segunda-feira, 25 de julho de 2022


25 DE JULHO DE 2022
CARPINEJAR

Onde está a advogada?

Não sei você, mas eu estou apreensivo com o desaparecimento da advogada Alessandra Dellatorre, de 29 anos. Não há sinal dela desde o início da tarde de sábado (16), quando saiu para caminhar em São Leopoldo, no Vale do Sinos.

Não sou familiar, não a conheço, apenas me bateu o desespero íntimo de que o sumiço poderia ter acontecido com quem eu amo. Afinal, a minha filha tem a mesma idade. A tragédia cria vínculos imediatos quando nos imaginamos no lugar aflitivo dos parentes sem notícias.

Eu assisti ao vídeo dos seus pais clamando por qualquer informação capaz de renovar a investigação. É desolador o chamado deles: "Existem um pai e uma mãe que estão sem ar, sem chão, sem vida, somente Deus está nos segurando neste momento".

Já antevejo o pior e, dentro do realismo noticioso, acalento uma secreta esperança de que seja encontrada viva, de que ficou desmemoriada ou mesmo de que deixou tudo para trás num surto de mudança repentina de personalidade. Prefiro uma anormalidade psicológica a admitir que foi vítima de um homicídio ou abuso. Latrocínio está descartado, pois não carregava nada de valor. A ausência de contato para resgate também derruba a tese de sequestro. Suicídio é uma opção controversa, já que não há corpo nem uma carta de adeus.

Entendo que, a cada dia que passa, o sopro do otimismo torna-se ainda mais débil. Gostaria que a Polícia Civil retomasse as buscas, suspensas desde terça-feira, e não desistisse de circular com a sua equipe pelo Matão, no limite com Sapucaia do Sul. A simples procura ativa mantém a nossa fé de pé.

Morei durante treze anos em São Leopoldo e já repeti muitas vezes o seu percurso das avenidas Unisinos e Theodomiro Porto da Fonseca. Conheço os lugares, frame por frame, por onde ela passou, registrados pelas câmeras de segurança.

Alessandra saiu de sua casa, no bairro Cristo Rei, para atividade física, e não levou celular nem outro tipo de acessório ou documento. Era o seu costume permanecer off-line, despojada, para arejar a cabeça das preocupações e das chamadas urgentes da rotina. Quantos de nós já não reproduziram a cena, para combater o sedentarismo e suar um pouco unicamente com roupas esportivas e um tênis? Jamais cogitamos a possibilidade de uma desaparição forçosa e repentina.

O que me intriga é que ela mudou o seu trajeto habitual e entrou na mata. O que ela queria? Foi ver alguém? Quem? Ou foi movida apenas pela curiosidade de ampliar os seus espaços verdes de caminhada?

Alessandra virou subitamente minha filha, minha amiga inesperada do medo. Acordo sempre ansioso por um aviso, por uma pista.

Só não quero que os cães farejadores a localizem primeiro. Que na nossa história policial tenhamos um resgate de alguém são e salvo depois de um longo desaparecimento. Seria um milagre. Estamos carentes de milagres.

CARPINEJAR

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