balança", disse Hideo Kumano, economista do Instituto de Pesquisa Dai-ichi Life. "Na superfície, o Japão parecia ter se recuperado da sua década perdida. Mas na verdade entrou numa segunda década perdida -a do consumo perdido."

Os japoneses tiveram boas razões para cortar gastos. Talvez a mais importante é que o salário médio do trabalhador tenha encolhido nos últimos anos, mesmo depois que algumas empresas recuperaram seus lucros.

Cerca de 48% dos trabalhadores com até 24 anos ocupam vagas temporárias. Tendo virado adultos numa época de mercado profissional apertado, eles tendem a evitar o consumo excessivo.

"Não estou interessada em grandes gastos", diz a universitária Risa Masaki, 20, vizinha da família Takigasaki. "Só quero uma vida humilde."
O envelhecimento populacional tampouco contribui com o consumo. As empresas esperavam que os integrantes da geração do baby boom fossem esbanjar a poupança da vida inteira ao se aposentarem, o que não está ocorrendo na escala prevista.

Economistas atribuem a moderação nos gastos à disseminada desconfiança em relação ao sistema previdenciário, que está cedendo ao peso do rápido envelhecimento populacional.

"Meu marido vai se aposentar dentro de cinco anos, e estou muito preocupada", diz a mãe de Masaki, Naoko, 52. O marido, funcionário público, receberá um polpudo pacote de aposentadoria, mas sua pensão mensal pode vir a cair. "Quero que ele encontre outro emprego e que trabalhe enquanto conseguir", diz Naoko.

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