quinta-feira, 10 de abril de 2025


09 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA Marta Sfredo

A sucessão de equívocos de Trump

Em artigo publicado segunda-feira no jornal The New York Times, Brent Neiman, que trabalhou na Secretaria do Tesouro no mandato de Joe Biden, dá a melhor definição para o tarifaço de Donald Trump: "Entendeu tudo errado".

Neiman contribuiu para um trabalho citado pelo US Trade Representative (USTR, principal órgão de comércio exterior dos EUA) para justificar as tarifas. Segundo o economista, o "maior erro" foi interpretar de forma incorreta os déficits comerciais com outros países como sinal indiscutível de práticas injustas. Outro foi afirmar que os preços internos "subiriam levemente" com a medida.

No trabalho, realizado com outros três acadêmicos, sustentava que o preço das importações aumentaria de forma "quase equivalente" à tarifa imposta. Afirmou, ainda, que as alíquotas corretas deveriam ser muito menores, equivalentes a um quarto dos percentuais anunciados.

Os erros abaixo foram apurados pela coluna, a partir de conversas com especialistas feitas antes de saber do artigo. Não foram, portanto, apontados por Neiman. _

1. De diagnóstico: para Trump, os déficits comerciais dos EUA estão na raiz de todos os problemas americanos e são provocados por países "do mal". Em muitos casos, esses déficits são provocados por... empresas americanas. Por exemplo, a Apple tem produção espalhada pelo globo e assina seus dispositivos com "Designed by Apple in California". O que tem mais valor é o trabalho intelectual, não a montagem. A Nike tem nada menos de 71 fábricas no Vietnã. Ajudam a alimentar o déficit dos EUA com países que têm mão de obra barata e de qualidade.

2. De objetivo: em tese, a meta de Trump é forçar empresas americanas como Apple e Nike a levar essa produção descentralizada de volta aos EUA para fugir das tarifas punitivas impostas por ele. Primeiro, esse processo leva anos. É preciso construir unidades, comprar equipamentos. E se der certo, vai dar muito errado: a corrida de volta para casa tende a provocar demanda difícil de atender e pressionar a inflação já alta pela entrada de produtos com preço maior pela elevação da tarifa de importação. Segundo, em tese a cobrança de tarifas financia o corte de impostos que Trump planejava, para não elevar o endividamento. Na prática, a tarifa é repassada aos preços, virando imposto para o consumidor.

3. De concepção: o tarifaço era aguardado ao menos desde a posse. Mas a projeção de empresas financeiras, como a Goldman Sachs, ou universidades, como Yale, eram de tarifas de 13% a até 25% no pior dos casos. Ontem, foi anunciada uma de 104%, para a China. Engano de quem projetou? Não, de quem concebeu. Tarifas mais alinhadas às projeções provocariam efeitos negativos, mas não o derretimento de mercados.

4. De elaboração: como envolve tema sensível - o comércio do mundo todo -, a definição das tarifas deveria passar por estudo profundo sobre as causas dos déficits e os possíveis impactos, certo? Nada, o United States Trade Representative (USTR, principal órgão de comércio exterior dos EUA) simplificou: dividiu o superávit comercial de cada país pelo total das exportações dessa mesma nação. E dividiu outra vez por dois, para ser "gentil". O fato de uma ilha povoada apenas por pinguins e focas ter sido taxada com 10% da "tarifa padrão" evidencia o grau de amadorismo.

5. De aplicação: o anúncio foi feito em 2 de abril e as tarifas padrão, de 10%, começaram a incidir no dia 5. No caso das punitivas, entram em vigor hoje. Se era para negociar, o prazo deveria ter sido maior. No caso das mais elevadas, então, é um absurdo completo, no mundo dos negócios, que uma mudança desse porte ocorra em tão curto prazo. É como se um aumento de imposto no Brasil fosse anunciado em uma quarta e vigorasse já no sábado. Ia ter manifestação nas ruas.

