
Colecionador vende relíquias datadas do século 18
Apaixonado por cédulas, moedas e medalhas antigas desde a infância, Jonas Belé fez do hobby a sua profissão. Em sua loja na cidade de Cachoeirinha, ele possui itens raros, como uma moeda com o rosto da rainha Maria I, de Portugal, e o famoso patacão, do período da vinda da família real para o Brasil
Na principal avenida de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, uma pequena sala no segundo andar de um prédio comercial pode ser considerada uma verdadeira máquina do tempo. A loja Mundo Numismático abriga cédulas, moedas e medalhas antigas, datadas desde o século 18. Muitos itens à venda são raros.
O proprietário, Jonas Belé, 37 anos, tem um caso de amor pelas relíquias desde pequeno. Quando era criança, encontrou uma gaveta com cédulas antigas e começou a guardá-las. A coleção virou hobby e, há sete anos, o gaúcho resolveu gravar vídeos para o YouTube sobre o tema.
Ao longo do tempo, o colecionador começou a receber mensagens de pessoas que assistiam aos seus vídeos questionando se ele venderia algum dos itens. Foi quando percebeu que ali havia um mercado e largou sua distribuidora de biscoitos para criar a própria loja.
Numismática é, de acordo com o dicionário Michaelis, o "estudo sobre moedas e medalhas de todos os tempos e países". Mas, para Belé, é muito mais que isso.
- É como se eu fosse trabalhar com o amor da minha vida. Eu nunca considerei um trabalho. Sou um comerciante que não tem só um apego financeiro com isso, o meu apego com as moedas também é muito emocional - explica.
Processo de avaliação
Analisar as moedas que chegam, entender sua história e precificá- las não é uma tarefa simples, então Belé, que também tem uma coleção em casa, conta com algumas ferramentas para ajudá-lo.
Um microscópio digital que amplia a visualização de objetos em até mil vezes, paquímetro, luvas e catálogos com os valores. Todos os itens ficam em sua bancada na hora de realizar a minuciosa avaliação.
- Creio que todo mundo tem um lugar em que não sente dor. Se está passando por um problema, vai lá fazer uma costura, ou algum outro hobby, em que não lembra das dificuldades, onde esquece do mundo. E as moedas são esse espaço para mim. Eu passo quatro, cinco horas analisando alguma e, quando olho no relógio, penso: nossa, achei que só tinham se passado 10 minutos - descreve Belé. _
Produção: Elisa Heinski - Antigas, nem sempre raras
E para quem pensa que basta a moeda ser antiga para que seja considerada rara - e valha bastante - Belé explica que não é bem por aí. Existem diversas variantes para que um item numismático custe mais caro. No caso das moedas, as principais são a quantidade de cunhagens e o estado de conservação.
Cunhagem é o processo que grava os desenhos nas faces das moedas. É realizado na Casa da Moeda do Brasil. Quanto menor a quantidade de moedas daquele tipo específico cunhadas, mais raras elas são, portanto, valem mais.
Além disso, existem alguns indicadores de conservação das moedas. Entre eles estão, em ordem: MBC (muito bem conservada), SOB (soberba), que ainda tem o brilho da cunhagem, e FC (flor de cunho), impecável.
Para contabilizar todas essas variações, os catálogos são uma parte muito importante do trabalho. Existem diversos disponíveis. Um dos que Belé usa é o Livro das Moedas do Brasil, que precifica moedas desde 1643 até 2024.
Pequenas variações das moedas são apresentadas nesses livros. A quantidade de ramos de uma planta que aparece em alguma, variações no cabelo do monarca representado, tudo isso é contabilizado e organizado.
Por serem itens, normalmente, antigos, muitos dos que Jonas recebe em sua loja têm valor sentimental para os clientes. Ele conta que pessoas já o procuraram querendo vender moedas que eram de seus avós por preço caro, mas que não valiam tanto. Ele aconselha:
- O colecionador não compra sentimento. Eu não posso pagar na tua moeda R$ 2 mil, porque tu tens um sentimento que é do teu avô. Ela no mercado vale R$ 100. Nesse caso, tem que guardar. Guarda e não vende por dinheiro nenhum.
Peças valiosas e também carregadas de história
Uma das moedas mais valiosas que Belé possui na Mundo Numismático tem o rosto da rainha Maria I, de Portugal. A monarca governou o país entre os anos de 1777 e 1815, e o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1815 até sua morte, em 1816. A moeda do colecionador é de 1796 e é a terceira que foi cunhada com o rosto dela. O valor desse exemplar varia entre R$ 7 mil e R$ 12 mil.
O patacão
Outra peça que brilha os olhos dos colecionadores é o famoso patacão. De acordo com o comerciante, o contexto em que essa moeda foi cunhada - ou melhor, recunhada - é o da vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808. Belé conta que uma das moedas que circulava informalmente pela colônia era o 8 reales espanhol. Para padronizar e legitimar sua chegada, dom João VI mandou recolher todos os 8 reales para recunhá-los.
A moeda que Belé tem é de 1825. Com a lupa, ainda é possível ver os resquícios da moeda base. Um patacão vale de R$ 500 a R$ 100 mil. O exemplar que Jonas possui custa cerca de R$ 1,5 mil.
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