sexta-feira, 7 de outubro de 2022


07 DE OUTUBRO DE 2022
CELSO LOUREIRO CHAVES

Música também é construção da sociedade

Na música de concerto, as iniciais "B" e "L" podem significar exatamente o contrário do que significam no Brasil de hoje. Um "B" pode ser humanista, mirando um futuro inclusivo que contemple a todos. Um "L" pode ser autocrático, corroendo a democracia por dentro. Exatamente o contrário das coisas brasileiras neste outubro difícil.

O campo de compositores e compositoras de música de concerto é vasto e, considerando que a tarefa de compor música esteve quase sempre associada a estruturas de poder, não é difícil encontrar músicos com diferentes espectros ideológicos. Afinal de contas, música não é algo desligado das coisas do dia a dia, como se fosse a realidade para um lado, a música para o outro.

Música pode ser um refúgio, isto é óbvio. Até uma válvula de escape, se calhar. Mas música é muito mais nas suas dimensões humanas, no reflexo das condições que nos cercam. Quanto a compositores e compositoras, então, nem se fala. A música que fazem não são apenas reflexos de suas sociedades; na verdade, são a própria construção de suas sociedades.

Não é difícil encontrar um "B" progressista e um "L" autocrata na música de concerto. "B" de Beethoven, por exemplo, que, a partir do princípio do poeta Schiller, levou a arte sempre adiante. Beethoven mirou o futuro da música e dos músicos, num esforço social para além dos limites pessoais. Para esse "B" da música, a inclusão humanista e democrática foi caminho obrigatório. Não é o caso do Brasil, comparando o "B" da música com o "B" da nossa polarização.

Também não é difícil encontrar um "L" autocrático, ainda mais um que tenha conquistado os favores de ninguém menos do que Luís XIV na França dos 1600. Depois que ganhou a exclusividade de apresentar óperas em Paris, então, não teve mais para ninguém. Só deu Jean-Baptiste Lully no palco, reproduzindo na música as inclinações autocráticas do rei, impedindo qualquer exercício de diversidade. Ou seja, a antítese do "L" deste outubro brasileiro.

É divertido fazer estas analogias disparatadas, encontrar contradições entre a música e o hoje. Pois o nosso "B" é Lully, o nosso "L" é Beethoven. Vá entender. Ouvindo a música de cada um deles é um tanto difícil identificar suas ideologias. No entanto, basta saber que elas existem para descobrir, em música, quem é quem. Então, está aí a trilha sonora para este outubro: Beethoven "L" de um lado e sempre, Lully "B" de outro e bem longe.

CELSO LOUREIRO CHAVES

Um comentário:

nana disse...

ahhhhh vc podia fazer melhir que isso masssssssss enfim é o que vc tem pra dizer ... que pena ! é pífio