sexta-feira, 6 de março de 2009


Jaime Cimenti
6/3/2009


O bom e velho Rubem Braga

Acredite, já houve um tempo no qual cronistas cultivavam as sutilezas de nosso idioma, tempo em que escreviam sobre pássaros, mar, coisas e pessoas do cotidiano e sobre falta de assunto, tema de alguns de seus melhores textos.

Uns ainda fazem isso, mas a maioria elabora pequenos artigos de opinião em cima do noticiário. O genial Rubem Braga, 1913-1990, fenômeno que nunca deixou de escrever regularmente para jornais e revistas e que conquistou um lugar definitivo na literatura brasileira exclusivamente pela atividade de cronista, é o símbolo da geração de escritores que deu estatuto de literatura à crônica.

A décima edição de O verão e as mulheres reúne crônicas escritas e publicadas entre janeiro de 1953 a fevereiro de 1955 no Correio da Manhã do Rio de Janeiro e em jornais de outros estados. A coletânea é composta de dois livros publicados anteriormente: A cidade e a roça e Três primitivos. Na crônica-título, Braga fala da influência que o verão exerce nas mulheres, do mar, cigarras, folhas de amendoeiras, Carnaval e outras relevâncias.

O jornalista, que gostava muito de viajar e morou em Paris, Santiago do Chile e Marrocos, com sua linguagem clara e sedutora, fala de si, de sua infância e mocidade, dos primeiros e últimos amores e sempre acaba por exaltar a mulher, os passarinhos, as coisas da natureza e a vida aparentemente simples de pessoas humildes e sofredoras.

Rita narra com contido lirismo o sonho que o autor teve com a filha que nunca teve. Os textos de Três Primitivos, da parte final do volume, falam de três grandes pintores brasileiros primitivos: José Bernardo Cardoso Júnior, o velho Cardosinho; Heitor dos Prazeres e José Antônio da Silva.

Braga explica que, embora sem contar com a sabedoria indispensável para fazer grande arte, os três humildes artistas, com sua ingenuidade e suas lições úteis, nos fazem permanecer humildes e nos emocionarmos com visões puras de nossos cenários brasileiros.

Em Recado ao Senhor 903, Braga fala de problemas com o vizinho do andar de baixo, que aparece para reclamar do barulho noturno. Braga promete maneirar, mas fica na esperança de que o vizinho e a vizinha frequentem sua casa, bebam vinho, comam pão e cantem canções noite adentro.

Em Homem no Mar, descreve o desconhecido que nada na praia deserta e que lhe provoca sentimentos de comunhão e solidariedade.

As crônicas do mestre resistem bravamente ao tempo. Um pouco pelos temas e um muito pela qualidade das frases, que naqueles tempos, se diria que eram bem torneadas, assim como as pernas de certas mulheres. 142 páginas, Record, telefone 21-2585-2000.

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