6. De avaliação: na Trumposfera, a China acataria sem chiar uma alíquota de 34%. Mas o gigante asiático retaliou e o presidente americano acusou o golpe, dizendo que o país oriental havia "entrado em pânico" e "não sabia jogar". Espantou ainda mais ao anunciar que vai aplicar 104% a partir do primeiro minuto de hoje (fuso da costa leste dos EUA). Sinais de que as tarifas negociadas haviam amenizado as perdas nos mercados, Ásia e Europa ainda escaparam no positivo, porque fecharam antes do anúncio, mas as americanas voltaram a cair, embora menos.

Fundador do Orkut no South Summit

Fundador de uma das redes sociais mais queridas da primeira década dos anos 2000, Orkut Buyukkokten estará em Porto Alegre nesta semana para participar de duas palestras no South Summit Brazil 2025.

Em Porto Alegre, Orkut vai refletir sobre a ascensão e a queda das redes sociais e sobre a construção de comunidades digitais. Quem patrocina a vinda de Orkut é a Rio Grande Seguros, Previdência e Capitalização, maior seguradora de pessoas com sede no Rio Grande do Sul. _

Aporte de R$ 320 milhões para empresa gaúcha crescer

O namoro já tinha um ano e, agora, saiu o casamento: o Patria Investimentos, um dos maiores fundos de private equity (participação em empresas), vai aportar R$ 320 milhões na Rands, braço financeiro e de serviços da Randoncorp, de Caxias do Sul.

- A Rands vem crescendo como uma startup, a 46% ao ano nos últimos três a quatro anos. Já fomos 2% da receita do grupo, hoje somos 6% e queremos chegar a 10%. É para esse novo ciclo que estamos nos unindo - diz Daniel Ely, vice-presidente executivo da Randoncorp e diretor de operações da Rands.

Segundo Ely, os recursos serão destinados especialmente a aquisições na área de consórcios, porque a Rands quer ajudar a consolidar o segmento (concentrar sob seu controle grande número de empresas), que vem crescendo cerca de 20% ao ano na última década.

- No Patria, temos uma área que foca em empresas com alto crescimento. Estávamos mapeando quem está melhor posicionado e ficamos impressionados com os números e a trajetória da Rands. Foi quando começou o namoro - detalhou Bruno Tupinamba, diretor-gerente de high growth do Patria.

Embora os consórcios sejam alternativa de menor custo para adquirir bens de alto valor, como imóveis e veículos, Ely e Bruno afirmam que o negócio não está focado nesta fase de Selic na estratosfera.

- A ideia é anterior, porque o consórcio é muito resiliente a altos e baixos. São uma boa opção com a Selic alta, com financiamento muito caro, mas tem bom desempenho mesmo quando a taxa baixa - diz Ely. 

Dólar abaixo de R$ 6 por um triz

Houve até ensaio de mudar o discurso, com resultados positivos, mas a prática não foi alterada. No início da tarde de ontem, o governo dos Estados Unidos informou que vai aplicar 104% de tarifa a todos os produtos chineses. O dólar, que já subia, superou os R$ 6 perto das 14h. Depois moderou a alta e fechou em R$ 5,997, alta de 1,46%.

Lá fora, as bolsas da Europa fecharam com altas - antes do anúncio dos EUA -, embora mais moderadas do que as máximas do dia, ao redor de 2%. As americanas também engataram alta, mas fecharam com quedas entre 1% e 2%.

No Brasil, a pressão cambial é atribuída, em parte, à depreciação do yuan, moeda da China, frente ao dólar. Como o mercado brasileiro é líquido - é fácil de fazer e desfazer transações financeiras -, há intensa procura para compra, inclusive com objetivo de proteção, via mecanismos de hedge (operações que dão garantia a quem as faz de obter ganho igual ao cambial).

A tarifa de 104% para a China é resultado de taxa de 20% aplicada em março, mais 34% impostos anunciados em 2 de abril e mais 50% ontem como "castigo" pelo fato de o país ter retaliado os EUA com alíquota de 34% na entrada de importações americanas no país. _

GPS DA ECONOMIA

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