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sábado, 7 de março de 2009
07 de março de 2009
N° 15900 - PAULO SANT’ANA
Inocentes no banco de réus
Há pessoas que não toleram a divergência. E algumas delas, quando topam com opinião contrária à sua, passam a desconstituir a pessoa do oponente.
Confesso que a mim também é difícil aceitar oposição ao que eu penso, mas tenho exercitado durante os últimos anos a aceitação a posições antagônicas à minha.
Agora mesmo me defronto com um assunto polêmico, que praticamente admite como sensatas as duas opiniões adversas de que é alvo: o julgamento pelo Superior Tribunal Eleitoral dos sete ou oito deputados estaduais que mantinham albergues em Porto Alegre para cidadãos de suas respectivas regiões que vinham para a Capital em busca de atendimento médico.
A acusação que sofreram do respeitável Ministério Público Eleitoral é de que praticaram crime eleitoral ao abrigar em seus albergues as pessoas que necessitavam de um local na Capital para pernoitar até que fossem atendidas nos hospitais em consultas, exames, cirurgias etc.
Decerto ocorre logo aos espíritos mais lúcidos que, diante do fato de que multidões de pacientes se deslocam do Interior para serem atendidas nos hospitais de Porto Alegre, estes albergues obrigatoriamente teriam de ser instalados pelo poder público, que foi quem produziu esse sistema de as pessoas terem de viajar para obter atendimento médico.
Viagens algumas penosas, os ônibus e micro-ônibus atravessando quase o Estado inteiro, varando as madrugadas de neblina espessa pelas estradas repletas de perigo.
Mas o poder público não instala albergues para as pessoas, o que provoca que elas sejam atendidas nos hospitais no mesmo dia em que realizam as longas e cansativas viagens de ida e volta às suas cidades.
Agora mesmo, existissem albergues para aqueles viajantes no micro-ônibus que vinha de Sobradinho na madrugada e que se envolveu em colisão com caminhões, morrendo oito pessoas, a maioria vindo buscar atendimento de saúde aqui em Porto Alegre – existissem os albergues e aquelas pessoas não teriam morrido, pois teriam viajado à luz solar e não na bruma espessa que não deixava o motorista que as trazia pela madrugada enxergar na estrada um palmo adiante do nariz.
Houvesse albergues, teriam viajado um dia antes.
Mas, bem, cerca de 10 deputados estaduais gaúchos instalaram albergues em Porto Alegre e aqui hospedavam as pessoas de suas regiões.
Por isso foram acusados de crime eleitoral e alguns deles estão ameaçados de ver seus mandatos cassados em Brasília.
Respeitando a opinião do Ministério Público e até mesmo deste jornal, ZH, que ontem na abertura do Informe Especial intitulou a prática albergueira dos deputados de “Assistencialismo interesseiro”, peço licença para discordar.
Por dia, de 10 mil a 20 mil pessoas se dirigem ao prédio da Assembleia Legislativa. Por dia.
Já fui vereador por 16 anos e sei que a maior parte dessas multidões que se dirigem à Assembleia vai lá para pedir auxílio para seus deputados.
Os parlamentares não conseguem dispor de recursos pessoais para ajudar a todos que os procuram. Mas por vezes se torna a eles indeclinável prestar ajuda a seus eleitores.
E pagam de seus bolsos passagens de ônibus, refeições, até mesmo estadias em hotéis para quem vem do Interior em busca de atendimento médico.
Podem então os deputados que se organizam para albergar os cidadãos, até mesmo porque isso custa mais barato do que se tivessem de pagar hotéis para os pacientes, ser acusados de crime eleitoral?
Então, deputado que paga almoço para eleitor, deputado que paga passagem de ônibus para eleitor, isso acontece milhões de vezes durante um só ano, está cometendo crime eleitoral?
Vamos deixar de lado a hipocrisia: deputado que instala albergue está mesmo à procura de votos.
Mas e daí? É da sua profissão buscar votos. Nós temos de parar com o preconceito de que deputados só querem aparecer e ganhar votos. É das suas profissões, pertence à índole de sua atividade aparecer e buscar votos.
E porque os deputados custeavam os albergues de seus salários, do seu bolso, substituindo a omissão governamental, é que proclamo, no meu pensar, a indiscutível inocência deles.
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