quinta-feira, 3 de abril de 2025



03 de Abril de 2025
MERCADO FINANCEIRO

Ministério Público decide investigar acordo entre bancos

Mercado financeiro

Aquisição do Master pelo estatal BRB gerou questionamentos em diversas frentes. Operação, que ainda precisa de aval do Banco Central e do Cade, é estimada em R$ 2 bilhões e foi aprovada na sexta-feira. Instituição privada anunciou que obteve lucro de R$ 1 bilhão em 2024

O Ministério Público do Distrito Federal decidiu investigar a compra de uma fatia do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). Um inquérito civil foi aberto por iniciativa da própria procuradoria. O acordo chamou atenção do mercado devido ao rápido crescimento do Master nos últimos anos, além de alertas de operações fora do padrão levados ao Banco Central (BC),

No centro da apuração, está a operação de R$ 2 bilhões aprovada pelo Conselho do BRB, que é um banco estatal, na última sexta-feira. A transação ainda depende de aval do BC e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Os órgãos de controle têm prazo de um ano para definir uma posição.

Pelo acordo firmado, o BRB ficará com 58% do capital total do Master e com 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e 100% das ações preferenciais (sem direito a voto) do banco privado.

A negociação prevê que os dois bancos continuem operando separadamente, mas sob a marca BRB. O atual proprietário do Master, Daniel Vorcaro, continuará como controlador e terá 51% de participação na instituição financeira.

"Grande oportunidade"

A compra virou alvo de questionamentos em diferentes frentes. Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputados do PT protocolaram pedido de convocação do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. Já a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, na terça-feira, requerimento de informações ao BC.

O Ministério Público de Contas também vai apurar o caso. Além disso, o Sindicato dos Bancários de Brasília pedirá ao BC e ao Cade que rejeitem o negócio.

A entidade manifestou preocupação com possível gestão inadequada por parte do BRB e não descarta entrar na Justiça.

Em entrevista à GloboNews na terça-feira, Costa disse que a compra do Master tem como objetivo diversificar a atuação da instituição pública:

- O Master é uma grande oportunidade para o BRB, que sempre atuou no varejo e nunca conseguiu se posicionar no atacado. Vai agregar atuação em médias e grandes empresas, em mercado de capitais, em câmbio - afirmou.

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, reuniu-se esta semana tanto com Costa quanto com Vorcaro para entender o acordo. O BRB é uma sociedade de economia mista, de capital aberto, e o acionista majoritário é o governo do Distrito Federal (71,92%), mas atua em diversos Estados. _

Entenda a polêmica

A negociação é controversa porque o Banco Master levou a cabo, nos últimos anos, uma política considerada agressiva para captar recursos, oferecendo rentabilidades em seus Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de até 140% do CDI - bastante superiores às taxas médias do mercado.

Na terça-feira, o Master divulgou, com um dia de atraso, o balanço de 2024, que aponta lucro de R$ 1 bilhão, quase o dobro dos R$ 523 milhões registrados no ano anterior. Segundo os números, os resultados operacionais e as capitalizações sucessivas fizeram o patrimônio líquido da instituição financeira saltar de R$ 2,3 bilhões em 2023 para R$ 4,7 bilhões em 2024.

O Master enfrenta desconfianças do mercado financeiro. Recentemente, o banco tentou emissão de títulos em dólares, mas não conseguiu captar recursos. Operações do banco com precatórios (títulos de dívidas de governos com sentença judicial definitiva) também aumentaram dúvidas sobre a real situação financeira da instituição.

Recentemente, houve especulações de que outro banco, o BTG Pactual, teria oferecido apenas R$ 1 para assumir o controle do Master e o passivo da instituição. Na noite de ontem, a instituição divulgou um comunicado no qual afirmou que "nunca fez proposta para aquisição de ativos ou de participação no capital social do Banco Master".

Caso se concretize, a compra do Master pelo BRB resultará no nono maior banco em carteira de crédito do país, com um total de 15 milhões de clientes e R$ 112 bilhões em ativos.

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