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terça-feira, 3 de março de 2009
03 de março de 2009
N° 15896 - MOACYR SCLIAR
De um diário londrino
Só cansa de Londres quem está cansado da vida (“If you’re tired of London, you’re tired of life”), como disse o escritor inglês Samuel Johnson no século dezoito. A afirmativa continua verdadeira.
Londres não é apenas uma cidade, Londres é um mundo, um caldeirão efervescente onde tudo acontece, onde todas as rendências se misturam, onde todas as línguas são faladas. A oferta cultural é inacreditável, esmagadora mesmo.
O Museu Britânico, por exemplo, é programa para uma semana (só a exposição que lá está em cartaz, “Babilônia”, demanda várias horas), e este é apenas um dos muitos museus, dos muitos lugares históricos, dos muitos teatros e cinemas, dos muitos parques.
Mas vamos nos restringir só às exposições: além desta mencionada, havia outra sobre Darwin, e sobre Bizâncio, e sobre os intelectuais na Rússia soviética, isto sem falar nas mostras de originais museus, como o de Freud e o de Charles Dickens: haja tempo e energia.
Ah, sim, e haja grana: a libra pode ter se desvalorizado em relação ao euro e ao dólar, mas continua derrotando o real. Não em tudo: livros, por exemplo, são baratos. Roupas também podem ser encontradas por preços convenientes. Mas comida, transporte e diversão custam muito dinheiro, mesmo para os próprios londrinos, alarmados com a crise.
O desemprego não para de aumentar, e não é impossível que o próximo verão veja protestos e distúrbios nas ruas. Há espetáculos que já oferecem entradas mais baratas aos desempregados, uma atitude generosa, mas preocupante. Isto não impede que, no fim de semana, as ruas e o metrô fiquem cheios de jovens alegres e barulhentos.
Aquela ideia do inglês como pessoa fleugmática é coisa do passado, e um bom exemplo disso é Quem quer ser um milionário? de Danny Boyle, cujo triunfo no Oscar foi saudado com entusiasmo, mas também com certa perplexidade, pela imprensa londrina.
É, de fato, um filme diferente, mas sob muitos aspectos típico dos novos tempos. Para começar é, basicamente, cinema hindu, uma produção de Bollywood, termo que designa a indústria cinematográfica da Índia (cuja produção é inacreditável).
Os jovens atores e atrizes são ótimos, o ritmo da película é vertiginoso. Mas o que mais atrai o público é a definição de “feelgood film”, um filme para fazer as pessoas se sentirem bem, o que acaba funcionando como antídoto para a crise.
Mas devo dizer que não fui a Londres só para ir a museus, cinemas e livrarias. Dei palestras na Universidade de Londres e também em Oxford, onde tive contato com a verdadeira tradição inglesa: depois da palestra, foi-nos oferecido, em um enorme salão, um jantar em que participaram professores, devidamente togados, e alunos, de terno e gravata.
Antes da refeição, o diretor do curso, com um martelo semelhante ao dos juízes, desferiu um tremendo golpe na mesa. Todos se levantaram, ele recitou uma oração em latim, e só então a refeição foi servida.
O prato principal era pombo, uma ave que eu nunca tinha comido, e que no meu entender só serve mesmo para arrulhar nos pombais ou levar mensagens, porque, como delicatesse, deixa muito a desejar.
Mas a comida inglesa é assim mesmo, surpreendente. Na universidade em que fiquei hospedado, o café da manhã começava com o “porridge”, um mingau que é um verdadeiro porre. Se eles gostam de rim assado, devem gostar também do tal mingau.
Enfim, emoções não faltaram nesta viagem. Samuel Johnson tem razão: Londres é tão surpreendente quanto a própria vida.
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