Mentira tem perna curta (e visto americano)
Tem gente
que mente que nem sente. Mas se mentir não é genético, como explicar o clã
Bolsonaro?
Miranda -
Comediante, atriz e roteirista. Cria vídeos em @aquela.miranda.
"Mentira
tem perna curta", minha avó dizia. Discordo. Tem mentira com perna tão
longa que atravessa a imigração americana. Mentir, afinal, não é só coisa de
gente. Tem bicho que se finge de morto para escapar do predador —e tem os que
preferem fugir pros Estados Unidos.
Durante o
ensino médio, eu menti para a Michelle, professora de matemática. Fingi que
estava doente no dia do teste. Não sabia nada sobre funções de segundo grau,
minha única certeza é de que eu zeraria a prova. Consegui convencê-la a fazer o
teste em uma segunda chamada. Estudei e me saí bem. Logo depois, me senti a
pior pessoa do mundo. A maioria dos meus colegas tampouco sabia o valor de
"x", mas bancaram a nota zero de cabeça erguida. No meu imaginário, o
pátio da escola tinha se tornado uma praça da Inquisição: "À fogueira,
aluna farsante e seu êxito imerecido!".
Já menti
várias vezes na vida. Para mãe, namorado, amiga, chefe. E mente quem diz que
não mente. Mas tem gente que mente que nem sente.
Se mentir
não é genético, como explicar o clã Bolsonaro? Casta de mitômanos capazes de
inventar cenário político para justificar um exílio autoproclamado. O talento é
tanto que o "Primeiro de Abril" poderia se chamar "Dia dos
Bolsonaros".
Um homem
está posando em uma área urbana, com edifícios históricos ao fundo. Ele usa um
colete escuro e uma camiseta clara. À esquerda, há uma coluna e, na parte
inferior da imagem, um texto vermelho que diz 'SIGA: @BolsonaroSP'. A
iluminação é natural, sugerindo que a foto foi tirada durante o dia.
Reprodução
de vídeo de Eduardo Bolsonaro (PL) explicando por que decidiu morar nos Estados
Unidos - Eduardo Bolsonaro no Youtube/Reprodução/Reprodução
Se
tivesse sido meu colega de escola (não foi —prova de que Deus existe), Dudu
Bolsonaro teria arquitetado uma doença autoimune incapacitante para conseguir a
segunda chamada de matemática e, não satisfeito, teria espalhado a notícia de
que Michelle havia forjado seu diploma e não poderia mais lecionar. Ficaríamos sem
aula por duas ou três semanas até que conseguissem um substituto. Eduardo
ganharia esse tempo para pegar as respostas da prova com os veteranos —e
venderia o gabarito para as turmas 301 e 302.
No meio
do ano, se filiaria à Comissão de Formatura só para desviar um percentual da
venda dos ingressos da chopada e levaria sua namorada para a primeira vez
(dela) em um motel na Barra da Tijuca (claro) —momento que teria inspirado a
moça a apelidá-lo de "Bananinha" pelo seu desempenho... patriótico.
Na faculdade, escolheria cursar Direito e se formaria sem esforços e sem
notoriedade. Viraria deputado federal e faria vários nadas em favor da
população.
Anos
depois, uma reviravolta política o faria fugir do seu país sob pretexto de amor
à nação. Alegaria perseguição de adversários e culparia um tal de Xandão. Lá na
gringa, se reuniria com Trump, Musk, Zuckerberg e Bezos. O quarteto ouviria
atentamente às declarações de Bananinha, propondo uma intervenção democrática
imediata em terras tropicais: "We must save Brazil from dictatorship!
Release these savages from barbarism!", diriam os biliotários.
Eduardo
ligaria para o papai a fim de lhe informar sobre as excelentes novas.
Prontamente, seria interrompido com um zap do Zuck: "April Fools, little
banana".
No fundo,
ele segue sendo o mesmo de sempre: o aluno fanfarrão que tenta colar, inventa
desculpa e quando a prova chega, foge. A diferença é que, agora, a segunda
chamada é no Supremo.
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