terça-feira, 8 de abril de 2025


Bolsas dos EUA perdem um Reino Unido e uma França

Foi a própria "segunda-feira sangrenta" (do inglês bloody monday, fenômeno recorrente nas bolsas). Teve queda histórica - a bolsa Hang Seng, de Hong Kong, desabou 13,22%, maior tombo desde a crise asiática de 1997 e pior do que os ocorridos em 2008 e na pandemia. Parte foi decorrente do feriado na sexta-feira anterior, mas espelhou o pânico que se apoderou dos mercados financeiros mundo afora. No Brasil, o dólar fechou em R$ 5,911, resultado de alta de 1,29% e a bolsa caiu 1,31%.

O caos foi tamanho que teve até fake news fazendo preço nos mercados mais profissionais do planeta. As bolsas dos EUA despencavam entre 4% e 5% quando circulou a informação sobre suposta "pausa" de 90 dias na aplicação do tarifaço de Donald Trump. O índice da Bolsa de Nova York que tem o maior número de empresas, o S&P500, chegou a saltar 7%.

Quando a Casa Branca negou que tenha qualquer intenção de fazer isso, voltaram ao vermelho, mas atenuando as perdas. Os dois principais índices da Nyse fecharam em vermelho mais suave - o tradicional DJIA caiu 0,91% e o abrangente S&P 500 recuou 0,23% -, enquanto a Nasdaq conquistou a façanha de fechar estável, variando 0,10% para cima.

Foi um desempenho muito melhor do que as asiáticas e as europeias. Isso ajudou a frear o tamanho da perda acumulada em três dias a estimados US$ 6 trilhões (sim, tri, de dólares). Isso equivale aos PIBs do Reino Unido e da França somados. Ou seja, em três dias, Trump provocou perda, só nos EUA, equivalente a um Reino Unido e uma França.

Essa comparação ajuda a entender o tamanho do erro de Trump. Nos últimos anos, os EUA acumularam tanta riqueza que existem várias empresas listadas em bolsa valendo mais do que o PIB de vários países.

O maior dos blefes

Pouco antes da fake news, Trump havia feito o maior dos blefes: inconformado com o "mau comportamento" da China, disse que pode impor tarifa adicional de 50% sobre os 34% já anunciados caso o gigante asiático não retire a represália - uma tarifa de 34% sobre os produtos americanos que entrem no país.

A expectativa do governo Trump era de que a China se somasse à fila de 50 países que se apresentaram para "negociação". A expressão mais adequada seria "extorsão", que é "ato de obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, por meio de ameaça ou violência, com intenção de obter vantagem, recompensa, lucro". _

Setor químico não vê vantagem em tarifa menor

Principal destino das exportações brasileiras de produtos químicos (boa parte fabricada no polo petroquímico de Triunfo), os EUA até devem receber mais envios do setor, mas não em número expressivo, avalia o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos Cordeiro. Ainda que a tarifa adicional de 10% aplicada ao Brasil seja menor do que a imposta aos concorrentes asiáticos, os produtos químicos brasileiros tendem a não ganhar competitividade suficiente para superar a concorrência no mercado americano.

- Até pode ser que o Brasil tome alguma fatia de mercado, mesmo que não muito significativa, do produtor asiático. Acho muito difícil, porque os produtos asiáticos são muito mais baratos do que os brasileiros em geral, com os químicos não é diferente - diz Passos Cordeiro.

A Abiquim estima que o Brasil exporta cerca de US$ 2,4 bilhões em produtos químicos por ano para o mercado americano. Passos Cordeiro, no entanto, chama atenção para a via contrária: as mercadorias que entram no mercado brasileiro:

- Outra possível repercussão é um eventual aumento das importações, com a China usando o mercado brasileiro para bater nos americanos. Quem sofre é o produtor brasileiro. _

Réplica de F-1 no Salgado Filho

Calma, ainda não é uma prova do circuito em Tarumã (nem poderia ser, infelizmente...). Mas uma réplica de carro de Fórmula-1 está exposta no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, desde ontem.

Ao longo dos próximos dois meses, passageiros que passarem pelo saguão de embarque e desembarque vão ver uma réplica em tamanho real de um carro de F-1 construída com 1,4 tonelada de sucata metálica, seguindo as medidas oficiais da competição.

A iniciativa é da Gerdau, que quer reforçar seu papel na economia circular. A gigante com raiz gaúcha transforma cerca de 11 milhões de toneladas de sucata em aço por ano, 70% de sua produção total.

Parceria

A Gerdau tem uma parceria com o Grande Prêmio de São Paulo de F-1, a etapa brasileira da competição automobilística. As estruturas do autódromo de Interlagos foram modernizadas com aço reciclável da Gerdau.

O grupo siderúrgico tem uma unidade que produz aços especiais - usados principalmente em veículos - em Charqueadas. Mas de lá ainda não saiu matéria-prima para montar um bólido de F-1 de verdade. _

Cheiro de estagflação em Wall Street

O mercado financeiro estava contente com a vitória de Donald Trump em novembro passado.

Corta para abril de 2025. Após perdas trilionárias e sem perspectivas de que Trump esteja disposto a estancar a sangria, mesmo os primeiros adesistas começaram a reagir.

Jamie Dimon, presidente do JP Morgan, maior banco dos EUA, afirma que "as recentes tarifas vão provavelmente elevar a inflação e estão fazendo com que muitos considerem uma grande probabilidade de recessão". Achou "bom lembrar" da "estagflação dos anos 1970".

Estagflação é a situação em que a economia murcha e a inflação dispara. Dimon é uma espécie de "decano" de Wall Street, um dos executivos que saiu vencedor na devastação causada pela crise de 2008.

A Goldman Sachs, outra "vencedora" da crise de 2008, elevou a probabilidade de os EUA entrarem em recessão de 35% para 45%. O bilionário Bill Ackman, fundador da Pershing Square e aliado de Trump, alertou que, se o presidente não recuar, o país vai mergulhar em "inverno nuclear econômico autoinflingido". _

R$ 100 milhões em startups do Sul

Um novo fundo que vai investir R$ 100 milhões em startups da Região Sul será apresentado hoje no Instituto Caldeira, em Porto Alegre. Com gestão da Primus Ventures, antes conhecida como Catarina Capital, o fundo Sul Ventures terá como foco startups em estágio inicial que ofereçam soluções para empresas. Cada negócio poderá receber aporte de até R$ 10 milhões.

A seleção de startups será feita de forma contínua a partir do segundo semestre deste ano. Serão contempladas de 15 a 20 empresas. Os primeiros cotistas institucionais do fundo Sul Ventures são o Badesul, agência de fomento ligada ao governo do Rio Grande do Sul, e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

Com cerca de R$ 50 milhões captados, a Primus Ventures pretende alcançar R$ 100 milhões até o fim deste ano. A previsão é investir entre 30% e 40% do capital no Rio Grande do Sul.

O Sul Ventures é o primeiro fundo da Primus Ventures, gestora que nasce da evolução da Catarina Capital, que já havia estruturado veículos financeiros. O fundo será operado por Adonay Freitas, José Augusto Albino, Renata Buss e Raul Daitx, sócios da nova gestora. _

GPS DA ECONOMIA 

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