
Passeio sem volta
As estradas, que deveriam servir para aproximar existências, só têm interrompido sonhos. O novo palco do terror é o Acesso Rota do Sol, na altura do km3, no Vale do Taquari.
Sete alunos do Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) morreram, dos 35 ocupantes de um ônibus de excursão, que se dirigia ao Cactário Horst, o maior cactário da América Latina, em Imigrante (RS), a 140 quilômetros de Porto Alegre.
As vítimas - seis mulheres e um homem - ainda não foram identificadas. O veículo capotou em uma ribanceira, às 11h15min de sexta-feira. Numa curva, teria perdido os freios, saindo da pista pelo lado esquerdo. O ônibus andou cerca de cem metros fora da faixa.
Vinte e seis pessoas estão feridas, com fraturas múltiplas.. Havia estudantes e professores do curso de Paisagismo, além do motorista.
Venho chamando atenção para o estado lamentável das nossas vias, agravado depois das enchentes. Quem passa pela Rota do Sol já sabe dos riscos. Aliás, a estrada nem poderia ter esse nome, mais próxima de um Vale das Sombras e da Morte - esburacada, precária, sem as devidas muradas de segurança. Mesmo não sendo a pivô desse acidente, basta um problema técnico e não há escapatória. Em outro trecho, em Itati, no fim de janeiro, cinco pessoas morreram, incluindo um menino de nove anos, após colisão entre caminhão do Corpo de Bombeiros e um carro.
Santa Maria revive as feridas do luto da boate Kiss (2013) e de dois professores universitários assassinados em assalto em Mato Castelhano (RS), em julho de 2024. São perdas consecutivas envolvendo a UFSM, a principal universidade da cidade.
O Rio Grande do Sul testemunha a repetição de uma tragédia em rodovia. Há seis meses, também sete adolescentes, atletas do clube Remar para o Futuro, de Pelotas (RS), sofreram um acidente fatal na BR-376, em Guaratuba, no Paraná, que causou ainda o óbito do coordenador técnico, Oguener Tissot, e do motorista.
Se, no Paraná, uma carreta sem freios atingiu a traseira da van que transportava a equipe esportiva no retorno ao Estado depois de competição em São Paulo, agora a falta de freios no ônibus resultou no desastre em Imigrante.
O que era para ser uma dia memorável, aquela viagem anual para quebrar a rotina da sala de aula, uma atividade prática em contato com a natureza, uma celebração com os orientadores, uma expedição científica entre as imensas estufas com 2 mil espécies de plantas divididas entre cactos e suculentas, tornou-se um passeio macabro e sem volta para vocações curiosas e ávidas pelo conhecimento.
Ficam os espinhos infeccionando o coração das famílias, desamparadas com a precocidade do adeus.
Não tem como suportar a inversão do ciclo da vida e enterrar os próprios filhos. É o deserto do futuro. _
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