segunda-feira, 2 de março de 2009



O amor é hoje menos esplendoroso

Sem emprego, sem dinheiro, sem casa. Mas pelo menos há o amor, certo? Uma família, uma namorada ou um parceiro podem dar conforto quando os investimentos despencam e o dinheiro fica apertado. Bem, talvez não.

Assim como as empresas estão reduzindo o número de empregados, as pessoas podem descobrir que seus relacionamentos também encolheram. Os orçamentos familiares, os hábitos e a dinâmica de gêneros estão em fluxo hoje, enquanto a recessão global se intensifica.

"As famílias estão sofrendo tensões que não existiam antes e têm de se adaptar para que as coisas funcionem", disse David Popenoe, codiretor do Projeto Nacional de Casamento na Universidade Rutgers, ao "New York Times".

As mulheres que se consideravam abençoadas por ter parceiros ricos e poderosos do mundo das finanças hoje fazem cortes dolorosos em suas compras.

Algumas delas organizaram o grupo "Namoradas de Banqueiros Anônimas", uma brincadeira em termos, em que elas conversam sobre como enfrentar os impactos pessoais do turbilhão financeiro.

Dawn Spinner Davis, 26, é uma delas. Seu marido, um administrador de capitais de 28 anos, parou de jogar golfe, sua paixão. "Um de seus amigos me disse que minha tarefa agora é mantê-lo calmo e impedir que ele morra aos 35 anos", disse Davis.

O colapso econômico colocou algumas mulheres no papel de principais provedoras, escreveu Catherine Rampell, do "Times". Mulheres como Nasreen Mohammed, da Califórnia, estão deixando de ser donas-de-casa em tempo integral para virar empresárias em tempo integral quando seus maridos perdem o emprego. Mohammed montou uma creche infantil em sua casa.

"As coisas não ficam bem se eu o culpar o tempo todo", ela disse sobre seu marido, que trabalhava em marketing e vendas. "Eu sei que ele faz o melhor que pode."

Mas alguns homens foram tão afetados psicologicamente pela perda do emprego que, segundo os psiquiatras, aumentou o número dos que buscam ajuda, escreveu Hannah Seligson no "Times".

"Uma grande parte de seu ego está no emprego", disse Jonathan Steur, 43, que perdeu o seu em uma firma de pesquisas em Nova York. "Não consigo encontrar a psicologia que eu deveria oferecer."

Alguns chefes de família estão descobrindo que a melhor maneira de sustentá-las é viver longe delas. Peter Janoff trabalha para uma firma imobiliária no Brasil enquanto sua mulher e dois filhos adolescentes vivem num subúrbio de Nova York. Ele os visita uma vez a cada seis semanas.

"Sem um incentivo financeiro, não sei por que alguém faria isso", disse sua mulher, Lori.

Os casais que buscam divórcio também estão em dificuldades. Com o valor das casas caindo abaixo das dívidas em hipotecas, muitos desses casais preferem continuar morando juntos, escreveu John Leland, do "Times".

Mas talvez haja um efeito positivo em todos os números e fatos negativos. Os serviços de aproximação de pessoas relatam que o interesse pelos encontros românticos aumentou de 40% a 50%, escreveu Abby Ellin, do "Times".

"Em um momento de dinheiro escasso ou incerto, quando as pessoas estão avaliando suas prioridades, elas não querem passar por isso sozinhas", explicou Pepper Schwartz, professor de sociologia na Universidade de Washington em Seattle. "Quando você não tem certeza do futuro próximo, o amor parece ainda mais importante."

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